Revolta dos Dezoito do Forte de Copacabana


A "Marcha para a Morte" dos revoltosos de Copacabana: da esquerda para direita, os tenentes Eduardo Gomes, Siqueira Campos, Nílton Prado e o civil Otávio Correia. Iniciada em 5 de julho de 1922, a Revolta dos Dezoito do Forte de Copacabana foi a primeira de uma série de rebeliões de jovens oficiais de baixa e média patente do Exército Brasileiro ocorridas ao longo da década de 1920 - o chamado Movimento Tenentista.

O movimento surgiu em função do descontentamento com a situação política e econômica do Brasil. Desde o fim da Primeira Guerra Mundial, o país passava por uma grave crise fiscal, acentuada pela queda abrupta das exportações durante a gestão de Epitácio Pessoa. Paralelamente, o governo federal, há décadas dominado pelas elites oligárquicas de São Paulo e Minas Gerais, seguia subordinado à "política do café-com-leite", gastando recursos vultosos subsidiando cafeicultores e pecuaristas mineiros e paulistas, ao passo que outros setores da economia nacional eram negligenciados.

Os militares passaram então a se organizar politicamente, aliando-se a outros setores da sociedade civil descontentes com o governo federal, sobretudo nos estados do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia. Nas eleições de março de 1922, os integrantes dessa frente se uniram para formar a Reação Republicana e apoiaram a candidatura do fluminense Nilo Peçanha. Não obstante, Artur Bernardes, candidato governista e representante da política do café-com-leite, venceu as eleições, conquistando 56% dos votos válidos, em um pleito marcado por denúncias de irregularidades e uso massivo da máquina pública.

Além de ser o candidato governista, Artur Bernardes era repudiado pelos militares desde o episódio das "cartas falsas", quando, em outubro de 1921, o jornal Correio de Manhã reproduziu duas correspondências atribuídas a Bernardes com insultos e críticas à integridade moral das forças armadas. Embora sempre tenha negado de forma veemente a autenticidade das cartas, Bernardes teria sua imagem arranhada pelo episódio. Logo após a vitória de Bernardes o governo determinou o fechamento do Clube Militar e a prisão do presidente da instituição, o marechal Hermes da Fonseca, aumentando ainda mais a insatisfação da categoria.

O descontentamento dos militares chegou ao ápice em julho de 1922, quando organizou-se um levante contra o governo do presidente em exercício, Epitácio Pessoa, e contra o presidente eleito, Artur Bernardes, que assumiria o cargo em novembro. Os revoltosos reivindicavam reformas políticas e sociais, como o fim do voto aberto (voto de cabresto), a instituições do voto secreto, maior independência dos poderes legislativo e judiciário e ampliação dos investimentos no ensino público.

O alto comando das Forças Armadas, fiel à política do café-com-leite e às oligarquias de São Paulo e Minas Gerais, agiu rapidamente para suprimir o levante, que ficou restrito a militares de baixa e média patente. No Rio de Janeiro, os epicentros da revolta foram a Escola Militar e o Forte de Copacabana sob comando do capitão Euclides Hermes da Fonseca, filho do marechal Hermes da Fonseca.

Durante toda a manhã do dia 5 de julho de 1922, o Forte de Copacabana foi bombardeado a partir dos canhões da Fortaleza de Santa Cruz da Barra, mas os 301 militares amotinados permaneceram no local até às 4 da manhã do dia seguinte. O capitão Euclides Hermes e o tenente Siqueira Campos informaram aos revoltosos que não iriam desistir da luta e que a morte era o provável desfecho dos que seguissem lutando, liberando os que quisessem desistir para se entregarem. Restaram dezoito amotinados.

Euclides Hermes saiu do forte para tentar negociar, mas foi preso. Os demais revoltosos decidiram deixar o forte e sair em marcha pela Avenida Atlântica em direção ao Leme. Um civil, Otávio Correa, resolveu se juntar à marcha. Avançaram até o Posto 3 de Copacabana, quando foram interceptados por militares legalistas, que abriram fogo, matando quase todos. Dentre os tenentes, apenas Siqueira Campos e Eduardo Gomes sobreviveram.

Mesmo malsucedida, a Revolta dos Dezoito de Copacabana serviu de inspiração para militares e civis que se opunham aos desmandos da política do café com leite, fortalecendo o Movimento Tenentista e dando origem a outros levantes como a Revolta Paulista de 1924 , a Comuna de Manaus e a Coluna Prestes, rebeliões que preparariam o caminho para a Revolução de 1930, que encerraria a República Velha e daria origem à Era Vargas.

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