Olga Benário (I)
Olga Gutmann Benário Prestes nasceu em 12 de fevereiro de 1908 em Munique, na Alemanha, em uma família judia de classe média. Após concluir o ensino básico, passou a trabalhar comercializando livros, ao lado do editor Georg Müller. Ingressou no movimento comunista aos 15 anos de idade, juntando-se primeiramente à seção juvenil do Partido Comunista Alemão (KPD) e posteriormente à Liga Juvenil Comunista da Alemanha (KJVD). Após uma série de conflitos ideológicos com seu pai, membro ativo do Partido Social-Democrata Alemão, Olga mudou-se para Berlim, onde passou a viver com o namorado, o militante comunista Otto Braun.
Berlim vivia um clima de forte tensão social e efervescência política desde o Levante Espartaquista de 1919, quando Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht foram assassinados. Olga e Otto se dedicaram ao enfrentamento nas ruas contra as milícias de direita, atuando nos conflitos de Kreuzberg. O casal foi preso sob a acusação de "alta traição à pátria". Pouco tempo depois, Olga foi posta em liberdade, mas Otto permaneceu encarcerado. Olga coordenou então uma invasão à prisão de Moabit, conseguindo libertar seu namorado. Em seguida, os dois fugiram para a União Soviética, onde receberam treinamento político e militar na Escola Lenin. Pouco tempo depois, Olga se separou de Braun e passou a trabalhar como instrutora da Seção Juvenil da Internacional Comunista. Em 1931, conheceu o revolucionário brasileiro Luís Carlos Prestes, recém-chegado à União Soviética.
Luís Carlos Prestes havia sido encarregado pela Internacional Comunista de preparar uma insurreição armada no Brasil. Olga recebeu a missão de protegê-lo e auxiliá-lo a preparar o levante. O plano previa que Olga e Prestes se passassem por marido e mulher, mas os dois acabaram se envolvendo afetivamente, tornando-se cônjuges. Em 1934, o casal desembarcou no Brasil e começou a preparar a insurreição, com apoio do aparelho do Comintern no Rio de janeiro e do Secretariado Latino-Americano, sediado em Montevidéu, no Uruguai. Prestes intencionava envolver a Aliança Nacional Libertadora (ANL) na ação. A ANL era uma frente política antifascista e anti-imperialista que congregava tenentes, militares de baixa patente, socialistas e comunistas que faziam oposição ao governo de Getúlio Vargas e à Ação Integralista Brasileira, grupo de inspiração fascista dirigido por Plínio Salgado.
Antes que a insurreição nacional terminasse de ser preparada, entretanto, um levante armado estourou na cidade de Natal. Prestes tentou difundir a insurreição pelo resto do país, mas o movimento teve baixa adesão. Apenas algumas unidades militares do Recife e do Rio de Janeiro sublevaram-se. As forças legalistas de Vargas conseguiram controlar rapidamente a situação e desencadearam uma forte repressão contra os rebeldes, prendendo vários líderes comunistas - incluindo o casal Artur e Elise Ewert, ambos brutalmente torturados pela polícia brasileira, sob ordens de Filinto Müller. Olga e Prestes foram capturados pela polícia em março de 1936. Após ser encaminhada para a Casa de Detenção, Olga descobriu que estava grávida de Prestes.
O governo alemão, já sob o regime nazista de Adolf Hitler, solicitou a extradição da revolucionária. O advogado de Olga solicitou um habeas corpus por razões humanitárias, alegando que a deportação para a Alemanha colocaria em risco a vida de sua cliente, uma vez que Olga era judia e comunista. Também argumentou que a extradição seria ilegal, já que Olga estava esperando o filho de um cidadão brasileiro. Não obstante, o Supremo Tribunal Federal (STF) aprovou o pedido de extradição, assinado pelo ministro da justiça, Vicente Rao. Getúlio Vargas se negou a intervir, referendando o ato de expulsão. Olga foi deportada para a Alemanha a bordo do cargueiro La Coruña, sob protesto do próprio capitão da embarcação. Os soviéticos elaboraram um plano para tentar resgatar Olga durante uma escala que o cargueiro faria no porto de Southampton, no Reino Unido, mas os serviços de informação ingleses impediram a ação.
O navio aportou na Alemanha em outubro de 1936. Oficiais da Gestapo já esperavam por Olga. Mesmo sem nenhuma acusação formal, Olga foi enviada para a prisão de Barnimstrasse, pois a legislação nazista autorizava a detenção extrajudicial por tempo indeterminado. Em Barnimstrasse, Olga deu à luz sua filha, batizada de Anita Leocádia, entregue aos cuidados da avó paterna. Em 1938, Olga foi transferida para o campo de concentração de Lichtenburg e posteriormente para o campo de Ravensbrück, famoso pelo regime de trabalho escravo e pelas experiências antiéticas feitas pelo médico Karl Gebhardt. A documentação produzida pelo regime nazista nesse período, o chamado "Processo Benário" (conjunto de oito dossiês com mais de 2.000 folhas), relata que Olga era considerada pela Gestapo como "uma comunista perigosa e obstinada", "inimiga do Estado da alemanha Nazista" e que "durante os interrogatórios realizados não relatou nada sobre suas atividades comunistas". A documentação diz ainda que Olga se dedicava a dar aulas de história, ginástica e atividades de promoção de solidariedade entre as detentas.
Olga foi transferida para o campo de extermínio de Bernburg, sendo executada na câmara de gás em 23 de abril de 1942, aos 34 anos de idade, ao lado de outras 199 prisioneiras. Sua família só foi alertada sobre sua morte em julho de 1945, após o fim da Segunda Guerra na Europa e a derrocada do regime nazista.
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