Agostinho Neto


Agostinho Neto, médico, poeta e revolucionário socialista angolano.

Agostinho Neto nasceu em Ícolo e Bengo em 17 de setembro de 1922, filho de uma professora e de um pastor metodista. Concluiu o ensino básico em Luanda e trabalhou nos serviços locais de saúde antes de partir para Portugal, onde cursou medicina nas universidades de Coimbra e Lisboa. Paralelamente às atividades acadêmicas, envolveu-se com o movimento estudantil, tornando-se um dos fundadores do Movimento dos Jovens Intelectuais de Angola, uma organização autonomista que reivindicava a independência angolana. Acusado de subversão, foi preso pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE), a polícia política do regime de António Salazar.

Após sua libertação, Agostinho fundou o Centro de Estudos Africanos (fechado pelo PIDE em 1951) e foi eleito representante da Juventude das Colônias Portuguesas (JCP) junto ao Movimento de Unidade Democrática, um grupo ligado ao Partido Comunista Português (PCP). Sua militância na JCP lhe rendeu uma nova prisão pela PIDE. Em 1955, foi preso pela terceira vez em função de seu ativismo anticolonial, sendo condenado a dois anos de reclusão e à suspensão de seus direitos políticos por cinco anos. Sua prisão gerou uma grande mobilização internacional de intelectuais em seu apoio, com a participação de Simone de Beauvoir, François Mauriac, Jean-Paul Sartre e Nicolás Guillén, entre outros.

Em 1959, Agostinho retornou a Angola, passando a atuar como médico, atendendo gratuitamente a população desassistida. Retomou a luta anticolonial ligando-se ao Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), mas foi novamente preso em 1960. Pacientes e correligionários de Agostinho organizaram um protesto contra sua prisão, mas foram duramente reprimidos por militares portugueses, no que ficou conhecido como Massacre de Ícolo e Bengo, que resultou na morte de 30 pessoas e em centenas de feridos. Agostinho permaneceu encarcerado por dois anos em instalações prisionais de Cabo Verde e Portugal, mas a pressão da comunidade internacional levaram o governo português a colocá-lo em prisão domiciliar. Aproveitou então a oportunidade para fugir, exilando-se primeiramente no Marrocos, depois no Zaire, Congo e finalmente na Tanzânia.

Em 1963, já na presidência do MPLA, Agostinho liderou a luta pela independência de Angola, propondo o fim das diferenças étnicas e tribais, em contraposição aos outros dois movimentos guerrilheiros anticolonialistas - a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) e a União para a Independência Total de Angola (UNITA). Agostinho também conduziu uma campanha internacional para angariar apoio à causa do MPLA. Em visita aos Estados Unidos, tentou persuadir o presidente John Kennedy a apoiar o movimento, mas o governo norte-americano, privilegiando seus interesses petrolíferos em Angola, recusou-se a colaborar, preferindo aproximar-se da FNLA, liderada pelo anticomunista Holden Roberto. Agostinho aproximou-se então do bloco socialista, travando contato com os líderes de Cuba, China e União Soviética, que se mostraram receptivos à causa independentista. Em 1965, Agostinho se encontrou com Che Guevara e nos anos seguintes travou amizade com Fidel Castro, passando a receber apoio logístico, financeiro e militar de Cuba.

Após assumir a coordenação do núcleo militar do MPLA, Agostinho intensificou a estratégia de guerrilha não convencional, abrindo as frentes de Cabinda e do Leste de Angola. Ao longo de mais de uma década de conflitos, Agostinho conseguiu neutralizar a superioridade numérica e bélica das tropas portuguesas, mantendo parte considerável do território angolano sob seu comando. Com a queda do salazarismo em Portugal e o novo governo progressista instalado após a Revolução dos Cravos, Agostinho assinou o cessar-fogo e o Acordo de Alvor, estabelecendo a paz entre os movimentos guerrilheiros e o governo português. Não obstante, os movimentos autonomistas seguiram lutando entre si. Em 11 de novembro de 1975, com apoio cubano, Agostinho proclamou unilateralmente a independência de Angola e instalou um governo de orientação socialista, embora o país prosseguisse em guerra civil. Agostinho assumiu o cargo de presidente da república, cargo que exerceria até sua morte. Apesar da instabilidade causada pelo conflito civil que se arrastaria por décadas, seu governo iniciou importantes mudanças: expropriou as terras dos antigos colonizadores portugueses e estabeleceu o programa de reforma agrária, instituiu o sistema de saúde gratuito e universal e expandiu a rede de ensino com construção de escolas e universidades. Faleceu em Moscou em 10 de setembro de 1979.

Fundador da República de Angola, Agostinho Neto é homenageado no feriado do Dia do Herói Nacional, celebrado na data do seu aniversário. Em 1975, foi condecorado pela União Soviética com o Prêmio Lenin da Paz. Empresta seu nome à principal universidade de Angola, que lhe concedeu o título de doutor Honoris Causa.

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