Esquerda x Direita x Centro: Qual é a origem das denominações dadas aos espectros políticos?

Tudo começou com a Revolução Francesa - período de intensa agitação política e transformações que moldaram boa parte do mundo de hoje. Problemas sociais, crises econômicas e a difusão das ideias iluministas alimentaram a insatisfação popular em relação à monarquia e o ressentimento contra a aristocracia francesa. Para discutir a crise econômica e política do reino, convocou-se a Assembleia dos Estados Gerais, marcada para 5 de maio de 1789.

Os Estados Gerais consistiam nas três classes sociais em que a sociedade francesa estava dividida. O Primeiro Estado era o Alto Clero, composto por autoridades eclesiásticas que representavam 0,5% da população. O Segundo Estado era a Nobreza, formado pela monarquia e pelos aristocratas, cortesãos e palacianos, que respondiam por 1,5% dos franceses. O Terceiro Estado, explorado pelos outros dois, representava o grosso da população - 98% dos franceses, incluindo os burgueses, os camponeses sem terra e os "sans-culottes" (uma camada heterogênea composta por artesãos, aprendizes, proletários, etc.).

Mesmo representando a maioria absoluta da população, o poder político do Terceiro Estado era solapado pela convergência dos votos do Clero e da Nobreza, unidos pela manutenção dos seus privilégios. Assim, o Terceiro Estado criou sua própria Assembleia Nacional, que evoluiria para se tornar uma Assembleia Constituinte.

É na Assembleia Nacional que surgem essas definições. À direita da presidência da Assembleia, sentavam-se os representantes do Clero e da Monarquia, além dos Girondinos - como eram denominados os representantes da alta burguesia. À esquerda da presidência, ficavam os Jacobinos (a pequena burguesia revolucionária, liderada por Robespierre, Marat e Danton), além dos "sans-culottes" e representantes do Terceiro Estado. Ao centro, se situava o chamado "Pântano" - um grupo de burgueses sem posição política definida.

Assim, a expressão "direita política" passou a caracterizar a posição ideológica associada ao conservadorismo, à manutenção do status quo e à defesa dos interesses da alta burguesia e da elite econômica. A expressão "esquerda política", por sua vez, passou a ser associada ao pensamento progressista, ao apoio às mudanças políticas e sociais e à defesa dos interesses das camadas mais populares da sociedade. Por fim, o "centro político" seria o espectro intermediário, defendendo ora ideias conservadoras, ora ideias progressistas.

Ao longo dos últimos dois séculos, essas definições adquiriram maior complexidade e ambiguidade, permitindo que determinadas ideologias possam se encaixar em um ou outro espectro político concomitantemente dependendo do contexto ou do recorte analisado. É o caso do liberalismo, que surgiu com algumas proposições relativamente próximas da esquerda política, mas que com o tempo, e principalmente após a consolidação do socialismo, perfilou-se progressivamente em relação à direita.