Lily Safra


Vista da Villa Leopolda, residência da socialite brasileira Lily Safra. Localizada na Riviera Francesa, a mansão ocupa uma colina de Villefranche-sur-Mer, um dos mais luxuosos balneários europeus, localizado entre Nice e Mônaco. A Villa Leopolda é considerada a segunda residência mais cara do mundo, avaliada em 500 milhões de euros (cerca de 3 bilhões de reais). A mansão já teve proprietários famosos, nomeadamente Gianni Agnelli, dono da Fiat, e o rei da Bélgica, Leopoldo II, o infame carniceiro que conduziu um genocídio de mais de 10 milhões de pessoas no Congo. Palco de festas suntuosas frequentadas por personalidades como Frank Sinatra e Ronald Reagan, a mansão ocupa uma área de 80.000 metros quadrados e tem um vasto jardim com mais de 1.200 oliveiras.

Lily Safra nasceu em Canoas, no Rio Grande do Sul, filha do engenheiro ferroviário tcheco Wolf Watkins e de Anitta Noudelman, imigrante uruguaia de origem russo-judaica. Frequentou o Colégio Anglo-Americano e conheceu seu primeiro marido nos bailes do Clube Israelita. Tratava-se do milionário argentino Mario Cohen, dono de uma indústria de meias de náilon. O casal viveu no Brasil, no Uruguai e na Argentina, mas acabou se separando após Lily conhecer o playboy e magnata Fred Monteverde. Cohen faleceria alguns anos depois, em um acidente de carro.

Lily se casou com Fred Monteverde em 1965. Apenas quatro anos após o casamento, o empresário, dono da rede de eletrodomésticos Ponto Frio, comunicou publicamente sua intenção de se separar de Lily. No dia seguinte, foi encontrado morto em sua casa, com dois tiros no peito. O inquérito policial concluiu que Fred se suicidou, mas a família Monteverde sempre questionou essa versão. A irmã de Fred, Rosy Monteverde, chegou a insinuar a possível participação de Lily no episódio: "Era o dia seguinte ao funeral e ela estava se comportando graciosamente, recebendo pessoas e organizando tudo com o sangue-frio de uma secretária de Estado." A desconfiança nunca passou do terreno da especulação e Lily acabaria assumindo o controle acionário da rede Ponto Frio. Em 1972, Lily casou-se pela terceira vez, agora com um milionário inglês chamado Samuel Bendahan, mas o casamento, muito conturbado, foi anulado pouco tempo depois.

Quatro anos mais tarde, Lily passaria a se relacionar com o banqueiro Edmond Safra, coproprietário do Banco Safra e, à época, um dos homens mais ricos do Brasil. A família Safra se opôs ao relacionamento, uma vez que Joseph é de origem sefardita e Lily tem ascendência asquenaze. Apesar da resistência, o relacionamento evoluiu para um matrimônio. Este seria o casamento mais duradouro de Lily, mas também terminou em tragédia. O banqueiro morreu em 1999, durante um incêndio no apartamento em que o casal vivia, em Mônaco. Edmond estava cercado por uma equipe de enfermeiros e seguranças, quando o apartamento foi invadido. O invasor esfaqueou um segurança de Edmond e incendiou o imóvel. O banqueiro se trancou no banheiro junto com uma enfermeira para tentar escapar do incêndio, mas ambos acabaram morrendo intoxicados pela fumaça. Lily Safra estava no apartamento no momento do crime, mas não percebeu o que se passava, pois estava dormindo em uma outra ala. As investigações apontaram que o responsável pelo crime foi Ted Mahrer, um dos enfermeiros de Edmond, que assinou confissão afirmando ter iniciado o incêndio com o objetivo de realizar um resgate heroico, visando ser recompensado pelos Safra. Mahrer foi condenado a dez anos de prisão.

A inusitada história dos relacionamentos trágicos de Lily chamou a atenção da imprensa mundial e motivou o surgimento de rumores, que atingiram o seu pico quando Isabel Vincent, jornalista canadense, então funcionária do "The New York Post", resolveu escrever uma biografia não autorizada da socialite, questionando as mortes misteriosas de Fred Monteverde e Edmond Safra. O livro foi publicado em 2010 sob o título "Gilded Lily: the making of one of the world's wealthiest widows" ("Lily Dourada: a fabricação de uma das viúvas mais ricas do mundo"). A obra foi censurada pela justiça brasileira, que atendeu ao pedido de Leonardo Watkins, sobrinho de Lily, proibindo a editora Harper Collins de comercializar o livro no país.

