A União Soviética foi o primeiro país do mundo a criminalizar a discriminação racial. A Constituição Soviética de 1936 decretava, em seu 123º artigo, que todos os cidadãos eram iguais em direitos "independentemente de sua nacionalidade ou raça, em todas as esferas do Estado, seja economicamente, na vida cultural, social ou política" e que qualquer limitação direta ou indireta desses direitos, incluindo ações motivadas por ódio racial, seriam punidas pela lei. O país também se tornou um grande crítico do racismo institucional norte-americano, denunciando linchamentos, criticando as ações criminosas da Ku Klux Klan e as leis de Jim Crow, que impunham a segregação racial.
Durante a Guerra Fria, enquanto os Estados Unidos e seus aliados europeus buscavam boicotar os movimentos africanos pró-independência, a União Soviética foi a principal apoiadora dos ideais pan-africanistas, anti-coloniais e autonomistas no continente, tendo ajudado a financiar, treinar e armar dezenas de movimentos independentistas. Pôsteres, ilustrações, cartões postais e revistas satíricas como Krokodil frequentemente abordavam temas como racismo institucional, pan-africanismo e a luta anticolonial africana. Conheça 20 dessas obras:
1: "No país de Deus, isso é, os Estados Unidos da América". Ilustração publicada em 1930 na revista soviética "Bezbozhnik" (literalmente, "O Ateísta").
A obra faz referência aos linchamentos e enforcamentos de negros, um fenômeno social que se tornou bastante frequente entre o fim da Guerra de Secessão e as primeiras décadas do século XX no sul dos Estados Unidos. O corpo de um negro linchado e enforcado é sustentado por uma corda presa à tocha da Estátua da Liberdade. Sobre sua cabeça, anjos estendem a bandeira norte-americana e ao seu lado, uma representação do Messias cristão com um versículo do Evangelho de Mateus (11:28): "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos". Embaixo, um homem de cartola representa o capitalismo. No texto do rodapé, lê-se: "O linchamento de negros - a mais baixa e abominável expressão do ódio racial - tem prosperado sob a religião cristã, exploradora e misantropa. Para a burguesia e para o clero, o linchamento é a mais alta expressão da cultura e da moral cristã, agradável aos olhos de Deus".
2: "Trabalhadores de todos os países e colônias oprimidas levantam a bandeira de Lenin". Cartaz de 1932.
3: "Os povos africanos subjugarão seus colonizadores¹". Cartaz do coletivo Kukryniksy (1960).
A obra faz referência aos movimentos anticoloniais e autonomistas africanos, boa parte dos quais apoiados pela União Soviética.
4: "Liberdade Americana", cartaz de 1960.
5: "Liberdade para todos os povos da África". Cartaz de 1961.
6: "Patrice Lumumba carregava a África em seu coração". Cartaz de 1961.
Homenagem a Patrice Lumumba, líder da independência do Congo, assassinado por uma conspiração de norte-americanos e colonialistas europeus.
7: "Se isso é liberdade, o que é prisão?". Cartaz de Viktor Koretsky (1968).
A obra faz referência à política de encarceramento em massa de negros, latinos e outras minorias étnicas nos Estados Unidos.
8: "Imperialismo Americano é Guerra, Luta e Racismo". Cartaz de Viktor Koretsky (1968).
9: "Racismo - a vergonha da América". Cartaz de 1969.
O cartaz mostra um homem afro-americano acompanhado da inscrição "I am a man" ("eu sou um homem") sendo atacado pela bandeira norte-americana, cujas listras se transmutam em lâminas pontiagudas.
A frase "eu sou um homem", utilizada como denúncia da desumanização praticada por grupos racistas, tornou-se um bordão de diversas organizações que lutavam pelo reconhecimento dos direitos civis da população negra nos Estados Unidos. O cartaz soviético é uma crítica à oposição agressiva do governo e de setores tradicionais da sociedade norte-americana aos movimentos negros.
10: "O estigma vergonhoso da 'democracia americana'". Cartaz de Viktor Koretsky (1969).
A obra retrata a face da Estátua da Liberdade desfigurada por um linchamento de um negro praticado por civis e agentes do Estado.
11: "O Grande Lenin Iluminou Nosso Caminho", cartaz de 1969.
A obra faz referência à Guerra de Independência de Angola, apoiada pela União Soviética.
12: "A África está lutando, está construindo e vislumbrando o futuro!". Cartaz de 1970.
13: "A África está lutando. A África vai vencer!". Cartaz de Viktor Koretsky (1971).
A obra faz referência às lutas anticoloniais do continente africano.
14: "A África constrói. A África vai vencer". Cartaz de 1971.
15: "Ilegalidade legal". Cartaz de Viktor Koretsky (1978).
Uma alegoria do racismo como uma chaga estrutural do capitalismo.
16: "Apartheid e Assassinatos em Massa - Sinônimos". Cartaz de Viktor Koretsky (1978).
Uma crítica ao regime do apartheid, na África do Sul. Um grupo de soldados sorri enquanto seguram seus rifles com as mãos ensanguentadas. Aos pés do grupo, uma criança chora, olhando para o corpo da mãe, envolto por uma poça de sangue.
17: "Nós votamos por 'liberdade e democracia'". Cartaz de 1981.
A obra ironiza o discurso "pró-democracia" do governo dos Estados Unidos, contrapondo-o ao racismo institucional norte-americano. Um policial e um membro da Klu Klux Klan (organização racista que promove perseguição e linchamento de negros) repetem o mesmo gestual, como indicação de que os dois defendem os mesmos valores de supremacia branca. A etiqueta de preço no braço do membro da Klu Klux Klan, por sua vez, evidencia que o racismo institucional é uma ferramenta de domínio a serviço do capital. No poema à direita, lê-se:
"Aqueles que estão acostumados a reprimir
Queimando e matando em nome do capital
Defendem ardorosamente o direito de asfixiar
Os que verdadeiramente lutam por liberdade".
18: "Unicórnio da Ku Klux Klan", de Lev Samoilov (1983).
19: "Cortes Americanas" (s.d.).
Crítica ao racismo institucional do sistema de justiça dos Estados Unidos, com os três juízes sobrepostos a perfis de capuzes da Ku Klux Klan.
20: "Cidadão dos EUA - Segunda Classe" (s.d.)
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