Luís Carlos Prestes
O capitão Luís Carlos Prestes na década de 1920. Líder da Coluna Prestes e secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro entre 1943 e 1980, Prestes foi uma das personalidades políticas mais influentes do Brasil durante o século XX.
Luís Carlos Prestes nasceu em Porto Alegre em 3 de janeiro de 1898. Após a morte precoce do pai, ingressou na carreira militar, à época uma das poucas possibilidades de ascensão social. Formou-se engenheiro pela Escola Militar de Realengo em 1919, ascendendo rapidamente em sua carreira. Apenas dois anos após a formatura, já havia alcançado o posto de capitão dos engenheiros do Exército. Desempenhou a função de instrutor da Escola de Realengo e trabalhou como engenheiro na Companhia Ferroviária de Deodoro.
Apesar de promissora, a carreira de Prestes no Exército Brasileiro foi curta. Insatisfeito com a corrupção e com o clientelismo do governo oligárquico da República Velha, Prestes aderiu ao tenentismo - um movimento político-militar formado por militares de baixas e médias patentes que defendiam reformas na estrutura do poder, tais como o fim do voto de cabresto, o fim da "política do café com leite", maior independência entre os três poderes e a ampliação dos investimentos no ensino público.
Em 1922, Prestes tomou parte na Revolta dos 18 do Forte de Copacabana, levante militar no Rio de Janeiro que tinha por objetivo derrubar o presidente Epitácio Pessoa e impedir a posse de Artur Bernardes. A rebelião fracassou e Prestes foi punido com a sua transferência para a cidade de Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul. Em 1924, Prestes abandonou o exército e passou a trabalhar em uma empresa de engenharia local, mas seguiu reunindo os militares interessados em organizar um levante. Pouco tempo depois, liderou um grupo de militares rebeldes oriundos da região das Missões, partindo de Santo Ângelo para São Luiz Gonzaga, onde permaneceu por dois meses aguardando o contrabando de um lote de munições que não se concretizou.
Paralelamente, o movimento tenentista organizava duas importantes rebeliões - a Revolta Paulista de 1924 e a Comuna de Manaus. Derrotadas em Três Lagoas, as tropas tenentistas que lutavam na Revolta Paulista recuaram para o Sul do Brasil, abrigando-se em Foz do Iguaçu. Os oficiais de Prestes decidiram então romper o chamado "Anel de Ferro" das forças legalistas e rumaram para o Paraná, a fim de se encontrarem com os combatentes de São Paulo. As tropas tenentistas paulistas e gaúchas se fundiram para formar a Coluna Prestes, o maior movimento guerrilheiro que existira no Brasil até então. O movimento reivindicava o fim do governo de Artur Bernardes, a superação do regime oligárquico da República Velha e a criação políticas sociais para combater a miséria e a injustiça social. A coluna era composta por aproximadamente 1.500 homens, que percorreram 25.000 quilômetros em treze estados do Brasil ao longo de dois anos e cinco meses.
Em fevereiro de 1927, após a travessia do Pantanal, a coluna se dividiu em duas frentes. As tropas comandadas por Siqueira Campos foram para o Paraguai ao passo que o restante da coluna se exilou na Bolívia. Malgrado o fato de que os guerrilheiros não conseguiram atingir seus objetivos políticos, a marcha consagrou Luís Carlos Prestes como líder da esquerda revolucionária brasileira, que lhe conferiu a alcunha de "Cavaleiro da Esperança". Na Bolívia, Prestes estudou o marxismo e travou contato com os comunistas argentinos Rodolfo Ghioldi e Abraham Guralski - esse último dirigente da Internacional Comunista. Conforme acordado durante a Primeira Conferência Latino-Americana dos Partidos Comunistas, realizada em Buenos Aires, os representantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB) convidaram Prestes a participar das eleições presidenciais de 1930, sob uma estratégia de aliança de classes. Ao recusar o convite, Prestes deu início ao cisma conhecido como "prestismo", quando vários líderes comunistas abandonaram o PCB para segui-lo.
