O lado B do dia D: o estupro em massa de francesas por soldados estadunidenses
De "O Mais Longo dos Dias" até "O Resgate do Soldado Ryan", poucos episódios da Segunda Guerra Mundial são tão heroicizados pela indústria cultural do Ocidente quanto o desembarque dos militares estadunidenses em solo francês no chamado "Dia D". Bem menos comentados, encobertos por narrativas fantasiosas e açucaradas de Hollywood, são os estupros em massa de francesas cometidos por esses soldados após a chegada na Europa.
A incitação ao estupro das francesas começava já no recrutamento das tropas. Na propaganda da imprensa estadunidense, visando atrair o maior número possível de homens, a missão no Velho Continente era retratada como uma aventura erótica num paraíso habitado por mulheres lindas e sedentas por retribuir sexualmente os seus "salvadores". A revista Life, uma das mais importantes publicações à época, chegou a afirmar literalmente em uma publicação que "a França é um tremendo bordel habitado por 40 milhões de hedonistas que passam o tempo todo comendo, bebendo e fazendo amor". Já o jornal oficial das tropas estadunidenses, Stars and Stripes, trazia em suas páginas fotos de francesas beijando soldados. Livretos de frases úteis em francês entregues aos G.I. incluíam sentenças como "você é muito bonita" e perguntas do tipo "seus pais estão em casa?".
Dezenas de milhares de francesas foram estupradas. Os estupros e a intimidação ocorriam à luz do dia, em parques, cemitérios, entre os destroços das casas obliteradas, nas vias públicas. O estupro de francesas foi recorrente ao ponto de gerar um adágio, muito comum à época entre os franceses: "quando os alemães vieram nos dominar, tivemos que esconder os homens, mas agora que os americanos vieram nos libertar, temos que esconder as mulheres". A indignação dos franceses com o comportamento dos "aliados" estadunidenses foi generalizada e as autoridades e civis exigiam providências. Mas quase nada foi feito. Os oficiais protegiam seus soldados (sobretudo os brancos) e raríssimos casos foram punidos - geralmente os casos mais graves, com uso de violência extrema e abundância de provas materiais e testemunhas. Foram abertos apenas 153 processos por delitos sexuais, com 29 soldados sendo enforcados por estupro, 77% dos quais negros.
Se a aliada França teve esse tratamento, algo muito mais sombrio aguardava a Alemanha após a derrota nazista. O número de alemãs estupradas por soldados estadunidenses é estimado em 190 mil. Somando-se a esses os estupros cometidos por soldados britânicos e franceses, o total chega a quase um milhão de vítimas. Estima-se que quase 5% de todas as crianças nascidas na Alemanha no primeiro ano do pós-guerra foram concebidas em estupros cometidos pelos três aliados ocidentais.
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