William Randolph Hearst e o Holodomor
William Randolph Hearst, magnata da imprensa estadunidense, conhecido como "o fascista número um da América", reunido com líderes nazistas na Alemanha, em 1934. Hearst é retratado ao centro da foto. À sua esquerda estão Rocker, seu secretário particular, e Alfred Rosenberg, principal teórico da ideologia nazista, encarregado pelo extermínio dos judeus nos territórios do Leste Europeu. À direita, estão Karl Bömer, chefe da divisão de imprensa do Departamento de Política Externa do Reich, e Thilo von Trotha, tenente nazista.
William Randolph Hearst comandou um império jornalístico, responsável por publicar mais de 30 jornais nas principais cidades dos Estados Unidos, incluindo o The San Francisco Examiner, fundado por seu pai, e o The New York Journal . Posteriormente, ele expandiria sua atuação, lançando revistas e criando o maior conglomerado editorial do mundo. Hearst é considerado o "pai do jornalismo marrom", pela farta utilização de sensacionalismo, exageros, imprecisões, manipulações e matérias falsas para alavancar a venda de seus títulos. O magnata serviu de inspiração para Orson Welles criar o nefasto personagem Charles Foster Kane, protagonista do filme "Cidadão Kane".
Hearst era simpatizante do nazi-fascismo, orgulhando-se do epíteto de "o fascista número um da América". Seus jornais publicavam colunas do líder nazista Hermann Göring e do próprio Adolf Hitler, de quem era grande admirador. O líder fascista italiano Benito Mussolini também escreveu regularmente em seus jornais durante vários anos, bem como outros ditadores de extrema-direita da Europa e da América Latina.
Em 1934, Hearst visitou a Alemanha Nazista para se encontrar com Hitler e com o propagandista do Terceiro Reich, Joseph Goebbels. Nessa ocasião, o empresário estadunidense foi informado por Goebbels sobre a campanha de boatos coordenada pelos nazistas na Ucrânia, visando difundir a informação de que a recente crise famélica de 1932/1933 teria sido coordenada intencionalmente por Josef Stalin e pelo governo soviético, com o propósito deliberado de causar um genocídio na Ucrânia - a tese que a extrema direita convencionou chamar de "Holodomor". O objetivo de Goebbels era fomentar uma crise política na União Soviética, causando uma rusga entre Rússia e Ucrânia, de modo a avançar os planos expansionistas alemães. Em "Mein Kampf", Adolf Hitler já preconizava a intenção de anexar o território ucraniano ao "espaço vital" da Alemanha Nazista. Hearst então concordou em colaborar com a campanha antissoviética de Goebbels.
Após retornar para os Estados Unidos, os jornais de Hearst passaram a publicar matérias frequentes sobre o "Holodomor". A maioria dessas matérias são escritas por um homem denominado "Thomas Walker", apresentado como "notável jornalista, viajante e estudioso dos assuntos russos". Os jornais de Hearst apresentavam os artigos de Walker como fruto de jornalismo investigativo colhidos in loco, em primeira mão. Os artigos de "Walker" eram impressionantes, trazendo histórias chocantes de famílias soviéticas canibalizando os próprios filhos, acompanhados por fotografias assombrosas mostrando o desespero das vítimas da fome. Ao mesmo tempo em que demonizava as políticas soviéticas, Walker elogiava o desenvolvimento econômico da Alemanha Nazista.
As histórias de Walker chocaram os estadunidenses, ajudando a fomentar o anticomunismo e o medo da "Ameaça Vermelha". Não obstante, descobriu-se que as histórias eram fraudadas. "Thomas Walker" não existia. Era um pseudônimo utilizado por Robert Green - que não era jornalista, mas sim um presidiário foragido de uma cadeia de Colorado, contratado por Hearst para escrever os artigos. Robert Green nunca havia visitado a Ucrânia. E as fotografias publicadas pelos jornais de Hearst não eram da Ucrânia, mas sim de áreas da Europa devastadas pela Primeira Guerra Mundial ou de vítimas da crise famélica do Volga dos anos vinte.
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