Cristo, o Sol
Os registros históricos mais antigos das festas decembrinas remontam a 7.000 anos antes da Era Cristã. Várias civilizações antigas celebravam o solstício de inverno - a noite mais longa do ano no hemisfério norte, que geralmente ocorre por volta do dia 21 de dezembro. O motivo das comemorações é que o solstício de inverno marcava o início do descanso dos trabalhos agrícolas, uma espécie de período de "férias", além de servir de prenúncio de melhores condições meteorológicas, com a aproximação da primavera. Povos pré-históricos europeus construíram até monumentos megalíticos como Stonehenge para marcar a data. Os mesopotâmicos organizavam um festival de comemoração do solstício que durava 12 dias. Os povos nórdicos e germânicos celebravam a data com o festival de Yule. E os gregos festejavam a chegada do inverno bebendo vinho e cultuando Dioniso.
Entre os romanos, o inverno era celebrado durante um grande festival chamado Saturnália, que se iniciava em 17 de dezembro e se estendia por mais de uma semana. A Saturnália era uma espécie de carnaval em homenagem a Saturno, deus da agricultura, que tinha como ponto alto um grande banquete público seguido pela troca de presentes. O último dia da Saturnália era 25 de dezembro, data que correspondia à marcação oficial do solstício de inverno no calendário imperial romano. Os romanos associavam o último dia da Saturnália ao "nascimento" do deus Mitra - uma divindade da mitologia indo-ariana cujo culto se espalhou pelo Império Romano a partir das conquistas de Alexandre, o Grande. Mitra era o deus da luz, e, por associação, representava o Sol, que "vencia" o persistente outono e "renascia" no dia 25 de dezembro, para então voltar a brilhar na primavera. Mitra logo se tornaria o deus oficial do Império Romano tardio, sob o nome de Sol Invicto. Um decreto do imperador Aureliano oficializou a celebração do nascimento da divindade no dia 25 de dezembro, data que ganhou o nome de "Dies Natalis Solis Invicti" (aniversário do Sol Invicto).
Paralelamente a essas tradições culturais e religiosas, expandia-se no Império Romano o cristianismo. Os primeiros cristãos comemoravam apenas a Sexta-Feira Santa (crucificação) e a Páscoa (ressurreição). Além de não ser costume celebrar o nascimento dos ícones cristãos (pois não era o nascimento, mas sim o martírio que os tornava sagrados), o Novo Testamento não continha qualquer referência que permitisse identificar a data em que nasceu Jesus Cristo. Para competir com as comemorações pagãs de dezembro e instrumentalizá-las para arregimentar novos fieis, os cristãos passaram a tentar associar cristianismo às celebrações do solstício. No ano 221 d.C., o historiador cristão Sexto Júlio Africano, publicou suas Cronografias, registrando que Jesus teria nascido no dia 25 de dezembro, mesma data em que os romanos comemoram o solstício e o aniversário do deus Sol Invicto. Os líderes cristãos endossaram a proposta e passaram também a comemorar a data.
Quando o Império Romano adotou o cristianismo como religião por decreto do imperador Teodósio I, o Natal passou a ser oficialmente celebrado como o nascimento de Jesus Cristo - e não mais do deus Sol. Mas embora os significados originais da data tenham sido substituídos, as celebrações deram continuidade às tradições anteriores, criando uma grande amálgama religiosa que persistiu ao longo dos séculos. O banquete e a troca de presentes da Saturnália, por exemplo, são costumes que sobreviveram até os nossos dias, bem como o hábito de enfeitar as casas com um pinheiro natalino, uma herança nórdica do festival de Yule.
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