Marechal Tito


Marechal Tito participando da segunda sessão do Conselho Antifascista de Libertação Nacional da Iugoslávia, em novembro de 1943.

Josip Broz Tito nasceu em 7 de maio de 1892 em Kumrovec, na Croácia, à época parte integrante do Império Austro-Húngaro. Envolveu-se ainda jovem com o movimento operário, filiando-se ao sindicato dos metalúrgicos e ao Partido Social-Democrata da Croácia. Em 1913, ingressou no Exército Austro-Húngaro, onde galgaria uma rápida ascensão, tornando-se o mais jovem sargento-major do país. Após a eclosão da Primeira Guerra Mundial, foi enviado para a Frente Oriental, onde combateu as tropas da Rússia. Ferido em combate, foi capturado pelos russos e enviado para um campo de trabalhos forçados nos Montes Urais, onde se tornou líder dos prisioneiros.

Durante a Revolução Russa de 1917, trabalhadores revoltados invadiram a prisão onde Tito estava detido e libertaram os prisioneiros. Tito imediatamente uniu-se aos bolcheviques e passou a combater as tropas czaristas. Alguns meses depois, serviu na Revolução de Outubro, ingressando na Guarda Vermelha de Omsk. Perseguido em uma ofensiva do contrarrevolucionário Exército Branco, refugiou-se na Quirguízia. Após seu retorno a Omsk, casou-se com a militante comunista Pelagija Belousova. Após a a vitória dos revolucionários, filiou-se à seção iugoslava do Partido Comunista Russo, em 1918, e retornou à sua terra natal, agora parte do Reino da Iugoslávia, em 1920.

Na Iugoslávia, Tito ingressaria na Liga dos Comunistas e se dedicaria a difundir o ideário marxista. O bom desempenho eleitoral dos comunistas nas eleições parlamentares assustaria o governo iugoslavo. O assassinato do ministro Milorad Drašković serviria de justificativa para banir a Liga dos Comunistas e cassar os mandatos dos deputados de esquerda. Pouco tempo depois, Tito seria preso sob a acusação de agitação e incitação à desordem. Após se refugiar em Viena, partiu para a União Soviética em 1935, unindo-se ao Comintern e ingressando no serviço secreto soviético, o NKVD. Em 1936, Tito liderou os esforços de arregimentar voluntários para combater na Guerra Civil Espanhola e, no ano seguinte, retornou a à Iugoslávia para reorganizar a Liga Comunista.

Tito teve um papel fundamental no combate ao nazifascismo durante a Segunda Guerra Mundial. Em abril de 1941, forças da Alemanha Nazista, auxiliadas por tropas da Itália e Hungria, invadiram a Iugoslávia e rapidamente subjugaram as defesas nacionais. Em resposta, Tito formou um comitê militar dentro do Partido Comunista iugoslavo e passou a conclamar o povo a resistir contra a ocupação nazista. Liderando um exército popular com quase um milhão de guerrilheiros (ditos partisans), Tito conseguiu libertar vários territórios do domínio alemão, nomeadamente a República de Užice, além de colaborar com a fuga de milhares de judeus. À medida que libertavam os territórios, os partisans estabeleciam comitês populares para atuar como um governo civil, organizados em torno do Conselho Antifascista de Libertação Nacional da Iugoslávia. O conselho estabeleceu as bases para organização do país no pós-guerra, nos moldes de uma federação de nações iugoslavas. Apoiado pelas nações aliadas durante a Conferência de Teerã, Tito assumiu o controle do Comitê Nacional em 1943. No ano seguinte, os partisans iugoslavos prepararam uma massiva ofensiva geral que resultou na destruição das linhas alemãs e na expulsão definitiva dos nazistas da Iugoslávia.

Após o fim da guerra, o rei Pedro II foi deposto e a monarquia iugoslava foi abolida. O país foi refundado sob o nome de República Federal Popular da Iugoslávia e marechal Tito assumiu o cargo de primeiro-ministro. Sob o comando de Tito, a Iugoslávia implementou um governo socialista, com a instituição de um amplo programa de reforma agrária e a universalização dos sistemas de saúde e educação e do direito à moradia. Não obstante, o país desenvolveu um modelo próprio de economia planificada, contrariando as diretrizes de Moscou. O modelo iugoslavo, futuramente batizado de "titoísmo", previa a introdução do lucro compartilhado e a autogestão operária das empresas nacionais. Tito também buscou preservar a independência da política externa da federação balcânica em relação à União Soviética, causando crescentes atritos com Josef Stalin. Contrariado, o mandatário soviético expulsou Tito do Cominform - o órgão de concertação internacional do Partido Comunista da URSS.

O distanciamento de Stalin permitiu a Tito reaproximar-se dos países ocidentais e receber auxílio dos Estados Unidos por intermédio do Plano Marshall. O líder iugoslavo, entretanto, também recusou a adesão automática aos interesses do Ocidente, preferindo apoiar o Movimento dos Países Não Alinhados, uma alternativa para as nações que que pretendiam manter-se neutras em meio às disputas da Guerra Fria. Após a morte de Stalin e a instituição da política da Détente por Brejnev, Iugoslávia e União Soviética se reaproximaram. Tito também se reconciliou com o governo da China, de quem havia se afastado após ser rotulado como "revisionista". A Iugoslávia seguiu, entretanto, mantendo relações comerciais e diplomáticas amistosas com nações ocidentais antissocialistas - embora tenha cortado relações diplomáticas com o Chile após o golpe militar que depôs Salvador Allende.

Tito foi reeleito para o cargo de presidente da Iugoslávia por seis mandatos consecutivos. Na década de 1970, o mandatário introduziu uma série de reformas políticas limitando a própria participação no governo e fomentando a descentralização administrativa, dando maior autonomia às repúblicas e províncias da federação. Não obstante, o governo iugoslavo conseguiu suprimir levantes emancipacionistas e manter a unidade do país. Tito faleceu Liubliana, na Eslovênia, em 4 de maio de 1980.

A morte de Tito e a subsequente dissolução do governo socialista tiveram consequências drásticas para as repúblicas balcânicas. Ódio, ressentimentos e disputas políticas e ideológicas entre diferentes grupos étnicos regionais mergulharam a região em uma sangrenta disputa fratricida, fragmentando a Iugoslávia e desencadeando o maior conflito bélico europeu após a Segunda Guerra Mundial, marcado por genocídios e graves violações de direitos humanos.

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