Amílcar Cabral

Amílcar Cabral e guerrilheiros do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC). Intelectual e revolucionário marxista guineense, Amílcar Cabral foi o comandante da Guerra de Independência da Guiné-Bissau e um dos maiores ícones do movimento anticolonial africano.

Nascido em 12 de setembro de 1924 em Bafatá, na então colônia portuguesa de Guiné-Bissau, Amílcar Cabral mudou-se para Cabo Verde ainda na infância. Após concluir o ensino básico no Liceu Gil Eanes, em Mindelo, fixou-se na cidade de Praia, trabalhando na Imprensa Nacional. Em 1945, após obter uma bolsa de estudos do Instituto Superior de Agronomia de Lisboa, partiu para a Europa para cursar Engenharia Agronômica. Na capital portuguesa, Cabral se envolveu nas reuniões de grupos antifascistas, fundando movimentos estudantis de oposição ao regime ditatorial de Salazar e de promoção à causa da independência das colônias portuguesas na África.

Retornou a Guiné-Bissau em 1952 e tomou parte do Recenseamento Agrícola conduzido no ano seguinte, ocasião em que teve contato com a miséria e a injustiça social que afligiam o povo guineense. Seu ativismo político lhe granjeou a antipatia do governador da colônia, Melo Alvim, que o obrigou a exilar-se em Angola, onde Cabral conheceu as lideranças do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), em especial Agostinho Neto. Em 1959, juntamente com seu irmão, Luís Cabral, fundou o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), organização clandestina destinada à coordenar a luta pela emancipação política das colônias portuguesas.

Ainda em 1959, o PAIGC coordenou uma grande greve de trabalhadores do porto de Pidjiguiti, duramente reprimida pelo governo colonial, resultando na morte de 50 manifestantes. Quatro anos depois, o partido saiu da clandestinidade, estabelecendo uma delegação no país vizinho, Guiné-Conacri. Em janeiro de 1963, teve início a luta armada contra o domínio colonial de Portugal, tendo como marco inicial o ataque ao Quartel de Tite, no sul da Guiné-Bissau.

Com o apoio de Kwame Nkrumah, Cabral montou diversos campos de treinamento de guerrilha em Gana e coordenou com eficácia um esforço de cooptação das lideranças tribais em apoio ao PAIGC. Também empreendeu uma série de medidas para angariar o apoio da população guineense: treinou os guerrilheiros em técnicas agronômicas para que pudessem arar os campos e aumentar a produtividade dos territórios conquistados, montou hospitais de campanha que atendiam a população em geral e criou bazares itinerantes que disponibilizavam produtos básicos a preços inferiores aos praticados pelas lojas ligadas à administração colonial.

Amílcar Cabral comandou as forças autonomistas durante a Guerra de Independência de Guiné-Bissau por uma década, conduzindo uma das mais bem sucedidas campanhas de independência da história africana moderna. Resistiu a todas as contraofensivas de Portugal, incluindo a fracassada Operação Mar Verde, coordenada em 1970 pelo governo colonial de Guiné-Bissau, com o objetivo de eliminar os líderes do PAIGC, então aquartelados em Conacri. Conseguiu também cooptar apoio internacional à causa independentista, recebendo auxílio financeiro, logístico e militar da União Soviética, de Cuba e da Suécia. Em 1970, obteve apoio do Papa Paulo VI, que o recebeu em uma audiência privada. Em 1972, Cabral começou a formar uma Assembleia Popular em preparação para a independência da Guiné-Bissau.

Em 20 de janeiro de 1973, Amílcar Cabral foi assassinado a tiros em Conacri, em um atentado coordenado por Inocêncio Kani, um dissidente do PAIGC. A motivação do atentado, por vezes atribuída à ingerência estrangeira, permanece obscura até os dias de hoje. A morte de Cabral, entretanto, resultou na intensificação da luta armada e, no ano seguinte, em 24 de setembro de 1973, a independência de Guiné-Bissau foi proclamada unilateralmente. Seu irmão, Luís de Almeida Cabral, foi nomeado como primeiro presidente do país. Portugal reconheceria a independência de Guiné-Bissau no ano seguinte, em 25 de abril de 1974, após o regime ditatorial do Estado Novo ser deposto pela Revolução dos Cravos.

Amílcar Cabral é considerado um dos maiores teóricos revolucionários do século XX, sendo frequentemente comparado a Che Guevara e Frantz Fanon. Fidel Castro o definiu como "um dos mais lúcidos e brilhantes líderes africanos (...) cuja influência reverberou muito além do continente africano".

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