Karl Marx
Retrato de Karl Marx, filósofo, historiador, economista, jornalista e revolucionário socialista alemão. Fotografia tirada por John Jabez Edwin Mayall. Londres, Reino Unido, c. 1865.
Karl Marx (1818-1883) nasceu em 5 de maio de 1818, em uma família de classe média de Tréveris, na Renânia prussiana. Filho de uma judia holandesa e um advogado liberal de confissão judaica convertido ao protestantismo, Marx iniciou seus estudos básicos no Liceu Friedrich Wilhelm em 1830 - um ano marcado pela eclosão de revoluções em diversos países europeus. Matriculou-se no curso de direito da Universidade de Bonn em 1836, transferindo-se para a Universidade de Berlim no ano seguinte. Logo perdeu o interesse pelo direito, interessando-se pelo estudo da história e da filosofia. Doutorou-se em filosofia em 1841, apresentando a tese "Diferenças da Filosofia da Natureza em Demócrito e Epicuro", que o levou a descobrir a crítica materialista da religião. Interessou-se pelos escritos de Hegel, tornando-se membro do grupo dos Jovens Hegelianos. Ligou-se ainda aos irmãos Bauer e sofreu forte influência de Ludwig Feuerbach.
Em 1842, Marx se tornou redator-chefe da Gazeta Renana, jornal de cunho editorial reformista pró-democracia, que fazia forte oposição ao autoritarismo prussiano. Paralelamente, aprofundou seus estudos sobre problemas econômicos e socialismo francês, lendo obras de Saint-Simon, Fourier e Proudhon, entre outros. No ano seguinte, casou-se com Jenny von Westphalen, sua amiga de infância, e estabeleceu-se em Paris. Após a interdição da Gazeta Renana por ordem do governo da Prússia, Marx fundou o jornal Anais Franco-Alemães, uma tentativa de dar continuidade à oposição ao autoritarismo prussiano. Não obstante, o periódico só teve uma edição, em que se veiculou o texto "A Questão Judaica" (1844).
Ainda sob forte influência de Hegel, Marx escreveu seus "Manuscritos" (1843-1844), nos quais desenvolveu os argumentos sobre o fenômeno da alienação. Também desse período é a "Contribuição à Crítica da Filosofia do Direito de Hegel". Em colaboração com Friedrich Engels, Marx publicou "A Sagrada Família", criticando a linha de pensamento dos Jovens Hegelianos, e a "Ideologia Alemã" (escrita em 1845, mas publicada somente em 1932). Em 1847, escreveu "Miséria da Filosofia", uma crítica à obra "Filosofia da Miséria" de Proudhon.
Marx manteve intensa atividade política durante seu período parisiense. Em 1845, foi expulso da França a pedido do governo prussiano, mudando-se para a Bélgica, onde viveu entre 1845 e 1848. Em Bruxelas, intensificou seu ativismo, estabelecendo contato com militantes operários e emigrados alemães e unindo-se a Engels para fundar a Sociedade dos Operários Alemães de Bruxelas. A amizade e parceria com Engels perduraria pelo resto de sua vida e alteraria de forma definitiva os rumos da história. A partir do estudo do movimento socialista europeu, a dupla estabeleceu o que viria a ser a mais abrangente e influente definição do comunismo, concebido como uma sociedade igualitária, sem classes sociais e apátrida, baseada na propriedade comum dos meios de produção.
Marx e Engels estabeleceram uma ampla rede de difusão do ideário comunista. Em 1848, por solicitação da Liga dos Comunistas, a dupla publicou o "Manifesto do Partido Comunista", que se tornaria um dos tratados políticos de maior influência no mundo. Para Marx, o período ficou marcado como um "acerto de contas com sua consciência filosófica de outrora", uma ruptura política e teórica com suas convicções prévias. Foi também durante esse período que Marx elaborou sua concepção de materialismo histórico - uma abordagem metodológica que buscava compreender as causas das mudanças na sociedade a partir das relações entre as classes sociais, estruturas políticas e formas de pensar.
