China e os uigures (I)

Construindo um genocídio:

Não é de hoje que o Ocidente tenta instrumentalizar a situação política dos uigures em favor dos seus próprios interesses. Os uigures são uma das 56 etnias que vivem na China. São muçulmanos de origem turcomena que habitam principalmente a região autônoma de Xinjiang, no noroeste chinês, na fronteira com Paquistão e Afeganistão. Assim como no Tibete, a existência de grupos autonomistas regionais torna a questão dos uigures uma fonte inesgotável de inspiração para a construção de narrativas convenientes ao anticomunismo.

Desde que o Partido Comunista da China se consolidou no poder, a narrativa do Ocidente tem buscado incitar o separatismo, validando a impressão de que os uigures são uma minoria oprimida, que está sendo submetida à força a permanecer unida à China. Os grupos fundamentalistas que arquitetaram atos terroristas na região entre os anos 70 e 90 eram tratados com extrema condescendência pela imprensa ocidental.

Curiosamente, essa postura condescendente sofreu um giro de 180º após os atentados de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos. A partir desse ponto, o governo dos Estados Unidos passou a divulgar evidências de que os grupos separatistas uigures mantinham ligações com a rede terrorista Al-Qaeda. Mais do que isso: disseram que a China estava não mais perseguindo a minoria, mas protegendo-a e dando abrigo a fundamentalistas. Os Estados Unidos chegaram a capturar 20 uigures acusados de serem líderes terroristas e os manteve na prisão de Guantánamo por 6 anos, mas nunca os indiciou formalmente.

Com o arrefecimento da retórica agressiva da "Guerra ao Terror", os Estados Unidos retomaram a narrativa de que os uigures sofriam perseguição, sobretudo durante a campanha de demonização da China às vésperas dos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008. Após a realização do evento, o assunto voltou a desaparecer do noticiário.

A retórica da perseguição da minoria uigur tem sido retomada com um agressividade inédita desde 2015, acompanhando a intensificação dos atritos diplomáticos e comerciais entre Estados Unidos e China, que têm como pano de fundo a disputa entre as duas potências pela hegemonia econômica e política. BBC, The Economist, Foreign Policy, as publicações ocidentais, sobretudo as mídias estadunidenses e britânicas que se fizeram de cegas enquanto os Estados Unidos massacravam um milhão de iraquianos pra roubar petróleo, falam abertamente em "genocídio perpetrado pelos chineses contra os muçulmanos uigures". Contra todas as evidências claras da instituição plena da liberdade de crença na China, a mídia ocidental alega a existência de perseguição religiosa e islamofobia. Também afirma que os uigures estão sendo submetidos, na melhor das hipóteses, a processos de lavagem cerebral e tentativa de apagamento de sua cultura. Na pior, Desaparições forçadas, massacres, tráfico de órgãos, campos de concentração e extermínio.

O horror das histórias contadas pela mídia ocidental sobre o "genocídio contra os uigures" é inversamente proporcional à existência de provas materiais. Fala-se em genocídio, mas não há cadáveres, covas, valas ou mesmo testemunhas para referendá-los. Fala-se em campos de concentração com centenas de milhares de cativos, mas não há uma única foto, vídeo ou relato de alguma testemunha factual de tais instalações. O próprio governo da China pediu para que a ONU conduzisse uma vistoria independente para averiguar a veracidade de tais alegações. Curiosamente, os Estados Unidos e seus aliados europeus posicionaram-se contra a vistoria. Afinal, não teriam como manter a narrativa de satanização da China se fossem desmascarados.

Apesar de tudo isso, as manchetes da mídia ocidental prosseguem com acusações histéricas de que há um genocídio em andamento. A exemplo da imprensa, os acadêmicos ocidentais aceitam o relatos da mídia e dos governos capitalistas como a verdade autenticada sobre os fatos do mundo. Não será surpresa se em alguns anos Hollywood começar a fazer dramas horrendos sobre o "Uigulomor". E menos ainda se liberais ocidentais se apoiarem nessas narrativas para afirmar com ares de indignação que "Xi Jinping matou milhões".

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Othon Pinheiro, Lava Jato e Programa Nuclear Brasileiro

Evolução do PIB per capita da antiga União Soviética

Explosão da Base de Alcântara