Após a morte de Edmond Safra, Lily se tornou bilionária. Segundo o levantamento feito pela revista inglesa Eurobusiness, Lily era a 11ª mulher mais rica do mundo no ano 2000, com um patrimônio de 4,7 bilhões de dólares. Lily não voltaria a se casar, dedicando-se exclusivamente às atividades de socialite, realizando festas suntuosas frequentadas por personalidades como Joan Rivers e Elton John. Ingressou no círculo de confiança da realeza britânica, estabelecendo amizade com o príncipe Charles, ao ponto de ser a única brasileira convidada para o casamento de Willian e Kate Middleton. Durante décadas, Lily manteve uma rotina intensa de jantares, banquetes e eventos sociais, sediados nos imóveis de luxo que passou a colecionar nas cidades que mais frequentava: Nova York, Londres, Paris, Monte Carlo e Genebra. Outro passatempo desenvolvido pela socialite foi o colecionismo. Em duas décadas, Lily amealhou valiosos acervos de obras de arte e de joias raras.

Lily Safra também se dedicou a construir a reputação de filantropa, organizando sua própria fundação beneficente e participando de iniciativas conduzidas por celebridades. Suas ações são quase todas concentradas em países desenvolvidos. Nos Estados Unidos, Lily doou os fundos necessários para a construção de um centro de pesquisas da Universidade de Harvard e construiu um abrigo para pacientes do Instituto Nacional de Saúde, localizado em Washington, DC. A socialite também financia a Fundação Michael J. Fox e faz doações regulares para instituições beneficentes que ajudam estadunidenses a obterem tratamento médico. Em Israel, Lilly financiou a construção de um novo campus da Universidade Hebraica de Jerusalém, construiu um hospital infantil de última geração nos arredores de Tel Aviv, ergueu um alojamento para crianças com câncer no Vale do Rio Jordão e criou a Fundação Internacional de Educação Sefardita, que fornece bolsas de estudo para jovens israelenses. Lily construiu um orfanato na Romênia e um centro de assistência social para idosos na Ucrânia, além de auxiliar um fundo de caridade em Mônaco.

Lily também se ocupa de financiar a cultura e as artes. Integra o conselho diretor do Museu de Arte Moderna de Nova York, instituição para a qual faz doações regulares. É curadora do Museu da Herança Judaica de Nova York e compõe o Conselho Internacional da Orquestra Filarmônica de Israel. Também integra a mesa diretora do Museu de Israel - instituição que chegou a batizar uma de suas alas com o nome da socialite, em reconhecimento à sua generosidade. Lily também financiou a compra de obras de arte para ampliar os acervos da Tate Gallery, em Londres, do Centro Pompidou, em Paris, e do Whitney Museum em Nova York. Ela financia um programa de formação de educadores conduzido pela National Gallery of Art, em Washington, DC, bem como um programa de bolsas de estudo do Instituto de Arte Courtauld, em Londres. Recentemente, muito comovida com o incêndio na Catedral de Notre Dame de Paris, Lily doou 88 milhões de reais para financiar a restauração do templo.

No Brasil, Lily Safra doou parte dos recursos necessários para a construção do Instituto Santos Dumont, um centro de pesquisa em neurociência dirigido pelo professor Miguel Nicolelis. A maior parte dos recursos, entretanto, foi disponibilizada pelo governo do Rio Grande do Norte e pela prefeitura de Natal e o instituto é mantido com verbas do governo federal. Lily também doou recursos para ajudar a construir o sistema de esgoto de uma pequena cidade no interior da Bahia. A socialite, porém, nunca financiou nenhum projeto autônomo em seu país natal. Tampouco fez qualquer doação para um museu brasileiro. Não contribuiu nem mesmo com um centavo para o fundo de reconstrução do Museu Nacional, destruído por um incêndio em 2018.

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