A mídia e os "protestos violentos"

Onze em cada dez veículos da grande mídia invariavelmente vão utilizar a expressão "protestos violentos" para caracterizar manifestações populares em que ocorram episódios de depredação material. E parte da esquerda liberal, desavisada como de costume, irá se apressar em condenar essas ações, recorrendo ao velho chavão do "não podemos responder violência com mais violência". Outra parte da esquerda irá pontuar a legitimidade do uso da violência revolucionária em determinados contextos - o que é um conceito absolutamente válido, mas mal aplicado a esses casos. Manifestações onde se quebram vidraças não são manifestações violentas.

A Organização Mundial da Saúde define como violência "o uso intencional de força física ou poder, ameaçados ou reais, contra si mesmo, contra outra pessoa ou contra um grupo ou comunidade, que resultem ou tenham grande probabilidade de resultar em ferimento, morte, dano psicológico, mau desenvolvimento ou privação". O conceito de violência só pode ser aplicado a seres vivos. João Alberto Silveira Freitas foi vítima de violência - espancado até a morte por agentes de segurança. Mas não existe violência contra objetos inanimados.

Portas, janelas, vidraças não sentem dor, não sentem medo, não podem ser asfixiadas ou assassinadas. Endossar a alegação de que depredação é uma ação violenta é uma forma de legitimar o discurso desumanizante do capitalismo, que coloca a integridade dos bens materiais como um valor maior do que a vida humana. É estabelecer uma falsa paridade entre quem assassina barbaramente um homem negro e quem joga uma pedra num objeto inanimado. 

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