Mutirões autogeridos


Conjunto de casas populares construídas pelo Mutirão 26 de Julho, em São Mateus, Zona Leste de São Paulo, em 1990, segundo ano da gestão Luiza Erundina.

A assistente social paraibana Luiza Erundina foi a primeira mulher, a primeira nordestina e a primeira personalidade da esquerda política a vencer a disputa pelo cargo de prefeita de São Paulo, que ocupou entre 1989 e 1993. Seu governo é até hoje avaliado de forma positiva pelos moradores da periferia de São Paulo, sobretudo pelos programas sociais como os mutirões. Erundina foi a prefeita que mais entregou moradias populares na história do Brasil - mais de 100 mil unidades habitacionais, beneficiando quase meio milhão de pessoas.

Sua gestão se notabilizou pela organização dos mutirões autogeridos, programa premiado pela ONU como uma das práticas mais bem sucedidas de política habitacional. Os mutirões ajudaram a diminuir sensivelmente o déficit habitacional de São Paulo e a urbanizar grandes áreas periféricas, sobretudo na Zona Leste do município. Os próprios futuros moradores trabalhavam na construção dos conjuntos habitacionais e das casas populares, num processo marcado pelos altos níveis de autonomia, mobilização e organização política das comunidades, inclusive na compra dos materiais e na contratação de assessoria técnica e mão-de-obra especializada. Como resultado, houve redução dos custos e do desperdício e a economia conseguida pelos mutirantes era revertida em melhor qualidade e acabamento das moradias, além de movimentar os comércios locais e beneficiar os pequenos e médios empresários.

Apesar de bem sucedido, o projeto dos mutirões foi descontinuado pelo sucessor de Erundina, Paulo Maluf, que chegou a afirmar, como motivo para suspensão do programa, que "as casas eram boas demais para os pobres". Paulo Maluf substituiu os mutirões pelo "Projeto Cingapura", que previa a construção de conjuntos habitacionais por grandes empreiteiras, contratadas em licitações multimilionárias, resultando na sensível diminuição do ritmo de entrega de unidades e em construções mais caras, mais demoradas, de menor qualidade e, não raramente, superfaturadas. Embora tenha gastado quase o mesmo montante de recursos, o Projeto Cingapura entregou apenas 20 mil moradias - 80% a menos do que os mutirões de Erundina.

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