Revolução Cubana (I)
Cena da Revolução Cubana: Fidel Castro e os revolucionários da Caravana da Liberdade são ovacionados pelo povo em Havana, em 1959.
Único levante revolucionário a lograr a fundação de um Estado socialista no continente americano, a Revolução Cubana tornou-se fonte de inspiração de uma série de movimentos autonomistas e de insurgência na América Latina, na África e na Ásia. A revolução se desenvolveu a partir de contexto marcado por dois processos históricos complementares: o prolongado colonialismo espanhol, ao qual Cuba foi submetida até 1898, e o neocolonialismo estadunidense, que se estendeu por toda a primeira metade do século XX.
Enquanto a maioria dos países latino-americanos tornaram-se independentes entre o fim do século XVIII e o início do século XIX, Cuba seguiria sendo uma colônia de exploração da Espanha até o limiar do século XX. Sua independência também não foi resultado de um movimento autonomista nativo, mas de uma disputa travada entre projetos imperialistas dos Estados Unidos da Espanha. Tão logo ganhou sua independência em 1898, Cuba tornou-se um protetorado estadunidense . A Emenda Platt, aprovada pelo congresso dos Estados Unidos em 1901, devolvia a ilha caribenha ao status de colônia subserviente, restringindo-lhe toda a autonomia. Até meados do século XX, o povo cubano seria submetido a índices extremos de pobreza, insalubridade e total ausência de direitos civis e serviços básicos. A título de exemplo, um quarto da população cubana encontrava-se abaixo da linha da miséria extrema em 1920. Enquanto isso, milionários estadunidenses exploravam impiedosamente a vulnerabilidade social dos habitantes e os recursos naturais da ilha.
Em 1934, diante do crescente descontentamento dos cubanos com a exploração estadunidense, a Emenda Platt foi revogada. A atitude, entretanto, não era uma concessão e não traria nenhuma mudança prática. Nesse mesmo ano, os Estados Unidos orquestraram um golpe de Estado em Cuba, liderado pelo coronel Fulgencio Batista, instalando um governo fantoche totalmente subordinado aos seus interesses. Batista se tornaria o homem forte dos interesses estadunidenses em Cuba, intervindo violentamente para reprimir qualquer tentativa de autonomia. Efetivado como ditador a partir de 1952, Batista estabeleceu um dos regimes mais corruptos, autoritários e repressivos da história cubana, assassinando mais de 20 mil pessoas. O despotismo e a corrupção em Cuba atingiram níveis insuportáveis, causando indignação generalizada entre o povo da ilha e estimulando o surgimento de movimentos de oposição fora da política institucional. Camponeses, operários, profissionais liberais, estudantes e intelectuais se uniram na criação de estratégias para derrubar o regime ditatorial de Batista.
Uma primeira rebelião armada ocorreu 26 de julho de 1953. Liderando um grupo de 165 homens, o advogado Fidel Castro coordenou um assalto ao Quartel-General de Moncada, em Santiago de Cuba, com o objetivo de tomar armamentos para distribuir para a população cubana e iniciar uma revolução. O ataque foi mal sucedido e Fidel foi preso e condenado a 15 anos de prisão. Diante da pressão popular por sua libertação, o governo cubano aceitou anistiá-lo. Libertado, Fidel se exilou na Cidade do México, onde passou a planejar a rebelião armada contra Batista, ao lado do irmão, Raúl Castro, de Camilo Cienfuegos e do revolucionário argentino Che Guevara.
Em 2 de dezembro de 1956, os quatro comandantes da revolução e um grupo de 80 guerrilheiros embarcaram no iate Granma e zarparam para Cuba, para dar início à revolução. Ao desembarcarem na província de Oriente, os guerrilheiros foram atacados, mas um grupo conseguiu se refugiar na Serra Maestra. Após comunicarem a intenção de derrubar o regime de Batista, os guerrilheiros receberam apoio massivo dos camponeses, iniciando a formação de um exército revolucionário, que estenderia a guerrilha às províncias orientais. Paralelamente, em apoio aos revolucionários, iniciou-se um movimento de greves e de resistência urbana nas principais cidades do país. Em junho de 1958, os rebeldes derrotaram a última grande ofensiva do governo e, no Natal do mesmo ano, iniciaram a última grande contra-ofensiva geral, que terminou em 1º de janeiro de 1959 com a queda do regime e a fuga de Batista.
A população cubana apoiou massivamente a revolução. Os guerrilheiros eram saudados como heróis libertadores em cada cidade que adentravam, sendo reverenciados e aplaudidos por multidões de populares em festa. Fidel assumiu o cargo de primeiro-ministro e iniciou as grandes reformas ainda em 1959, como a nacionalização dos bancos, a desapropriação de empresas estrangeiras, a coletivização das fábricas, a criação de campanhas de alfabetização em massa e a instituição de um sistema de saúde universal.
Alarmados com o desenrolar dos acontecimentos em Cuba, os Estados Unidos romperam imediatamente as relações diplomáticas com o governo de Fidel. Dois anos depois, os Estados Unidos coordenaram uma tentativa de derrubar o governo revolucionário cubano, enviando um grupo paramilitar de exilados treinados e financiados pela CIA e apoiados pelas Forças Armadas estadunidenses - a Invasão da Baía dos Porcos. O plano fracassou e as tropas contrarrevolucionárias foram debeladas em apenas três dias. Após múltiplas tentativas frustradas de assassinato contra Fidel Castro, os estadunidenses impuseram um embargo comercial contra a ilha, visando sufocar a economia cubana. Considerado abusivo e rechaçado internacionalmente pela quase totalidade dos países da Assembleia Geral da ONU, o embargo permanece em vigor há mais de 60 anos.
Comentando a Revolução Cubana em uma entrevista para Jean Daniel, em 24 de outubro de 1963, o presidente estadunidense John Kennedy afirmou: "Acredito que não há nenhum país no mundo, incluindo as regiões africanas e todo e qualquer país sob domínio colonial, onde a colonização econômica, a humilhação e a exploração foram piores do que em Cuba, em parte devido às políticas de meu país durante o regime de Batista. (...) É como se Batista fosse a encarnação de vários pecados por parte dos Estados Unidos. Agora teremos que pagar por esses pecados." Malgrado a aparente sobriedade do discurso, Kennedy não buscou imprimir qualquer alteração à sua política externa, marcada pela contínua pressão econômica e por múltiplas tentativas de intervenção na ilha.

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