Operação Fúria Urgente


Soldados estadunidenses exibem uma faixa com os dizeres "comunismo termina aqui", nos arredores do Aeroporto de Point Salines, em Granada. As Forças Armadas dos Estados Unidos invadiram a nação caribenha em 1983, durante a Operação Fúria Urgente, para derrubar o governo socialista que fora estabelecido por Maurice Bishop.

As primeiras eleições de Granada foram realizadas em 1976, dois anos após a pequena nação insular do Caribe decretar sua independência do Reino Unido. O pleito, vencido pelo premiê Eric Gairy, foi marcado por denúncias de fraude e manipulação. Observadores internacionais confirmaram que uma milícia armada chamada "Mongoose Gang" atuava para intimidar e eliminar adversários e opositores do premiê.

Gairy assumiu o cargo de primeiro-ministro e atuou para abafar as denúncias de fraude nos anos seguintes, mas não conseguiu conter a crescente insatisfação popular e as acusações de que seu governo era ilegítimo. Maurice Bishop, líder de um partido marxista-leninista chamado Movimento New Jewel, assumiu a liderança da oposição, conclamando as massas a se rebelarem. Em março de 1979, uma grande rebelião popular armada depôs o primeiro-ministro Eric Gairy e fundou o Governo Revolucionário Popular de Granada.

Bishop assumiu o cargo de primeiro-ministro e estabeleceu um governo socialista em Granada, com amplo apoio da população. Entre 1979 e 1984, o governo granadiano implementou uma série de reformas políticas e programas sociais. Bishop introduziu o sistema universal de saúde pública, ampliou as redes de ensino, criou programas para estimular o emprego e campanhas de combate ao analfabetismo. Em quatro anos, a taxa de analfabetismo de Granada foi reduzida de 35% para 5% da população e a taxa de desemprego caiu de 50% para 14%. Bishop criou uma legislação de proteção aos direitos trabalhistas, estabeleceu leis de combate ao racismo, decretou a igualdade formal entre homens e mulheres, determinou a equiparação de salários, adotou a licença remunerada, tornou ilegal a discriminação sexual e criou as organizações populares de autogestão regional. Bishop também substituiu as forças armadas de Granada por um Exército Popular Revolucionário. No campo da política externa, o governo granadiano buscou se aproximar de Cuba, Alemanha Oriental e União Soviética.

Incomodado com a adoção de políticas anticapitalistas em Granada e com a aproximação entre a ilha e os governos socialistas, o presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, passou a acusar Granada de estar "militarizando o Caribe" e se tornando uma "ameaça potencial aos Estados Unidos". Reagan apontava como evidência de "militarização" a construção do aeroporto internacional de Granada, financiado pelo governo cubano. Paralelamente à crise diplomática com os Estados Unidos, Granada viu-se mergulhada em uma crise política interna, quando o vice-primeiro-ministro do país, Bernard Coard, rompeu com Bishop, destituindo-o em um golpe de Estado e ordenando sua prisão. O governador-geral de Granada, Paul Scoon, também foi preso. Duas semanas após sua detenção, Bishop foi fuzilado por milicianos ligados a Coard.

A deposição e assassinato de Bishop revoltaram a população, que passou a se manifestar de forma massiva nas ruas de Granada e a invadir prédios públicos. Temendo que a mobilização popular ensejasse a continuidade de um governo revolucionário mesmo após a morte de Bishop, os Estados Unidos decidiram intervir militarmente na ilha. Reagan justificou a intervenção alegando que precisava agir para proteger os civis estadunidenses que estavam em Granada.

A invasão, denominada Operação Fúria Urgente, começou às 5 horas da manhã do dia 25 de outubro de 1983 e contou com a participação de 7.000 soldados, transportados por aeronaves e navios de guerra. Os governos vassalos de Jamaica e Barbados e a Organização dos Estados do Caribe Oriental também despacharam tropas para auxiliar os Estados Unidos na invasão. A luta durou vários dias e deixou centenas de mortos e feridos. Cuba despachou 600 soldados para auxiliar os militares granadianos, em sua maioria leais à revolução socialista. As forças locais impuseram forte resistência, mas foram subjugadas pela superioridade naval e aérea dos invasores.

Os Estados Unidos seguiram ocupando militarmente a ilha de Granada até dezembro de 1983, quando o governador-geral, Paul Scoon, foi coagido a nomear um novo governo subordinado aos interesses estadunidenses. A operação militar foi criticada até mesmo por aliados dos Estados Unidos, que a enxergaram como uma intervenção desproporcional nos assuntos internos de uma nação muito menor. Para rebater as críticas, o Departamento de Estado do governo estadunidense lançou uma campanha de desinformação, chegando a afirmar que havia descoberto uma vala com mais de 100 corpos de habitantes de Granada assassinados por revolucionários socialistas. Provou-se posteriormente que a acusação era falsa.

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