Virgílio Gomes da Silva
Virgílio Gomes da Silva, metalúrgico, sindicalista e guerrilheiro brasileiro, destacou-se por sua atuação na luta armada contra a ditadura militar. Virgílio foi a primeira pessoa a ter sua morte confirmada pelas forças da repressão ditatorial.
Virgílio nasceu em 15 de agosto de 1933 em Sítio Novo, no interior do Rio Grande do Norte. Quando ainda era criança, mudou-se com a família para o Pará, onde seus pais trabalharam em um seringal pertencente à companhia estadunidense Ford. Aos 11 anos, retornou para sua cidade natal com sua mãe e dois irmãos, passando a viver da agricultura de subsistência em um pequeno lote de terra. O pai permaneceria no Pará com uma de suas irmãs e nunca mais daria notícias.
Em 1951, Virgílio se mudou para São Paulo, em busca de melhores condições de vida. Na capital paulista, morou em uma pensão e teve inúmeras ocupações - trabalhou como garçom, balconista, mensageiro e até tentou montar um bar. Em 1957, mudou-se com os irmãos para uma casa em São Miguel Paulista, na Zona Leste de São Paulo, e começou a trabalhar como metalúrgico na Nitro Química, uma indústria do Grupo Votorantim. Nesse mesmo ano, Virgílio se filiou ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) e adentrou no movimento sindical, atuando junto ao Sindicato dos Químicos e dos Farmacêuticos de São Paulo.
Em 1963, Virgílio liderou uma greve de 3.000 operários, reivindicando a instituição do 13º salário para os funcionários da Nitro Química. Pouco tempo depois, ao tentar organizar uma reunião com os trabalhadores de uma fábrica da Luftfalla, Virgílio foi gravemente ferido por um dos dirigentes da empresa. O incidente gerou um tumulto que escalonou para uma confrontação aberta entre os operários da fábrica e a polícia. Visando preservar sua integridade física, o sindicato passou a manter Virgílio exclusivamente ocupado em atividades internas. Após o golpe militar de 1964, Virgílio foi preso durante duas semanas. Ao perceber que estava sendo vigiado pelos militares, o sindicalista fugiu para o Uruguai.
Em 1967, Virgílio travou contato com Carlos Marighella e passou a integrar a Ação Libertadora Nacional (ALN), um grupo armado de resistência à ditadura, adotando o codinome "Jonas". Entre outubro de 1967 e julho de 1968, Virgílio fez treinamento de guerrilha em Cuba e, retornando ao Brasil, passou a compor os quadros do Grupo Tático Armado (GTA). Em setembro de 1969, Virgílio coordenou a estratégia militar da operação que sequestrou o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Burke Elbrick. Bem sucedida, a ação garantiu a libertação de 15 presos políticos brasileiros em troca da soltura do embaixador.
Virgílio foi capturado em São Paulo por agentes da Operação Bandeirantes (Oban) e conduzido para uma dependência das Forças Armadas na Vila Mariana. No local, Virgílio foi submetido a 12 horas seguidas de tortura. Faleceu em decorrência dos maus-tratos em 29 de setembro 1969. Momentos antes de sua morte, disse aos militares: "vocês estão matando um brasileiro". O irmão de Virgílio, Francisco Gomes da Silva, preso dois dias antes, testemunhou tê-lo visto preso, com as mãos algemadas atrás do corpo, sendo brutalmente agredido por um grupo de quinze homens. A esposa de Virgílio, Ilda, foi presa no dia seguinte em São Sebastião e ficou detida por nove meses no Presídio Tiradentes. Três dos quatro filhos do casal também foram presos, levados para o DOPS e posteriormente encaminhados para o Juizados de Menores.
Virgílio foi o primeiro brasileiro a desaparecer após a edição do Ato Institucional Nº. 5 (AI-5) e o primeiro guerrilheiro a ter sua morte confirmada pelos agentes do regime militar. O exército primeiramente forjou uma certidão de óbito em que caracterizava sua morte como resultante de "resistência à prisão". Depois, mudou a versão para "desaparecimento". Laudos cadavéricos demonstraram a existência de escoriações, hematomas em órgãos internos e afundamento do osso frontal do crânio. Registros documentais do exército revelam que Virgílio foi enterrado no Cemitério de Vila Formosa, mas seu corpo nunca foi encontrado.
Segundo o dossiê "Mortos e desaparecidos políticos a partir de 1964", produzido em 2016, os torturadores responsáveis pela morte de Virgílio foram "liderados pelo major Inocêncio F. de Matos Beltrão e pelo Major Valdir Coelho, chefes daquele centro de torturas, além dos capitães Benone de Arruda Albernaz, Dalmo Lúcio Muniz Cirillo, Maurício Lopes Lima, Homero Cesar Machado, capitão conhecido como “Tomás”, da PM-SP, delegado Otávio Gonçalves Moreira Jr., sargento da PM Paulo Bordini, agentes policiais Maurício de Freitas, vulgo 'Lungaretti', Paulo Rosa, vulgo 'Paulo Bexiga', e agente do Departamento da Polícia Federal conhecido como 'Américo'."
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