Elisa Branco


A brasileira Elisa Branco é condecorada com o Prêmio Lenin da Paz. Moscou, União Soviética, dezembro de 1952.

Após a instalação oficial de um regime socialista alinhado à União Soviética na Coreia do Norte em 1948, os Estados Unidos começaram a incitar uma intervenção armada na península. Para revestir suas ações com a aparência de legitimidade internacional, as autoridades estadunidenses começaram a pressionar os países sob sua influência a cederem tropas para lutar na Coreia. O governo brasileiro, então comandado pelo general Eurico Gaspar Dutra, fazia jus à sua fama de subserviência aos interesses estadunidenses, concordando com o envio de soldados para auxiliarem na intervenção. Dutra chegou a fazer um pronunciamento em rádio nacional defendendo o envio de tropas brasileiras para a Guerra do Coreia - posição endossada pela maioria dos membros da chamada ala liberal do governo, mas criticada pela ala nacionalista.

Não obstante, a maior opositora da participação brasileira no conflito foi Elisa Branco, uma costureira do interior de São Paulo. Nascida em Barretos em 29 de dezembro de 1912, Elisa era admiradora de Luís Carlos Prestes, militante do Partido Comunista do Brasil (antigo PCB) e filiada à Federação das Mulheres de São Paulo. Muito atuante no Movimento Brasileiro dos Partidários da Paz, Elisa participou das campanhas de conscientização popular, explicando à população os motivos pelos quais o Brasil não deveria enviar seus soldados para morrer em um conflito que não dizia respeito a nenhum interesse nacional. Em 1948, ela integrou a Campanha pela Paz Mundial, colhendo assinaturas na Praça do Patriarca, na capital paulista. Vigiada pelo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), Elisa foi presa nesse mesmo ano, enquanto participava do I Congresso dos Trabalhadores Têxteis do Estado de São Paulo.

Posta em liberdade, ela voltaria a militar contra a participação brasileira no conflito. No feriado de 7 de setembro de 1950, ela organizou um grande protesto contra o envio de tropas brasileiras para a Guerra do Coreia no Vale do Anhangabaú. Diante do palanque oficial do cortejo do Dia da Independência, Elisa abriu uma faixa com os dizeres "Os soldados nossos filhos não irão para a Coreia". Por conta disso, Elisa foi novamente presa e condenada por um Tribunal Militar a uma pena de cinco anos de reclusão no Presídio Tiradentes.

Dentro da prisão, Elisa passou a alfabetizar as detentas, além de ensinar corte e costura, higiene pessoal e noções de política. Ao mesmo tempo, sua detenção foi vista como injusta pela população, que passou a aderir às campanhas contra a Guerra da Coreia e a favor de sua libertação. Manifestações reunindo milhares de populares começaram a ocorrer em várias cidades do Brasil, sempre entoando o grito de guerra "nossos jovens não irão para a Coreia". Surpreendido pela reação negativa da sociedade, o governo Dutra recuou e desistiu da ideia de enviar tropas para lutarem na Guerra da Coreia, limitando-se a fornecer insumos aos estadunidenses no decorrer do conflito. Elisa Branco foi libertada da prisão em 1951, após um pedido de habeas corpus de um advogado do PCB ser aceito pela justiça.

Elisa foi internacionalmente aclamada por suas ações, vistas como heroicas, corajosas e inspiradoras. Em dezembro de 1952, em uma cerimônia no Palácio do Kremlin, em Moscou, o governo da União Soviética condecorou Elisa com o Prêmio Lenin da Paz, reservado às pessoas de todo o mundo que contribuíram para a paz entre os povos.

Elisa seguiria fiel às suas convicções pelo resto de sua vida. Em 1964, ela foi novamente presa, em um protesto contra o golpe militar. Em 1971, sofreu nova prisão por se manifestar contra o regime. No ano 2000, ela participou da fundação do Partido Comunista Marxista-Leninista. Faleceu em São Paulo em 8 de junho de 2001, aos 88 anos de idade.

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