Terror Lilás
Manifestação da comunidade LGBT estadunidense em frente à Casa Branca, em protesto contra a perseguição governamental durante o período do "Terror Lilás". Washington, DC, 19 de maio de 1965.
O termo "Terror Lilás" refere-se a um pânico moral e a uma política de repressão aos homossexuais instituída pelo governo dos Estados Unidos a partir da década de 1940. O "Terror Lilás" transcorreu de forma paralela à chamada "Ameaça Vermelha" - a histérica campanha anticomunista liderada pelo senador Joseph McCarthy, que resultou em perseguição política e violações dos direitos civis de pessoas suspeitas de serem simpatizantes do comunismo.
Insuflado pelo reacionarismo de congressistas eleitos com pautas moralistas e forte lobby de pastores evangélicos, o governo dos Estados Unidos passou a naturalizar discursos de ódio contra gays e lésbicas, rotulando-os como "forte ameaça à segurança nacional" e vinculando-os ao comunismo. A descriminalização da homossexualidade após a Revolução Russa (revertida no fim dos anos trinta), os estudos Grigorii Batkis afirmando que a homossexualidade era uma expressão natural da sexualidade humana e a homossexualidade assumida de Georgy Chicherin, que ocupou a chefia da pasta das relações exteriores da União Soviética por mais de uma década, serviram como argumentos para que lideranças religiosas e políticos conservadores estadunidenses tentassem associar homossexualidade e comunismo, de forma a convencer a opinião pública a rejeitar ambos.
A perseguição do governo estadunidense contra a população LGBT intensificou-se nos anos cinquenta, quando a legislação federal passou a descrever homossexuais como "subversivos", "doentes", "criminalmente insanos", "moralmente depravados" e uma "ameaça ao estilo de vida americano". Difusão de notícias falsas e teorias da conspiração para alarmar a população e contrapor a opinião pública aos homossexuais eram frequentes. Pesquisadores, médicos e cientistas que desmentissem a correlação entre comunismo, homossexualidade e desequilíbrio psicológico tornaram-se alvos do governo.
Iniciou-se uma verdadeira "caça às bruxas" junto à população, paralelamente a um expurgo contra homossexuais no governo. Funcionários públicos homossexuais eram sumariamente demitidos ou presos. Mais de 200 mil servidores, sobretudo das Forças Armadas, foram encarcerados - 250 vezes o contingente de homossexuais cubanos detidos nas UMAPs nos anos sessenta. Cidadãos comuns "acusados" ou "suspeitos" de serem homossexuais passaram a ser delatados, fichados, perseguidos, compulsoriamente internados, presos e até linchados. Nos anos sessenta, nove estados estadunidenses aprovaram o uso de castração química para punir homossexuais.
A intensificação da perseguição aos homossexuais estimulou o nascimento dos movimentos de defesa dos direitos da população LGBT na segunda metade da década de cinquenta. Politicamente organizado, o movimento LGBT passou a fazer forte oposição à campanha de perseguição do governo, conseguindo obter proteção legal e avanços civis de grande importância dos anos sessenta em diante.
Malgrado os avanços, o Terror Lilás deixou profundas marcas na sociedade estadunidense - notadamente, nas Forças Armadas, onde o ingresso de homossexuais continuaria proibido por muitas décadas. A política de investigação da vida sexual de funcionários públicos também permaneceria como norma em algumas localidades até a década de 1990. Em diversos estados, a homossexualidade era proibida por lei até 2015, quando um julgamento da Suprema Corte definiu jurisprudência sobre o assunto. Apesar disso, sete estados seguem possuindo leis anti-homossexuais em vigor até os dias de hoje. Em 2017, o Departamento de Estado pediu desculpas formais à população LGBT pela perseguição do Estado durante o "Terror Lilás".
Comentários
Postar um comentário