Reescrevendo a história


Reescrevendo a história: a bem-sucedida campanha de 70 anos para convencer as pessoas de que foram os Estados Unidos - e não a União Soviética - que derrotaram Hitler:

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Francês de Opinião Pública (IFOP) poucas semanas após o fim da Segunda Guerra Mundial na Europa demonstrou que, em maio de 1945, a maioria dos franceses achava que a União Soviética era o país que mais havia contribuído com a derrota da Alemanha Nazista. Nas sondagens realizadas em 1994 e 2004, entretanto, a maioria dos franceses havia mudado de ideia e agora creditavam aos Estados Unidos o papel de principal responsável pela derrota dos nazistas.

A alteração do entendimento dos franceses reflete não apenas o efeito do distanciamento histórico na percepção da contribuição dos aliados, mas sobretudo o efeito massivo da propaganda da mídia enfocando o papel dos Estados Unidos como responsáveis por derrotar as forças nazistas. Filmes, revistas em quadrinhos, livros, documentários, séries e a indústria cultural em geral, além do jornalismo e das publicações acadêmicas, supervalorizaram o papel dos Estados Unidos no conflito ao longo das últimas décadas, ao mesmo tempo em que esconderam ou ignoraram a participação soviética.

O posicionamento de alguns membros do governo dos Estados Unidos sugere que o papel da indústria cultural e da mídia de massa para reescrever a percepção da história não é mero acaso - e tem intenções políticas e ideológicas pouco disfarçadas. Em 28 de janeiro de 2020, em pleno Dia de Lembrança do Holocausto, a Embaixada dos Estados Unidos na Dinamarca postou um tuite parabenizando erroneamente os soldados estadunidenses por libertaram os judeus do campo de concentração de Auschwitz - fato muitas vezes retratado na indústria do entretenimento, mas absolutamente falso. Foram os soldados soviéticos que libertaram não apenas Auschwitz, mas a maioria dos campos de concentração e extermínio nazistas. Nos discursos oficiais realizados pelas autoridades estadunidenses nos últimos anos, as forças armadas dos Estados Unidos e do Reino Unido costumam ser parabenizadas, ao passo que os militares soviéticos/russos não são sequer citados.

A União Soviética é, de longe, o país que mais empregou recursos humanos para derrotar os nazistas. Nove em cada dez soldados nazistas tombados durante o conflito foram abatidos pelo Exército Vermelho. Nenhuma outra nação lutou em tantas frentes, em tantas batalhas e perdeu tantos soldados no esforço de guerra. Estima-se que aproximadamente 15% da população soviética morreu no conflito. Em números absolutos, a União Soviética perdeu doze vezes mais soldados na Segunda Guerra do que os Estados Unidos. Não obstante, os estadunidenses parecem seguir a risca a ideia de que se não é possível mudar o passado, é possível manipular a percepção das pessoas aliando propaganda e ignorância e vendendo revisionismo histórico como entretenimento.

Fonte: https://www.les-crises.fr/the-successful-70-year-campaign-to-convince-people-the-usa-and-not-the-ussr-beat-hitler/

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