Camilo Cienfuegos, o "Comandante do Povo"

Camilo Cienfuegos, o "Comandante do Povo":

Nascido em 6 de fevereiro de 1932 em uma família humilde de Havana, Camilo Cienfuegos nutria desde cedo tinha o sonho de ser escultor. Chegou a se matricular em uma escola de arte, mas, apenas três meses depois, viu-se obrigado a abandonar os estudos para trabalhar e ajudar no sustento da família. Seu primeiro emprego foi como auxiliar de limpeza em uma loja no centro de Havana. Também executava pequenos serviços de alfaiataria para complementar a renda.

Em 1953, Camilo deixou Cuba e partiu para os Estados Unidos, onde se sustentou por dois anos em subempregos, até ser detido pelo Departamento de Imigração e ser deportado, primeiramente para o México e depois para sua terra natal. Nesse meio tempo, Camilo travou contato com uma comunidade de compatriotas exilados do regime do ditador cubano Fulgencio Batista e tomou conhecimento sobre a luta revolucionária que Fidel Castro planejava no México. Foi a partir dessa experiência que ele aprofundou seu interesse por política. Tornou-se opositor de Batista e passou a escrever artigos críticos ao ditador para o jornal "La Voz de Cuba".

De volta a Havana, Camilo frequentou os protestos contra o regime de Batista organizados pelo movimento estudantil. Foi baleado em uma manifestação organizada no aniversário de morte de Antonio Maceo Grajales, herói da independência cubana. Pouco tempo depois, foi preso em um ato em homenagem ao revolucionário José Martí. Irresignado com o autoritarismo do regime de Batista, declararia que "Cuba, custe o que custar, tem que ser livre". Em 1956, decidiu deixar Cuba e partiu para o México, visando se juntar ao Movimento 26 de Julho - o exército rebelde organizado por Fidel Castro. Carismático e extrovertido, Camilo logo se tornou amigo de Fidel e começou a treinar com os rebeldes. Foi um dos 82 revolucionários que partiram para Cuba a bordo do Granma, em novembro de 1956.

Pouco após o desembarque em terras cubanas, Camilo participou do combate contra as forças de Batista em Alegra de Pío. Em Serra Maestra, Camilo assumiu o posto de capitão por seus feitos no campo de batalha, apesar de seu curto treinamento no México. Incorporou-se ao grupo de Che Guevara, exercendo a função de "chefe da vanguarda" do pelotão na Coluna nº 4. Travou importantes batalhas, obtendo sucesso em Bueycito, El Hombrito e Pino del Agua. Em março de 1958, tornou-se o primeiro chefe do movimento revolucionário a avançar com suas tropas para além da Serra Maestra, tomando Llanos del Cauto. Em seguida, venceu os combates em Bayamo e La Estrella. A sequência de êxitos contribuíram para sua ascensão ao posto de comandante da Coluna nº 2. Liderou também a tomada de La Plata, Vega de Jibacoa e Las Mercedes.

Após enfrentar uma série de dificuldades em Camagüey, Camilo obteve uma vitória estratégica que lhe renderia o título de herói popular: em 21 de dezembro de 1958, seus homens cercaram o quartel de Yaguajay, uma das mais importantes instalações militares de Cuba, sob o comando do capitão Abón Lee. O conflito durou dez dias e terminou com a rendição incondicional de Lee. A vitória de Camilo na Batalha de Yaguajay representou um golpe decisivo sobre as forças de Batista. Camilo foi também o primeiro comandante da revolução a ingressar em Havana. Em 2 de janeiro de 1959, seus homens tomaram o Regimento Columbia, símbolo máximo do poder militar de Batista.

Com o triunfo da revolução, Camilo se tornou chefe das forças armadas na província de Havana. Pouco tempo depois, foi nomeado por Fidel Castro como Chefe do Estado Maior do Exército Rebelde. Participou ativamente das primeiras decisões do governo revolucionário e coordenou a reorganização das lideranças do exército. Camilo também criou campanhas de alfabetização para os soldados, organizou a atuação militar no programa de reforma agrária e criou iniciativas para reestruturar o Estado militarizado legado por Batista, convertendo quartéis em escolas. Malgrado a sua expertise como líder militar, Camilo tinha uma personalidade pacífica, rejeitando ideias de violência ou vingança. Durante a guerra revolucionária, ao ser interpelado por uma organização maçônica cubana sobre o status dos prisioneiros de guerra, Camilo respondeu:

"Sob hipótese alguma nos colocaríamos no mesmo nível moral daqueles contra quem estamos lutando. Não podemos torturar e assassinar prisioneiros à maneira de nossos oponentes; não podemos, como homens de honra e como cubanos dignos, usar os procedimentos baixos e indignos que nossos oponentes usam contra nós. O espírito de nobreza e cavalheirismo inculcado em cada um de nossos soldados, com respeito pelos prisioneiros e pelas forças armadas, é a razão pela qual mais de setecentos deles, após 23 meses de luta contra a tirania, se encontram hoje no seio de suas famílias."

Na noite de 28 de outubro de 1959, Camilo retornava de Camagüey para Havana a bordo de um avião Cessna 310 que desapareceu sobre o Estreito da Flórida. Os corpo de Camilo e dos demais tripulantes do voo, bem como os destroços do avião jamais foram encontrados, apesar das autoridades cubanas terem coordenado buscas ostensivas ao longo de várias semanas. Camilo tornou-se um mártir da Revolução Cubana e anualmente o país sedia comemorações em memória daquele que Che Guevara definiu como "o mais brilhante de todos os guerrilheiros.”

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