Após a eclosão da Revolução de 1848 contra os regimes autocráticos europeus, Marx foi expulso da Bélgica. Mudou-se para Colônia, na Alemanha, onde fundou o jornal Nova Gazeta Renana, para o qual escreveu numerosos artigos defendendo as reivindicações do movimento operário, nomeadamente "Trabalho Assalariado e Capital". Em 1849, foi expulso da Alemanha. Tentou retornar à França, mas seu ingresso no país foi recusado. Abatido por uma grave crise financeira e pelo boicote dos círculos acadêmicos e empresariais europeus, passou a viver em miséria. Com ajuda de Ferdinand Lassalle, que organizou uma campanha de arrecadação de donativos, Marx conseguiu se refugiar em Londres. Na capital inglesa, dedicou-se ao estudo da economia e começou a escrever sua obra-prima, "O Capital". Também trabalhou como correspondente do jornal New York Tribune, declarando seu apoio ao governo de Abraham Lincoln durante a Guerra da Secessão.
Em 1864, Marx foi convidado a assumir a direção da Associação Geral dos Trabalhadores Alemães, para a qual escreveu o "Discurso Inaugural" e concebeu os "Estatutos". Nesse mesmo ano, passou a integrar o Conselho Geral da Associação Internacional dos Trabalhadores, a chamada Primeira Internacional, uma organização operária que reunia membros de todos os países da Europa e também dos Estados Unidos, incluindo desde comunistas e anarquistas até reformistas e lassalianos, com o objetivo de organizar e apoiar lutas operárias, sindicatos e movimentos de resistência em todo o mundo. Por intermédio da Primeira Internacional, Marx apoiou a Comuna de Paris, rebelião popular que estabeleceu o primeiro governo operário da história, em 1871. O evento foi analisado na sua obra "A Guerra Civil na França", publicada no mesmo ano. Seguiu trabalhando na redação de "O Capital" e participou ativamente da definição dos programas dos partidos operários alemão ("Crítica do Programa de Gotha", 1875) e francês ("Considerações Sobre o Programa do Partido Operário Francês", 1880). Marx também auxiliou Engels na redação de "Anti-Dühring", em 1878. Debilitado pela bronquite e muito deprimido após a morte de sua esposa em 1881 e de sua filha duas anos depois, Marx faleceu em 14 de março de 1883.
O pensamento político e filosófico de Karl Marx teve enorme importância na história subsequente, lançando as bases para a compreensão das dinâmicas das relações econômicas e sociais do nosso tempo. Ao lado de Émile Durkheim e Max Weber, Marx é considerado o fundador das ciências sociais modernas e um dos intelectuais mais influentes da história da humanidade. Seu papel é particularmente importante na concepção da metodologia das ciências sociais, concebida a partir da rejeição do positivismo sociológico e do determinismo, substituídos pela concepção materialista da história e por teorias que podiam ser submetidas ao método científico.
As concepções de Marx sobre sociologia, economia e política, englobadas sob o nome de marxismo, serviram de base para o desenvolvimento de inúmeras correntes do pensamento filosófico e político, como o leninismo, o marxismo-leninismo, o trotskismo, o maoísmo e o luxemburguismo, estando presentes em maior ou menor medida em quase todas as organizações e movimentos da esquerda política e nos trabalhos de acadêmicos progressistas. Além das ciências sociais, o legado de Marx é igualmente duradouro na filosofia, na literatura, nas artes e nas humanidades. As ideias de Marx influenciaram dezenas de revoluções ao longo do século XX, nomeadamente a Revolução Russa e a subsequente fundação da União Soviética, além de inúmeros revolucionários e líderes políticos fundamentais na construção do mundo contemporâneo, tais como Lenin, Mao Tsé-Tung, Fidel Castro, Thomas Sankara, Kwame Nkrumah, Marechal Tito, Salvador Allende e Nelson Mandela.
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