Ded Moroz e Snegurochka
Atores representam Ded Moroz e Snegurochka durante uma celebração de ano novo em Moscou, União Soviética, 1973.
Ded Moroz ("Vovô Gelo" em russo) é uma figura lendária similar ao Papai Noel no folclore russo. Snegurochka ("Fada das Neves") é sua neta e ajudante. O mito de Ded Moroz se desenvolveu a partir da mitologia nórdica, provavelmente inspirado no deus pagão Odin, que era associado à celebração do Yule - comemoração do solstício de inverno que ocorria por volta do dia 22 de dezembro durante a era pré-cristã. À medida que o cristianismo se espalhou pela Europa Setentrional, a celebração do Yule passou a ser associada às tradições do Natal e a imagem do deus Odin fundiu-se com as histórias do bispo grego São Nicolau, a quem se atribuíam muitos milagres.
Como resultado dessa amálgama, surgiu o protótipo do ser mitológico associado ao solstício de inverno e ao nascimento de Jesus, que evoluiu para personagens distintos, mas de características semelhantes. O mais famoso desses personagens é o Papai Noel, que se estabeleceu na maior parte da Europa Ocidental. Na Holanda, surgiu o Sinterklaas. Na Finlândia, o Joulupukki. Na Hungria, o Mikulás. E Ded Moroz era a versão russa. Assim como os demais avatares, Ded Moroz é um senhor de cabelos brancos e barba comprida. Usa um grande manto azul, botas, gorro, ornamentos de prata e, eventualmente, uma longa capa. Ele porta um cajado mágico e, junto com Snegurochka, se locomove em uma carruagem voadora, puxada por três cavalos encantados.
A figura do Ded Moroz popularizou-se a partir do século XIX, após da exibição da peça "A Donzela da Neve" de Alexander Ostrovsky, cujo enredo dava amplo destaque à versão russa do Papai Noel. Gradualmente, as famílias russas passaram a utilizar Ded Moroz como elemento das celebrações de Natal, imitando também os atributos do personagem congênere celebrado na Europa Ocidental, associando-o, por exemplo, ao ato de recompensar as crianças obedientes e bem comportadas com presentes.
Após a Revolução de Outubro em 1917 e a subsequente implementação do governo socialista na Rússia, os dirigentes revolucionários buscaram combater a influência da Igreja Ortodoxa e das religiões organizadas, bem como romper com as tradições conservadoras associadas à velha ordem czarista, substituindo-as pelo incentivo à racionalidade científica. Dessa forma, as comemorações religiosas foram todas abolidas - incluindo-se o Natal e as tradições associadas à data, vistas como duplamente perniciosas, por serem hieráticas e comerciais. Não houve grande resistência à superação do caráter religioso das festas de dezembro, mas os russos se ressentiram do fim da celebração em si - e, logicamente, da ausência do feriado. Mais difícil ainda foi convencer as crianças a esquecerem as figuras lendárias de Ded Moroz e Snegurochka. O governo soviético chegou a distribuir cartilhas incentivando os pequenos a rechaçarem o Papai Noel russo, mas de nada adiantou.
A partir de 1935, o governo soviético passou a suavizar sua campanha contra a celebração do Natal. Os festejos e feriados de fim de ano foram reinstituídos, mas de forma secularizada - não seriam celebrações de Natal, mas do Ano Novo. Ded Moroz e Snegurochka voltaram à cena, repaginados como personagens laicos, que visitavam as crianças na véspera do Ano Novo. Eles traziam presentes, mas não individuais, nem apenas para as crianças obedientes. Eram presentes coletivos, distribuídos aos grupos e comunidades, como os pioneiros, os Komsomols, os sovietes locais e as comissões de trabalhadores. Os presentes também não eram mais deixados sob um pinheiro decorado, mas agrupados em um local público, como um parque ou uma praça.
Surgiu assim uma tradição soviética muito específica de festas de fim de ano - seculares, menos comerciais do que os festejos ocidentais, e marcadas pela confraternização entre famílias e comunidades. As raízes pagãs e pré-cristãs de Ded Moroz facilitaram a aceitação de seu retorno pelas autoridades soviéticas, que passaram inclusive a encorajar a exploração da sua imagem - tomando o cuidado de mantê-lo não apenas isento de referências hieráticas, mas de imbuído de um espectro mais realista e pragmático. Na época da industrialização, ele aparecia musculoso nas fábricas ao lado dos operários ajudando a girar pistões e parafusar engrenagens. Durante a Segunda Guerra Mundial, era retratado nos cartazes com um fuzil na mão, ajudando a matar nazistas. E durante a Guerra Fria, aparecia nos cartões de fim de ano montado em uma espaçonave ou tendo sua carruagem conduzida por foguetes.
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