A Guerra da Água
Diante da reação negativa, Banzer chegou a recuar temporariamente da ideia. Mas no início do ano 2000, o Banco Mundial declarou que não renovaria um empréstimo de 25 milhões de dólares à Bolívia caso o serviço de abastecimento de água não fosse privatizado. Banzer concordou então com a condição, assinando um contrato que repassava a distribuição de água para a iniciativa privada por 40 anos. O contrato foi concedido a uma companhia chamada "Aguas del Tunari", que pertencia a um consórcio de empresas estrangeiras, composto pelas multinacionais estadunidenses Bechtel e Edison e pela espanhola Abengoa SA.
Pouco tempo após a privatização, iniciaram-se as reclamações. Ao lado da deterioração da qualidade do serviço de abastecimento de água, houve um aumento sem precedente dos custos. As contas de água chegaram a subir em média até 300% em menos de um ano. Muitas pessoas foram forçadas a retirar seus filhos de escolas e parar de agendar consultas médicas particulares em função do aumento das contas de água, inviáveis para o orçamento da grande maioria dos bolivianos.
Em consequência da insatisfação generalizada, uma revolta popular alcunhada de "Guerra da Água" eclodiu em Cochabamba, a terceira maior cidade da Bolívia. Os protestos duraram vários meses e logo se espalharam por todo o país. O governo Hugo Banzer reprimiu violentamente o levante popular, declarando estado de sítio, fechando várias estações de rádio e prendendo os líderes dos movimentos. Um adolescente de 17 anos foi morto pela polícia durante os protestos e centenas de cidadãos ficaram feridos. Mesmo com a repressão governamental e a decretação do toque de recolher, a agitação social prosseguiu, agravando a crise econômica do país.
Com a Bolívia à beira de um colapso econômico e os conflitos incessantes, o governo de Banzer desistiu da privatização, anulando o contrato de concessão firmado com a Bechtel. A empresa iniciou um processo legal contra o governo boliviano, exigindo compensações no valor de 25 milhões de dólares. A batalha legal se arrastou por seis anos e atraiu a atenção de diversos movimentos anticapitalistas e anticorrupção do mundo inteiro. O episódio é narrado no documentário canadense "The Corporation", de 2003. Seis anos depois, a Bechtel e seus parceiros internacionais desistiram da ação.
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