Holodomor (II)
É necessário ter em mente que, ao contrário da crença erroneamente difundida junto a maior parte da esquerda brasileira, "Holodomor" e Fome Soviética de 1932/1933 não são sinônimos. A Fome de 1932/33 é um fato histórico reconhecido pelo próprio governo soviético à época. A fome é fartamente documentada e integra o longo histórico de crises famélicas sazonais que assolavam a Rússia desde a Idade Média. "Holodomor" é a tese criada pelo propagandista do regime nazista, Joseph Goebbels, de que essa fome foi gestada artificialmente por Joseph Stalin com o objetivo deliberado de exterminar ucranianos. Essa tese NUNCA teve aceitação majoritária na academia ou reconhecimento internacional.
Mesmo historiadores anticomunistas e/ou profundamente críticos de Joseph Stalin e do governo soviético, como Arch Getty, Stephen Wheatcroft e Robert William Davies, não reconhecem a tese de que a Fome Soviética de 1932/1933 foi criada artificialmente para cumprir um propósito genocida. Mesmo após intensa pesquisa realizada ao longo de três décadas desde a abertura dos arquivos soviéticos, nunca se encontrou nenhum tipo de evidência material, documento ou qualquer fonte primária que comprove que existia uma intenção deliberada de matar ucranianos de fome. Por isso, mesmo com tanta propaganda dos aparelhos ideológicos ocidentais, a aceitação da tese do Holodomor segue restrita a círculos bem específicos da extrema-direita e seus gêmeos de sapatênis - os liberais. Mesmo o governo dos Estados Unidos, epicentro do anticomunismo, nunca reconheceu legalmente a existência do Holodomor. Na verdade, dos mais de 200 países do mundo, apenas 15 reconhecem legalmente o Holodomor como um genocídio - quase todos o fizeram durante os governos de extrema-direita que ascenderam ao poder na última década, sob influência do reavivamento das narrativas anticomunistas, embasadas por fake news e toda sorte de conspiracionismo e revisionismo histórico característicos "nova direita" global.
A tentativa de constranger a esquerda tentando igualar "negacionistas do Holodomor" (sic) a negacionistas do Holocausto é apenas o capítulo mais recente de um manual seguido a risca pelos aparelhos ideológicos do ocidente capitalista sobre como reescrever a história segundo as conveniências. É o mesmo método que apagou a participação da União Soviética na Segunda Guerra Mundial, substituindo-a pelo falso protagonismo dos Estados Unidos, incensados como os heróis que derrotaram Hitler - quando, na realidade, nem chegaram perto do bunker do "führer". É o mesmo método que transformou mulheres e crianças massacrados no Vietnã em monstros covardes, ao passo que os invasores, assassinos e estupradores foram transmutados em pobres e inocentes garotos traumatizados pela guerra. É o mesmo método que transformou uma bruxa inglesa que financiou esquadrões da morte, protegeu Pinochet e sua matilha de assassinos e torturadores e apoiou o apartheid em uma "Dama de Ferro" empoderada, cheia de frases de efeito sobre liberdade.

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