Ded Moroz (I)

"Rejeite esse tipo de tradição". Ilustração publicada no jornal soviético "Verdade Proletária". Kiev, 25 de dezembro de 1928. A ilustração mostra um homem usando um pinheiro de Natal para afugentar Ded Moroz - a versão russa do Papai Noel.

Após a Revolução de Outubro em 1917 e a subsequente implementação do governo socialista na Rússia, os dirigentes revolucionários buscaram combater a influência da Igreja Ortodoxa e das religiões organizadas, bem como romper com as tradições conservadoras associadas à velha ordem czarista. O novo governo pretendia estimular a compreensão crítica dos fatos e uma concepção racional e materialista dos fenômenos naturais, vendo como imprescindível combater o misticismo e as superstições. Dessa forma, as comemorações religiosas foram banidas - incluindo-se o Natal - e as tradições associadas à data passaram a ser combatidas.

O Natal era considerado um feriado religioso especialmente problemático, não apenas por sua centralidade para as religiões cristãs, mas também por ser uma data marcada pelo consumismo e pelo caráter comercial. A tradição natalina do Ded Moroz também era vista com perniciosa, pois além da origem hierática, o Papai Noel russo era uma figura que reforçava o individualismo sob uma falsa narrativa meritocrática, pois só premiava as crianças que "mereciam" - o que, na prática, significava que apenas os filhos de famílias com posses eram dignos de mérito. O governo soviético iniciou então uma grande campanha incentivando a população a se afastar das tradições natalinas, que se estendeu pelas décadas de vinte e trinta.

A proibição não duraria muito tempo, pois os trabalhadores se ressentiam da falta do feriado e as crianças da figura de Ded Moroz. A partir de 1935, o governo soviético reinstituiu os feriados de fim de ano, mas de forma secularizada - como celebrações do Ano Novo, não de Natal. Ded Moroz também voltou à cena, repaginado como um personagem laico, que visitava as crianças na véspera do Ano Novo e trazia presentes, não mais individuais, mas para toda a coletividade.

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