A saúde nos Estados Unidos (I)
Lápides com os nomes de estadunidenses que morreram em decorrência de diabetes não tratada são posicionadas nos jardins do Capitólio Estadual de Utah, durante um protesto de pacientes dependentes de insulina. A maioria eram jovens na casa dos vinte anos. Salt Lake City, setembro de 2019.
A incidência de diabetes na população norte-americana é considerada epidêmica, atingindo 24 milhões de pessoas (ou 8% da população). Desse total, 1,2 milhão são portadores de diabetes tipo 1 - doença crônica autoimune que só pode ser controlada por meio de múltiplas injeções diárias de insulina. Apesar disso, um em cada quatro estadunidenses diagnosticados com diabetes não tem acesso a nenhum tipo de tratamento. Isso porque a lógica do lucro que pauta o sistema de saúde norte-americano obriga os diabéticos a optarem pela ruína financeira ou pela morte.
A economia mais pujante do mundo é também um dos únicos três países do continente americano que não oferecem tratamento médico gratuito para diabéticos em seus sistemas públicos de saúde. Os outros dois são o Haiti e o Suriname. Grande parte dos estadunidenses encontram-se em um limbo assistencial. Ao mesmo tempo em que não têm renda suficiente para contratar planos de saúde particulares, também não preenchem os requisitos para se enquadrarem nos programas governamentais de subsídio de medicamentos. Assim, precisam arcar por conta própria com o custo do tratamento de diabetes, que pode ultrapassar os 1.300 dólares por mês (quase 7.000 reais mensais).
Não existe insulina genérica nos Estados Unidos - e o governo não tem qualquer política de intervenção junto aos laboratórios privados para impedir preços abusivos. As grandes farmacêuticas são livres para explorar as margens de lucro que acharem mais adequadas. Um frasco com 10 ml de insulina, fabricado a um custo médio de 5 dólares, é vendido em média por 300 dólares nos Estados Unidos. O preço do medicamento triplicou em uma década. No acumulado de 20 anos, o aumento foi de quase 700%.
Os preços praticados tornam a insulina inacessível até mesmo para parte da classe média. Com isso, os estadunidenses não conseguem manter tratamentos adequados. Alguns racionam o uso da insulina, tomando menos doses do que o mínimo recomendado, enquanto outros se arriscam comprando medicamentos mais baratos de origem duvidosa, fabricados clandestinamente. Os mais pobres, entretanto, não tem outra opção além de não se tratarem - e morrerem cedo.
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