Luiza Erundina e a legalização do skate
Luiza Erundina, recém-eleita prefeita de São Paulo, anda de skate para comemorar a legalização do esporte, em 1989.
A prática do skate teve seu ápice de popularidade nos anos oitenta em São Paulo, tornando-se um elemento de identificação de movimentos de contracultura e um passatempo muito estimado entre adolescentes e jovens adultos. O esporte, entretanto, desagradava profundamente o prefeito de São Paulo, Jânio Quadros, conhecido por seu moralismo conservador. Em maio de 1988, irritado com o barulho dos skatistas fazendo manobras nos arredores do seu gabinete, Jânio resolveu proibir a prática do skate na região central da cidade.
Indignados com a medida, centenas de jovens se organizaram e resolveram realizar um protesto, exigindo a revogação da proibição, certos de que o prefeito recuaria. Ledo engano. Jânio não apenas não recuou como dobrou a aposta: encomendou à sua base de apoio no legislativo um projeto de lei que proibia a prática do skate em toda a capital paulista. Após uma tramitação relâmpago, o projeto foi sancionado pelo prefeito e andar de skate virou crime. Um memorando enviado ao secretário municipal dos Transportes, o coronel reformado da Polícia Militar Geraldo Penteado, solicitava a detenção de “todos aqueles que praticarem esse esporte, no leito das ruas e nos logradouros públicos”.
Os jovens se recusavam a obedecer à proibição, que viam como abusiva e absurda. Os agentes de segurança responderam intensificando a repressão. Centenas de jovens começaram a ser detidos ou até mesmo presos por andar de skate. As abordagens eram especialmente truculentas nas periferias, servindo como mais uma justificativa para o controle social. Abordagens e tumultos entre policiais, guardas metropolitanos, fiscais e skatistas viraram rotina. Os skatistas criaram uma campanha denominada "Andar de Skate Não É Crime", emplacada pela revista "Yeah!", mas a pressão não demoveu o prefeito.
Como se tratava de ano eleitoral, os skatistas desistiram de convencer Jânio a voltar atrás e resolveram procurar os candidatos à prefeitura para tentar obter um compromisso de reverter a proibição numa gestão futura. A única candidata que levou a demanda a sério, entretanto, foi Luiza Erundina, que afirmou que o pedido era "uma reivindicação natural da juventude, uma disputa de espaço que tem sentido" e se comprometeu a legalizar a prática do skate se vencesse a eleição para a prefeitura. Erundina venceu o pleito de 1988 e, mantendo a palavra, legalizou a prática do skate já no seu primeiro ano de mandato.

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