Friedrich Engels

Retrato de Friedrich Engels, filósofo, historiador, cientista político e revolucionário socialista alemão. Brighton, Reino Unido, 1877.

Friedrich Engels nasceu em 28 de novembro de 1820 em Barmen, em uma família rica de industriais protestantes, dona de grandes fábricas de tecidos de algodão localizadas na Alemanha e na Inglaterra. Aos 17 anos, após concluir o ensino básico em Elberfield, Engels foi pressionado pelo pai a trabalhar como aprendiz mercantil nas empresas da família. Em Bremen, interessou-se pelo estudo da filosofia de Hegel e passou a frequentar as reuniões dos hegelianos de esquerda, que influenciariam suas críticas ao cristianismo e ao Estado prussiano. Logo começou a escrever artigos para jornais criticando os males da industrialização, utilizando o pseudônimo "Friedrich Oswald". Seu ateísmo e suas atividades políticas causariam crescentes atritos com seus pais.

Em 1842, Engels foi enviado para Manchester, para trabalhar nos escritórios de uma fiação da família, num esforço empreendido por seu pai para afastá-lo dos hegelianos e fazê-lo reconsiderar suas opiniões radicais. Em meio à viagem, Engels fez uma parada em Colônia, onde visitou os escritórios da Gazeta Renana e conheceu o editor-chefe, Karl Marx. Já em Manchester, iniciou um relacionamento com Mary Burns, uma operária irlandesa com opiniões radicais que trabalhava na fábrica da sua família. Iniciou sua pesquisa a respeito dos efeitos do capitalismo sobre o operariado inglês, com ajuda de Burns, que lhe mostrou os guetos e a pobreza dos bairros operários de Manchester, onde Engels testemunharia os descalabros do trabalho infantil, da exploração e da miséria. A pesquisa consubstanciou a obra "A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra", que seria lançada em 1845.

Em 1844, reencontrou Marx em Paris, dando início a uma grande amizade e prolífica parceria intelectual que duraria pelo resto da vida. Os dois se envolveram nas atividades de militância do movimento operário, criando laços profundos com as organizações dos trabalhadores locais. Em colaboração com Marx, Engels escreveu "A Sagrada Família", criticando a linha de pensamento dos jovens hegelianos, e "A Ideologia Alemã". Engels seguiu Marx rumo ao seu exílio em Bruxelas, em 1845, onde aprofundaram sua atuação junto movimento operário. Marx e Engels tomaram parte do congresso da Liga dos Justos, que se transformaria na Liga dos Comunistas. Por solicitação da agremiação, escreveram o "Manifesto do Partido Comunista", que se tornaria um dos tratados políticos mais influentes da história.

Em 1848, Marx e Engels participaram da insurreição alemã durante a Primavera dos Povos. Após o fracasso do levante, Marx foi banido e perdeu sua cidadania prussiana e Engels refugiou-se na Suíça. A insurreição seria objeto da obra "Revolução e Contra-Revolução na Alemanha", escrita por Engels entre 1851 e 1852. Ameaçado por um mandado de prisão das autoridades da Prússia, Engels aceitou a proposta da sua família para dirigir a fiação da empresa "Ermen e Engels" em Manchester, na Inglaterra. Passou a ajudar financeiramente Karl Marx e sua família, que viviam na miséria em Londres, onde se refugiaram após serem perseguidos pelas polícias da Europa continental.

Engels buscou conciliar seu trabalho na gerência da fábrica com sua produção intelectual. Nesse período, publicou "A Guerra Camponesa Alemã" e outras obras sobre Martinho Lutero e a Reforma Protestante. Denunciou o golpe de Luís Bonaparte contra o governo francês, abordado de forma aprofundada por Marx no ensaio intitulado "O 18 de Brumário de Luís Bonaparte". Em 1864, Engels financiou a criação da Associação Internacional dos Trabalhadores, a Primeira Internacional (1866-1872), organização de apoio às lutas operárias, movimentos sindicais e de resistência, reunindo membros da Europa e dos Estados Unidos.

Em 1870, Engels vendeu as ações da firma que dirigia para se dedicar exclusivamente à luta revolucionária. Mudou-se para Londres, onde passou a conviver com Marx e aprofundou-se na análise das formas de desenvolvimento do modo de produção capitalista. Suas conclusões foram utilizadas por Marx em "O Capital". Publicou artigos sobre a situação dos partidos dos trabalhadores, a questão rural e as guerras de colonização e teve importante contribuição para a "Nova Enciclopédia Americana", para a qual escreveu artigos versando sobre as guerras, podendo ser visto como um continuador de Clausewitz e um precursor de Lenin e Mao Tsé-Tung. Escreveu ainda "O anti-Dühring" e "A Dialética da Natureza".

Após a morte de Marx, Engels publicou os volumes II e III de "O Capital", apresentando um trabalho de historiador das ciências no prefácio desses volumes, abordando a imensa revolução teórica operada por Marx. Também organizou as notas de Marx sobre as teoria da mais-valia, que mais tarde foram publicadas como o "quarto volume" de "O Capital". Em 1884, Engels publicou "A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado", com base nas pesquisas etnográficas de Marx, abordando as influências que as relações de produção exercem sobre as formas de parentesco e organização familiar.

Até o fim de sua vida, Engels teve participação fundamental na organização do movimento operário internacional. Em seus últimos anos, auxiliou na fundação dos partidos socialistas francês e alemão ("Crítica aos Programas de Gotha e Erfurt", escrita em colaboração com Marx em 1875) e financiou a realização da Segunda Internacional (1889-1916), frequentada por nomes como Lenin e Émile Vandervelde, responsável por encampar bandeiras como a bem sucedida campanha internacional pela redução da jornada de trabalho para oito horas diárias, a instituição do 1º de maio como Dia Internacional dos Trabalhadores e do 8 de março como Dia Internacional da Mulher. Faleceu em Londres em 5 de agosto de 1895, aos 74 anos. Em sua biografia sobre Engels, Lenin o descreveu como "o melhor estudioso e professor do proletariado moderno em todo o mundo civilizado".

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