A eleição de 1930 foi vencida pelo paulista Júlio Prestes, mas os políticos e militares unidos na Aliança Liberal se recusaram a reconhecer a legitimidade do pleito, dando início à Revolução de 1930. Com Washington Luís deposto e Júlio Prestes impedido de assumir o governo, encerrava-se o domínio das velhas oligarquias sobre a chamada "política do café com leite", substituídas por um novo arranjo institucional mais adequado ao cenário de crise econômica instalada após a quebra da bolsa de valores de Nova York. Luís Carlos Prestes foi convidado a comandar os militares durante a Revolução de 1930, ao lado do chefe civil do levante, Getúlio Vargas. Osvaldo Aranha, outro líder da rebelião, havia transferido para Prestes um montante de 800 contos de réis para a compra de armamentos. Prestes, entretanto, decidiu não tomar parte no levante, que enxergava como uma mera substituição de representantes da plutocracia, e repassou o dinheiro entregue por Aranha para a Internacional Comunista. Em novembro de 1930, Vargas assumiu a chefia do governo provisório, encerrando a República Velha.
Em 1931, Prestes mudou-se para a União Soviética, a convite do governo deste país, passando a trabalhar como engenheiro e a se dedicar ao estudos do marxismo-leninismo. Em 1934, por pressão do Partido Comunista da União Soviética, o PCB o aceitou como filiado. Eleito membro da comissão executiva da Internacional Comunista, Prestes foi imbuído da missão de organizar a revolução no Brasil, voltando ao país clandestinamente, acompanhado pela militante alemã Olga Benário, com quem se envolveu afetivamente. No Brasil, Prestes estabeleceu vínculos com a recém-constituída Aliança Nacional Libertadora (ANL), uma organização de cunho nacionalista e democrático que congregava diversos setores da sociedade, incluindo militares de baixa e média patente e militantes comunistas. Eleito presidente de honra da ANL, Prestes buscou concretizar uma aliança entre a organização e os oficiais tenentistas, visando criar as bases para para deflagrar a tomada do poder no Brasil e a instauração de um regime socialista no país. Em julho de 1935, Prestes escreveu um manifesto conclamando os filiados a se empenharem na derrubada do governo Vargas.
Prestes havia idealizado a criação de um movimento militar apoiado pelas massas, que atraísse apoio da classe operária, do campesinato e da burguesia progressista, progredindo então para uma ação revolucionária, apoiada pelo Comitê Executivo da Internacional Comunista. Não obstante, militares ligados à ANL iniciaram uma série de insurreições em novembro de 1935, obrigando Prestes e o PCB a adiantarem seus planos e improvisarem suas ações. O Levante Comunista se iniciou com a sublevação das guarnições do Exército Brasileiro em Natal, espalhando-se posteriormente por Recife e Rio de Janeiro. Embora tenha logrado a instalação de um governo revolucionário provisório em Natal, o levante foi prejudicado pela improvisação, falta de comunicação e baixa aderência, limitando-se a uma série de ataques de militares rebeldes aos quartéis. Em menos de uma semana, o Levante Comunista foi debelado. Os militares revoltosos e os militantes do PCB foram presos. A polícia política de Vargas, sob comando de Filinto Müller, desencadeou um processo brutal de repressão, prisão, tortura e assassinato de comunistas.
Prestes foi preso em março de 1936 e perdeu sua patente. Permaneceria encarcerado por nove anos. Em 1940, recebeu uma segunda sentença de 30 anos de prisão por envolvimento na morte de Elza Fernandes, mas foi anistiado por Vargas em troca de apoio político à sua candidatura. Olga Benário, por sua vez, foi deportada para a Alemanha Nazista, mesmo estando grávida de Prestes e mesmo sendo de conhecimento público que sua vida estaria em risco, uma vez que era comunista e tinha ascendência judaica. Vargas se recusou a impedir a deportação e Olga foi executada na câmara de gás no campo de concentração de Ravensbrück. Sua filha, Anita Leocádia Prestes, nasceu na prisão e foi entregue à mãe de Prestes após intensa campanha internacional.
