Força Expedicionária Brasileira (I)


Faixa confeccionada pelo Partido Comunista do Brasil (antigo PCB) homenageia a Força Expedicionária Brasileira (FEB) por sua participação na luta contra o nazifascismo na Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro, março de 1945.

Após a vitória na Segunda Guerra Mundial, quase todas as nações aliadas criaram programas de reintegração e apoio aos veteranos que lutaram no maior conflito da história. A União Soviética criou pensões e programas de requalificação profissional. Estados Unidos e as nações ocidentais estabeleceram linhas de crédito e serviços de assistência médica para os ex-combatentes. O Brasil foi uma notável exceção. Após retornarem da Europa, os pracinhas foram tratados com absoluto desprezo pelo governo de Getúlio Vargas e pelo alto comando das Forças Armadas.

Malgrado sua condição de unidade militar mais experiente e bem treinada do Brasil, a Força Expedicionária Brasileira foi imediatamente desmobilizada logo após o seu retorno - um caso único entre os grupamentos militares que combateram na Segunda Guerra, geralmente transformados em unidades de referência para o treinamento de tropas. Os pracinhas foram dispensados sem qualquer tipo de benefício ou auxílio do Estado - não foram submetidos sequer a exames médicos. Conforme relata o historiador Dennison de Oliveira, "o Exército fez o possível para marginalizar e desconsiderar quem esteve na linha de frente. Havia enorme preconceito e inveja daqueles que estiveram com a FEB."

O governo Vargas e as Forças Armadas achavam que a FEB não era politicamente confiável. Parte dos soldados que lutaram pela FEB eram comunistas orgânicos, previamente filiados ao Partido Comunista do Brasil, ou admiradores de Luís Carlos Prestes e de outras lideranças do tenentismo. Outros militares defendiam a concepção de democracia liberal, um discurso constrangedor para o establishment autoritário e ditatorial do Estado Novo. Ademais, o alto comando das Forças Armadas, tradicionalmente muito elitizado, se ressentia com o fato de que soldados de baixa patente, a grande maioria de origem humilde, fossem tratados como heróis pela população. Militares ricos e influentes fizeram um grande esforço para escapar da convocação à guerra e o envio dos expedicionários foi por muito tratado como motivo de piada nos quartéis. Quando os pracinhas retornaram, vitoriosos e cobertos de prestígio popular, os oficiais carreiristas não conseguiram esconder a inveja e incômodo.

Logo após o retorno dos pracinhas, o alto comando das Forças Armadas proibiu os soldados da FEB de fazerem declarações ou concederem entrevistas sem autorização do Ministério da Guerra. Ao contrário do que fizeram os demais países aliados, as Forças Armadas do Brasil não ergueram monumentos aos seus soldados tombados. Ao invés disso, buscaram desmobilizar e neutralizar politicamente a FEB e reservar à glória dos bustos apenas os nomes do oficialato oriundo das tradicionais elites brasileiras. Os primeiros monumentos em memória aos pracinhas que tombaram no conflito só seriam construídos décadas mais tarde. As poucas iniciativas que buscaram comemorar a participação dos pracinhas na luta contra o nazifascismo partiram dos comunistas brasileiros, que espalharam faixas pelas cidades e criaram campanhas para arrecadar fundos visando construir memoriais.

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