Leon Trotsky

Leon Trotsky, comandante do Exército Vermelho durante a Guerra Civil Russa, retratado em 16 de outubro de 1920, em fotografia publicada pelo jornal The Illustrated London News.

Leon Trotsky nasceu em 7 de novembro de 1879 em Bereslavka, na Ucrânia. Filho de um proprietário rural abastado de origem judaica, cursou o ensino básico em Odessa e completou os estudos secundários em Mykolaiv, onde teve contato com as teorias marxistas. De volta a Odessa, estudou matemática por um breve período na Universidade Nacional e envolveu-se como o movimento operário, passando a ministrar palestras sobre o socialismo. Acusado de participar de atividades subversivas, Trotsky foi preso em 1898. Dois anos depois, foi deportado para a Sibéria.

Em 1902, Trotsky conseguiu escapar da prisão, refugiando-se na Áustria e depois na Inglaterra. Em Londres, conheceu Lenin, filiando-se em seguida ao Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR). Ainda na capital inglesa, passou a escrever para o Iskra (Centelha), jornal político dos socialistas russos. No ano seguinte, durante o II Congresso do POSDR, Trotsky alinhou-se aos mencheviques, seguindo a liderança de Julius Martov. Um ano depois, desligou-se dos mencheviques, mas seguiu recusando a adesão aos bolcheviques, tentando manter-se independente.

Sua posição de neutralidade lhe granjeou a possibilidade de agir como mediador entre os bolcheviques os mencheviques durante a Revolução de 1905, da qual participou ativamente. Após o fracasso do levante, Trotsky passou a se dedicar à produção intelectual, desenvolvendo sua Teoria da Revolução Permanente, onde preconizava que seria possível conciliar a manutenção das estruturais econômicas do capitalismo com a expansão da revolução socialista nas democracias burguesas. Trotsky argumentava que, pela própria necessidade das forças produtivas do capitalismo, o proletariado industrial poderia passar por um processo de empoderamento social, econômico e político, podendo em seguida buscar uma aliança com o campesinato para consolidar a revolução.

Durante a Primeira Guerra Mundial, Trotsky tomou parte na Conferência Socialista de Zimmerwald, ao lado de Lenin, Rosa Luxemburgo e outros expoentes do socialismo. Após a reunião, rumou para a França, de onde foi expulso, partindo em seguida para os Estados Unidos. Retornou à Rússia em maio de 1917, em razão da eclosão da Revolução Russa. Ao lado de Lenin, ajudou a organizar a insurreição popular que depôs o governo provisório, ajudando a consolidar a Revolução de Outubro.

Após o triunfo da revolução, Trotsky seguiu chefiando o Comitê Central dos Sovietes de Petrogrado, mantendo o controle dos centros de decisão locais. Em dezembro de 1917, assumiu o cargo de Comissário do Povo para os Negócios Estrangeiros. Nessa função, desentendeu-se com Lenin, manifestando discordância em relação à assinatura dos acordos de paz em separado com os alemães. Em consequência dos desentendimentos, demitiu-se do cargo diplomático, assumindo em seguida a chefia do Conselho Militar Revolucionário.

Em 1918, Trotsky fundou o Exército Vermelho, visando defender o país e o governo revolucionário contra as tropas estrangeiras e o Exército Branco - a força militar contrarrevolucionária que buscava restaurar a monarquia czarista. Após derrotar as tropas de Anton Ivanovich Denikin, Trotsky debelou a sublevação anarquista durante a revolta dos marinheiros de Kronstadt, em março de 1921. Em seguida, voltou a se desentender com Lenin, por discordâncias em relação à proposta de militarização dos sindicatos e por divergir do planejamento da Nova Política Econômica (NEP). Apesar das diferenças com Lenin, Trotsky participou, em pé de igualdade, da fundação da União Soviética, em 1922.

Após a morte de Lenin, Trotsky tentou sucedê-lo no comando da União Soviética, organizando uma forte oposição a Stalin, por intermédio da criação de uma frente única, integrada também por Grigori Zinoviev, Lev Kamenev e Alexander Shliapnikov. Derrotado na luta sucessória, Trotsky foi afastado das suas funções no Conselho Revolucionário da Guerra, em 1925. Por influência de Stalin, foi excluído do Politburo, o comitê central do Partido Comunista, em 1926. No ano seguinte, Trotsky foi expulso definitivamente do partido.

Afastado das funções públicas, Trotsky deixou a União Soviética, iniciando uma vida de peregrinação errante. Exilou-se primeiramente em Alma-Ata, no Cazaquistão, mas foi banido do país. Partiu em seguida para a França, onde viveu por dois anos, antes de ser novamente expulso. Mudou-se então para a Noruega. Em 1936, estabeleceu-se no México, onde viveria até sua morte, convivendo com os pintores Diego Rivera e Frida Kahlo.

Em 1938, uniu-se a uma série de seguidores expulsos da União Soviética e fundou a Quarta Internacional, sob a alegação de que a Comintern, ou Terceira Internacional, havia sido "perdida para o stalinismo" e não mais seria capaz de emancipar a classe trabalhadora internacional. Tornou-se progressivamente mais e mais ácido em suas críticas a Stalin e ao governo soviético, que passou a definir como "um regime totalitário burocrático, de opressão aos trabalhadores", tema tratado na sua obra intitulada "A Revolução Traída". Também retomou sua defesa da Teoria da Revolução Permanente, em contraposição à política do "Socialismo em um Único País", adotada por Stalin. Trotsky foi assassinado em 21 de agosto de 1940 por Ramón Mercader, um agente no exterior do Comissariado do Povo para Assuntos Internos (NKVD, no acrônimo transliterado), um órgão de segurança do governo soviético.

As relações atribuladas entre Trotsky, o processo revolucionário e o governo de Stalin continuam a ser motivos de disputas teóricas e ideológicas até hoje, com grupos de partidários e detratores acusando mutuamente Trotsky e Stalin de serem "traidores da revolução". A disputa ideológica em relação à sua concepção de "Revolução Permanente" também fez com que Trotsky angariasse a antipatia de parte dos revolucionários de sua época - dentre eles a viúva de Lenin, Nadezhda Krupskaya, que o considerava "um traidor da causa revolucionária". Carl Sagan, em contrapartida, subscreve a exaltação de publicações socialistas europeias por ocasião de seu quinquagésimo aniversário de morte, descrevendo-o como "um grande e irrepreensível revolucionário" e "alguém que lutou por todos nós que amamos a civilização humana e que consideram que essa civilização é a nossa nacionalidade."

Apesar das contendas ideológicas, Trotsky segue sendo um intelectual de grande influência. O trotskismo - a despeito das críticas dos opositores que o rotulam como revisionismo heterodoxo do marxismo-leninismo - permanece como uma das mais populares correntes políticas entre as organizações marxistas ocidentais, que enxergam a doutrina como alicerce da oposição ao autoritarismo e como esteio da tese de que o socialismo não pode ser sustentado sem democracia. A volumosa produção intelectual de Trotsky inclui ainda, além das obras já citadas, "Nossas Tarefas Políticas", "Terrorismo e Comunismo", "Entre o Imperialismo e a Revolução", "Lenin", "A Revolução Desfigurada" e "História da Revolução Russa", entre outros textos.

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