João Doria (I)
João Doria, governador do estado de São Paulo, fantasiado de gari durante uma ação de marketing da sua gestão. Na imagem maior, a Mansão Dória, residência do governador localizada no bairro nobre dos Jardins, na Zona Oeste de São Paulo. Avaliada em 50 milhões de reais, a residência de João Dória é uma das maiores mansões do Brasil, com 3.304 metros quadrados de área construída.
A residência possui piscinas aquecidas, um campo de futebol, quadras de tênis e ambientes internos decorados com painéis pintados por Di Cavalcanti. O governador mantém outra mansão suntuosa na cidade de Campos do Jordão, no interior paulista. Trata-se da "Villa Doria", uma residência localizada em um lote de 16.000 metros quadrados, avaliada em 20 milhões de reais. A Villa Doria é equipada com um heliponto, para que governador possa aterrissar sua aeronave particular - um helicóptero Bell 429, com capacidade para sete passageiros.
O salário médio de um gari em São Paulo é de R$ 1.143,48. Para poder comprar uma residência como a Mansão Dória, um gari precisaria guardar integralmente seu salário, sem gastar um centavo, durante 3.644 anos. Para sorte do governador, o uniforme de gari serve apenas para a prática de cosplay, já que, a despeito do slogan "João trabalhador", ele já nasceu multimilionário, herdando a maior parte de seu patrimônio - uma fortuna de 190 milhões de reais, conforme declarado ao TSE.
João Doria é um descendente do clã dos Costa Doria, uma aristocrática família quatrocentona cujas origens remontam ao Período Colonial. Seus membros eram senhores de engenho, donos de escravos, oficiais militares e políticos de destaque. A família se originou a partir do casamento do fidalgo português Fernão Vaz da Costa com a nobre genovesa Clemenza Doria. Eles se casaram no Brasil em 1555, após a doação de uma sesmaria. Vários membros da família se destacaram durante o Período Colonial. É o caso de Antonio de Sá Doria, o homem mais rico de Salvador durante o século XVII, dono de vários engenhos em Itaparica - um deles com 40 escravos. Outro membro da família, Martim Afonso de Mendonça, fidalgo da casa real, também se destacaria como proprietários de engenhos e de escravos no Recôncavo Baiano. Os Costa Doria acumulariam muitos engenhos prósperos na região entre a Bahia e Sergipe, tais como Caberi, Palmeira, São Cosme e Boa União.
A tradição escravocrata da família perduraria através dos séculos, mantendo-se ativa até mesmo depois do colapso da economia açucareira. Uma nota do jornal Correio Mercantil de 1839, por exemplo, documenta relatos de aluguel e penhora de escravos pertencentes a José Ignácio de Menezes Doria. O testamento de Antonio Marcelino da Costa Doria, datado de 1851, também registra escravos legados aos seus descendentes. A influência política da família também manteve-se intacta, malgrado a decadência dos engenhos. O bisavô de João Doria, João Agripino da Costa Doria, foi prefeito de Salvador no fim do século XIX. E seu pai, o publicitário João Agripino da Costa Doria Neto, foi deputado federal pelo Partido Democrata Cristão (PDC). Outros membros da família incluem o deputado José Carlos Aleluia (DEM) e o pastor Leonel Silva, fundador da Igreja Cristã Pentecostal Maravilhas de Jesus.
Além de sua imensa fortuna e das empresas da família, Doria parece ter herdado a tradição do patrimonialismo. Sua gestão à frente da Embratur nos anos oitenta acumularia não apenas críticas em relação às suas campanhas para atrair turistas sexuais e explorar a miséria e a seca do Nordeste como atrativos turísticos, mas também denúncias de corrupção. O Tribunal de Contas da União acusou Doria de desviar 6,5 milhões de cruzados. Nos anos 90, Doria invadiu um terreno público lindeiro à sua mansão em Campos do Jordão e tentou anexá-lo irregularmente, sendo processado pelo Ministério Público. Entre 2010 e 2016, sua empresa, a Editora Doria, responsável por publicar periódicos voltados para o público "classe A", tais como a revista "Caviar", recebeu 10,1 milhões de reais dos governos do PSDB sob a forma de anúncios publicitários. Outros milhões de reais foram direcionados a contratos com outra empresa do governador, a Doria Marketing e Eventos.
Eleito prefeito e depois governador de São Paulo, João Doria tem demonstrado que certos valores familiares seguem profundamente arraigados em sua visão de mundo. Além de cortar o leite das crianças, acabar com as refeições gratuitas para moradores de rua no Bom Prato e tentar substituir merendas escolares por rações fabricadas a partir de restos de comida vencida, o governador foi um entusiasmado apoiador da posição da bancada ruralista, favorável à portaria de 2017 do Ministério do Trabalho, que flexibilizava as regras de fiscalização e combate do trabalho escravo. Certas coisas nunca mudam.
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