O Experimento de Willowbrook
O Experimento de Willowbrook é considerado um dos estudos científicos mais antiéticos da história dos Estados Unidos. Entre as décadas de cinquenta e setenta, milhares de crianças pobres e portadoras de problemas mentais foram usadas como cobaias humanas e deliberadamente infectadas com hepatite, como parte de pesquisas secretas sobre a doença.
Localizada em Staten Island, na cidade de Nova York, a Escola Pública de Willowbrook era um internato para crianças portadoras de deficiência intelectual. Na década de 1960, a escola chegou a ter mais de 6.000 alunos, sendo considerada a maior instituição para pessoas com transtornos psiquiátricos dos Estados Unidos.
Desde os anos 50, a escola já estava superlotada e era alvo frequente de reportagens na imprensa norte-americana, relatando abusos e más condições de higiene. Após uma visita à escola, o senador Robert Kennedy relatou que as crianças estavam "vivendo em meio à imundície e à sujeira, vestindo trapos, dormindo em quartos menos confortáveis e menos alegres do que as gaiolas nas quais colocamos animais em um zoológico". Apesar disso, a escola - única instituição pública na região a acolher crianças com deficiências mentais - seguia sendo muito procurada por famílias carentes, que não tinham condições de pagar por tratamentos particulares.
As péssimas condições sanitárias resultaram em um surto de hepatite A entre os internos da escola. Isso atraiu a atenção de pesquisadores como Saul Krugman (Universidade de Nova York) e Robert W. McCollum (Universidade de Yale) que se dedicavam a estudar a hepatite e os efeitos da gama globulina no combate à moléstia. Visando observar e compreender a diferença da evolução entre a hepatite sérica e a hepatite infecciosa e a resposta das duas modalidades da doença aos mesmos tratamentos, os pesquisadores passaram a utilizar as crianças, portadoras de problemas mentais, como cobaias. Milhares de alunos da Escola Pública de Willowbrook foram infectados propositalmente com o vírus da hepatite B. Uma parcela considerável das crianças não recebeu qualquer tipo de tratamento. Com a progressão da doença sem tratamento ou notificação aos pais, centenas de crianças ficaram com sequelas graves e outras tantas morreram.
Nos anos 70, após a morte em série de diversos internos, os pais começaram a procurar a imprensa e as autoridades públicas. Informações sobre o uso dos alunos nas pesquisas sobre hepatite vazaram, chocando a opinião pública e provocando uma série de protestos. A pesquisa foi descontinuada e o governo de Nova York anunciou que encerraria gradualmente as atividades da escola a partir de 1983. A revelação dos métodos hediondos utilizados pelos pesquisadores de Willowbrook influenciou o surgimento dos primeiros códigos de ética em pesquisas com crianças e deficientes mentais nos Estados Unidos.

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