Graciliano Ramos
Graciliano Ramos nasceu em 27 de outubro de 1892 em Quebrângulo, no Sertão de Alagoas, primogênito dos dezesseis filhos do comerciante Sebastião Ramos de Oliveira e de Maria Amélia Ferro Ramos. Ainda pequeno, mudou-se com a família para Buíque, no Agreste de Pernambuco. Retornou a Alagoas em 1904, passando a viver em Viçosa, onde concluiu as primeiras letras em um internato. Nessa época, fundou o "Dilúculo", um jornalzinho para crianças, onde publicou seu primeiro conto, intitulado "O Pequeno Pedinte". Nessa mesma cidade, trabalhou como colaborador do jornal "Echo Viçosense", onde travou contato com Mário Venâncio, seu mentor intelectual.
Em 1905, Graciliano mudou-se para Maceió. Concluiu o ensino secundário no Colégio 15 de Março e interessou-se crescentemente pela literatura. No ano seguinte, tornou-se colaborador da revista "O Malho", publicando sonetos sob o pseudônimo de Feliciano de Olivença. Posteriormente, passou a escrever para o Jornal de Alagoas, Correio de Maceió e Paraíba do Sul, usando os pseudônimos Almeida Cunha, Soares Lobato e Ramos de Oliveira. Em 1910, mudou-se com a família para Palmeira dos Índios, onde conciliou sua atividade literária com o trabalho no comércio de seu pai.
Graciliano mudou-se para o Rio de Janeiro em 1914, assumindo o cargo de jornalista e revisor em periódicos como Correio da Manhã, A Tarde e O Século. Não obstante, viu-se obrigado a retornar a Palmeira dos Índios já no ano seguinte, após o falecimento dos irmãos Otacília, Leonor e Clodoaldo e do sobrinho Heleno, todos vitimados pela epidemia de peste bubônica. Voltou então a trabalhar no comércio do pai. Em 1916, casou-se com Maria Augusta Barros, que faleceria em trabalho de parto quatro anos depois, deixando-lhe quatro filhos. Em 1917, Graciliano assumiu o comando da loja de tecidos Serena.
Graciliano foi eleito prefeito de Palmeira dos Índios em 1927. Casou-se pela segunda vez nesse mesmo período, desposando Heloísa de Medeiros, com quem teria outros quatro filhos — incluindo o também escritor Ricardo Ramos. A qualidade literária dos relatórios de prestação de contas do município escritos por Graciliano e remetidos ao governo de Alagoas chamaram a atenção do poeta e editor Augusto Frederico Schmidt, que tratou de procurar o escritor e incentivá-lo a seguir a carreira literária. Graciliano renunciou então à prefeitura de Palmeira dos Índios e mudou-se para Maceió, assumindo o cargo de diretor da Imprensa Oficial. Em 1933, foi nomeado diretor da Instrução Pública do estado e tornou-se redator do Jornal de Alagoas. Nesse mesmo ano, publicou "Caetés", seu primeiro romance, eivado de referências ao Manifesto Antropófago de Oswald de Andrade. Em 1934, publicou "São Bernardo" e dois anos depois lançou "Angústia".
Após o malsucedido Levante Comunista de 1935, Graciliano tornou-se alvo da repressão do governo de Getúlio Vargas. Acusado de "subversão" por suas posições progressistas e vínculos com intelectuais comunistas como Raquel de Queiroz e Jorge Amado, o escritor foi preso no ano seguinte e levado à Prisão de Ilha Grande, no Rio de Janeiro, onde ficou detido por onze meses. Foi libertado em 1937, sem ter sido formalmente acusado ou julgado. Durante a prisão, travou amizade com diversas lideranças comunistas, incluindo Luís Carlos Prestes, Olga Benário, Apolônio de Carvalho, Epifrânio Guilhermino e Rodolfo Ghioldi. As experiências vividas na prisão, bem como os abusos e torturas que testemunhou, foram relatados na obra "Memórias do Cárcere", publicada postumamente, em 1953.
Após sua libertação, Graciliano fixou residência no Rio de Janeiro, vivendo em uma pequena pensão com a esposa e as filhas pequenas. Em 1938, publicou "Vidas Secas", sua obra mais conhecida e ícone do romance modernista, que se converteria em um clássico da literatura brasileira. A obra aborda o cotidiano dos retirantes do Sertão nordestino e o flagelo da seca, da miséria e da fome, sob a perspectiva crítica da desigualdade social da luta de classes. No ano seguinte, assumiu o cargo de Inspetor Federal do Ensino Secundário e publicou o livro de contos "A Terra dos Meninos Pelados", laureado com o Prêmio de Literatura Infantil do Ministério da Educação.
Em 1945, Graciliano publicou o livro de contos "Dois Dedos" e o relato autobiográfico "Infância". Nesse mesmo ano, o escritor se filiou ao Partido Comunista do Brasil (antigo PCB), aceitando o convite do secretário-geral da agremiação, Luís Carlos Prestes. Graciliano permaneceria como militante ativo do partido até o fim da vida, mas suas críticas recorrentes aos padrões estéticos do realismo socialista provocariam desentendimentos com parte da cúpula do PCB. A interpretação ortodoxa da teoria marxista também o levaria a recusar a colaboração com os jornais burgueses, causando contratempos com seu amigo Paulo Bittencourt, proprietário do Correio da Manhã. Nos anos seguintes, Graciliano realizaria uma série de viagens à União Soviética e aos países socialistas do Leste Europeu — experiências relatadas em um livro póstumo intitulado "Viagem".
Graciliano foi eleito presidente da Associação Brasileira de Escritores em 1951. O escritor adoeceu gravemente no ano seguinte, vitimado por um câncer de pulmão. Chegou a viajar para Buenos Aires a fim de realizar uma cirurgia, mas os médicos confirmaram a irreversibilidade do quadro. De volta ao Brasil, celebrou seu aniversário de 60 anos com uma sessão solene na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, presidida por Peregrino Júnior, da Academia Brasileira de Letras, e prestigiada por nomes como Jorge Amado e José Lins do Rêgo. Faleceu no Rio de Janeiro em 20 de março de 1953.
Comentários
Postar um comentário