Maria Bonita
Nascida em 8 de março de 1911, Maria Gomes de Oliveira era filha de Dona Déa e José Filipe Gomes, uma família humilde de Paulo Afonso, interior da Bahia. Era então conhecida como Maria de Déa. Aos 15 anos, por determinação da família, foi obrigada se casar com o seu primo, o sapateiro Zé de Neném. O matrimônio era muito conturbado e seu marido, alcoólatra e agressivo, a espancava constantemente.
Em 1929, Maria Bonita se envolveu afetivamente com Virgulino Ferreira da Silva, o famigerado Lampião, chefe do maior e mais temido grupo de cangaceiros do Nordeste. Originado no século XVIII, o cangaço é um fenômeno que mescla banditismo e revolta social, caracterizado pela formação de grupos marginalizados que se organizam para praticar crimes, saques e pilhagem como uma reação aos graves problemas sociais, anomia política e negligência do Estado. Até as primeiras décadas do século XX, os cangaceiros gozavam de certo prestígio junto às camadas mais pobres da sociedade, uma vez que os despossuídos enxergavam as ações desses grupos como uma justa vingança contra a exploração e os desmandos de fazendeiros, coronéis, forças policiais e líderes políticos.
Apaixonada por Lampião, Maria Bonita decidiu abandonar o seu marido e fugir com o bando do cangaceiro. Tornou-se assim a primeira mulher a participar do cangaço. Tratada com respeito e reverência pelos membros do grupo, era chamada de "Dona Maria" e tinha direito a algumas regalias por ser mulher do capitão - joias, perfumes, vestidos de seda, luvas com estampas florais, sandálias e botas de cano curto. Não obstante, era bem treinada no uso de armas e tomava parte nos saques e nos embates contra a polícia. Andava sempre armada com um Colt calibre 38 e com seu punhal estilizado de 32 cm, feito de prata, marfim e pedra ônix.
Maria Bonita e Lampião tiveram uma filha chamada Expedita Ferreira Nunes, nascida em 1932, que foi entregue à tutoria de um tio paterno, João Ferreira, para que crescesse em segurança, fora do cangaço. Maria Bonita seguiria integrando o grupo ao longo da década de trinta, participando de vários ataques a fazendas e latifúndios no Nordeste e ajudando a derrotar as volantes - grupos policiais enviados para capturar os cangaceiros. Registros historiográficos indicam que, assim como outras mulheres do grupo, Maria Bonita tinha o costume de interceder para moderar os excessos de crueldade dos cangaceiros durante os combates contra rivais.
Maria Bonita faleceu em 28 de julho de 1938, quando Lampião e seu bando foram traídos por um de seus apoiadores e emboscados pela volante do tenente João Bezerra no esconderijo de Angicos, em Sergipe. Maria foi baleada duas vezes, uma no abdômen e outra nas costas. Em seguida, foi decapitada ainda viva pelo policial José Panta de Godoy. A cabeça de Maria Bonita, Lampião e dos demais cangaceiros do bando ficaram expostas por quase três décadas no Museu Nina Rodrigues, em Salvador.
Malgrado a existência de uma forte narrativa pautada na demonização do cangaço, o status de Maria Bonita como uma "heroína folclórica" persiste até os dias de hoje. Ao lado de Lampião, Maria Bonita é o maior símbolo do cangaço e tem grande influência na cultura popular do Nordeste, inspirando lendas, ditados, histórias, peças de teatro, canções e ciclos da literatura de cordel.
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