Com o fim do Estado Novo, Prestes foi anistiado e o Partido Comunista Brasileiro (PCB) foi legalizado. Prestes assumiu o cargo de secretário-geral do partido, que exerceria até 1980. Na legalidade e sob a direção de Prestes, o PCB obteve visibilidade e grande apoio popular, atingindo o maior crescimento da sua história, chegando a contar com mais de 100 mil filiados. Nas eleições de 1945, o partido alcançou resultados surpreendentes. Prestes foi eleito deputado federal pelo Distrito Federal (Rio de Janeiro), Pernambuco e Rio Grande do Sul e senador pelo Distrito Federal, optando pela vaga senatorial. No congresso, o PCB obteve 10% dos votos nacionais, elegendo uma bancada histórica de 15 deputados. Prestes liderou a bancada da Assembleia Constituinte de 1946, composta por, entre outros, Jorge Amado (eleito por São Paulo), Carlos Marighella (eleito pela Bahia), João Amazonas (eleito pelo Rio de Janeiro) e Claudino Silva (único constituinte negro, também eleito pelo Rio de Janeiro).
O avanço do PCB alarmou os setores conservadores e reacionários da elite brasileira e, em 1947, apenas dois anos após sua legalização, o registro do partido foi proscrito e todos os seus parlamentares - incluindo Prestes - foram cassados. Perseguido, Prestes voltou a atuar na clandestinidade. Em 1950, conheceu sua segunda companheira, Altamira Rodrigues Sobral, que adotou a alcunha Maria Prestes. Em 1958, Prestes teve sua prisão decretada mais uma vez, mas a ordem foi revogada por mandado judicial.
Após o golpe militar de 1964 e a decretação do Ato Institucional n.º 1 (AI-1), Prestes teve seus direitos políticos novamente revogados pelo prazo de dez anos. Perseguido pelos militares, conseguiu fugir, mas teve sua casa invadida pela polícia, que encontrou uma série de documentos que serviram de base para abertura de inquéritos. O processo denominado "cadernetas de Prestes" resultaria na condenação à revelia de várias pessoas, nomeadamente Giocondo Dias. Com o recrudescimento da repressão do regime militar, Prestes deixou o Brasil no fim dos anos sessenta, exilando-se na União Soviética.
Após a promulgação da Lei da Anistia em 1979, Prestes retornou ao Brasil. Em 1980, publicou a Carta aos Comunistas, por meio da qual anunciou seu rompimento com o Partido Comunista Brasileiro, afirmando que "tornou-se evidente que o PCB não está exercendo um papel de vanguarda" e criticando a metamorfose da agremiação em "um partido reformista, desprovido do seu caráter revolucionário e dócil aos objetivos do regime ditatorial".
Após sua saída do PCB, Prestes foi convidado por vários grupos e personalidades de esquerda para liderar o processo de criação de uma nova legenda revolucionária, mas negou todos os convites afirmando que tal agremiação só poderia surgir a partir "das lutas do povo". Deu apoio crítico às candidaturas de Leonel Brizola ao governo do estado do Rio de Janeiro e, em 1989, à Presidência da República. Por conta disso, recebeu o título de presidente de honra do Partido Democrático Trabalhista (PDT). Seguiu, entretanto, defendendo a necessidade de construir um partido comunista efetivamente revolucionário e militando pela revolução comunista até o fim de sua vida.
Luís Carlos Prestes faleceu no Rio de Janeiro, em 7 de março de 1990, aos 92 anos. Seu cortejo fúnebre foi acompanhado por multidões. Malgrado as polêmicas ao longo de sua trajetória, Prestes é uma referência de incontestável importância na história do Brasil República e um expoente do comunismo na América Latina. O poeta chileno Pablo Neruda lhe dedicou um poema em sua obra "Canto Geral", que reconta a história da América Latina a partir do ponto de vista dos povos explorados, referindo-se a Prestes como "claro capitão". Jorge Amado contou sua história em prosa e verso na biografia intitulada "O Cavaleiro da Esperança" - mesmo título da canção composta pelo compositor Taiguara em sua homenagem.
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