Maiores mansões de São Paulo


Em 2004, o fotógrafo Tuca Vieira publicou uma imagem da cidade de São Paulo que se tornaria um dos mais famosos registros iconográficos da desigualdade econômica no capitalismo periférico. A fotografia mostrava o contraste entre um horizonte tomado por barracos da Favela de Paraisópolis contrapostos às sacadas com piscinas privativas de um condomínio de luxo do Morumbi. Sete anos mais tarde, o censo demográfico do IBGE registraria um dado que ajudaria a quantificar a disparidade social expressa naquela imagem: a cidade de São Paulo tinha mais imóveis abandonados do que pessoas precisando de lugar para morar.

A operação censitária de 2010 registrou a existência de 293 mil imóveis vazios na capital paulista, ao passo que um estudo da Secretaria Municipal da Habitação da Prefeitura de São Paulo, publicado no mesmo ano, apontava que 150 mil famílias não tinham onde morar, ou viviam em habitações muito precárias. A existência de moradores de rua é, portanto, uma opção dos que detêm o poder econômico e político, mais do que um obstáculo de ordem material. O déficit habitacional da capital paulista seguiu aumentando na última década, o que é perceptível no crescimento exponencial da população de rua, sobretudo nos últimos quatro anos. A atual gestão da Prefeitura de São Paulo, entretanto, não parece preocupada com a resolução do problema, agindo como fiadora dos agentes da especulação imobiliária. A entrega de moradias populares recuou aos patamares de duas décadas atrás e o número de notificações a proprietários de imóveis abandonados limitou-se a uma cifra risível de 1.098 ações.

Na outra ponta da equação, há os proprietários milionários. Um estudo publicado pelo jornal O Estado de S. Paulo, produzido a partir do cruzamento da base de contribuintes imobiliários com a de valores venais de imóveis, demonstrou que 1% dos donos de imóveis de São Paulo concentra 45% do valor imobiliário da cidade. São 749 bilhões de reais em casas, apartamentos, terrenos e outros bens imobiliários registrados em nome de 22 mil proprietários. Como o estudo é calculado com base nos valores venais dos imóveis - ou seja, sempre abaixo do preço real de mercado - pode-se afirmar seguramente que a cifra é consideravelmente maior.

A concentração não reflete apenas o valor imobiliário, mas representa também a monopolização pela elite paulistana das áreas onde há mais espaço, melhor infraestrutura urbana, mais áreas verdes e maior qualidade de vida. Em outras palavras, o 1% é dono dos melhores lugares da cidade. E ocupam muito espaço. A capital paulista concentra 1840 mansões com mais de 700 metros quadrados de área construída. Somados, esses imóveis ocupam uma uma área equivalente a 107 mil casas populares.

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