Adela Hernández
A enfermeira Adela Hernández, deputada de Caibarien, um vilarejo pobre da província de Villa Clara. Cuba, abril de 2013.
Adela Hernández foi a primeira pessoa transexual a ser eleita como representante legislativa em Cuba. Ela se candidatou ao cargo de deputada da Assembleia Municipal do Poder Popular de Caibarien em 2012, obtendo maioria relativa dos votos entre os moradores da sua cidade. No segundo turno, venceu a eleição, com mais de 60% dos votos. A Assembleia Nacional do Poder Popular referendou sua candidatura ao congresso nacional em 2013.
A vitória de Adela ajudou a consolidar os direitos da população LGBT em um país onde a homofobia e o conservadorismo religioso, como costuma ocorrer na América Latina, eram a regra até pouco tempo atrás. Seu próprio pai a rejeitou e Adela foi obrigada a sair de casa ainda adolescente. Aos poucos, conseguiu se estabilizar, trabalhando como recepcionista em um hospital, depois como enfermeira e finalmente como técnica de eletrocardiograma. Sua dedicação e profissionalismo no trato com os pacientes valeram a admiração dos moradores de Caibarien, que a incentivaram a se candidatar ao cargo de deputada. Eleita, Adela ajudou a resolver o problema das enchentes e da falta de iluminação pública na cidade. "Meus vizinhos e meus eleitores são minha família", afirmou a parlamentar. "Minha comunidade me aceita como eu sou e essa é a minha vitória. Eu chamo as coisas pelos nomes e vou buscar justiça para eles".
Cuba foi um dos primeiros países latino-americanos a descriminalizar a homossexualidade, em 1979. Em 1981, as autoridades cubanas deixaram de classificar a homossexualidade como uma doença - quase dez anos antes da Organização Mundial da Saúde fazer o mesmo. Nesse mesmo ano, o governo cubano publicou o manifesto "Em Defesa do Amor", em que descrevia a homossexualidade como uma variação saudável da sexualidade humana e argumentava que a discriminação homofóbica era uma atitude inaceitável e contrarrevolucionária, que deveria ser combatida pelo Estado. Em 1986, uma portaria do governo cubano estabeleceu punições mais rigorosas para policiais e agentes públicos que discriminassem homossexuais.
O governo cubano foi um dos primeiros a publicar materiais didáticos de combate à homofobia, em 1988. Também foi um dos primeiros a financiar obras de teledramaturgia protagonizadas por personagens LGBT. Em 1994, Cuba lançou o filme "Morango e Chocolate", dirigida por Tomás Gutiérrez Alea, que tinha um personagem gay como protagonista. Cuba foi um dos primeiros países do mundo a autorizarem a alteração do gênero legal. Em 2008, o sistema público de saúde de Cuba passou a oferecer operações de redesignação sexual e de terapia hormonal. Um relatório sobre Cuba produzido por Carlos Sanchez, representante da Associação Internacional de Gays e Lésbicas, afirmava que não havia repressão institucional à comunidade LGBT no país, elogiando também a maior aceitação das sexualidades não normativas por parte dos habitantes da ilha.
Cuba é hoje o país com a menor incidência de crime contra transexuais nas Américas. No monitoramento de homicídios contra transexuais feito entre 2008 a 2016 pela ONG TransRespect, Cuba registrou três casos de morte de transexuais por homofobia. O Brasil, por sua vez, lidera o ranking mundial de países que mais matam transexuais por homofobia, com 868 assassinatos - quase o triplo do segundo colocado da lista, o México.
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