Elon Musk
O multibilionário sul-africano Elon Musk, proprietário da Tesla e da SpaceX, tornou-se a pessoa mais rica do mundo, conforme o ranking atualizado de bilionários divulgado pela agência Bloomberg em 7 de janeiro de 2021. Elon Musk desbancou o dono da Amazon, o estadunidense Jeff Bezos, que encabeçou a lista por três anos consecutivos.
Elon Musk possui uma fortuna avaliada em 188,5 bilhões de dólares - mais de um trilhão de reais. A fortuna de Elon é superior ao PIB da maioria dos países do mundo - somente 53 das mais de 200 nações do planeta possuem economias maiores. Elon é quase tão rico quanto a Grécia e mais rico do Venezuela, Angola ou Ucrânia. Seu patrimônio é superior à soma do PIB das nações africanas de Quênia, Etiópia e Zâmbia. A fortuna de Elon sozinha bastaria para acabar com a fome no mundo - uma chaga social que mata 8 milhões de pessoas anualmente.
Assim como outros bilionários do Vale do Silício, Elon tenta legitimar a sua fortuna por meio de narrativas romantizadas, exalando o viés pseudo-meritocrático do "mito da garagem", vendendo a imagem de "self-made man", do "empreendedor" laborioso e criativo que foi do nada à riqueza extrema graças ao seu trabalho e genialidade. O mito da fortuna de Elon tem como pedra fundamental a história de um jogo de videogame que o empresário teria inventado quando tinha apenas 11 anos, subsequentemente vendido para uma empresa sul-africana por meros 500 dólares, dando início a uma cadeia de empreitadas cada vez maiores e mais valiosas, como uma bola de neve que se transmuta em avalanche.
A verdade, como de costume, é bem menos romântica. A família de Elon Musk já era muito rica bem antes do empresário ingressar nas listas de bilionários. Sem qualquer modéstia, o pai de Elon, Errol Musk, chegou a dizer numa entrevista que a família tinha tanto dinheiro que "não dava nem pra fechar o cofre". A família Musk enriqueceu durante o regime sul-africano do apartheid, explorando minas de esmeraldas localizadas na Zâmbia. Enquanto sua família pagava pelo doutorado na prestigiosa Universidade de Stanford, Elon foi contratado para desenvolver bombas a pedido de uma empresa que fornecia armas para as Forças Armadas dos Estados Unidos.
Foi o boom da internet, entretanto, que deu ao empresário a oportunidade de multiplicar seu patrimônio. Em 1999, Elon vendeu uma empresa produtora de conteúdo de portais de notícias para a Compaq por 307 milhões de dólares. Em seguida, assumiu o controle da PayPal, cujo valor de mercado foi multiplicado por uma campanha viral impulsionada por recrutamento pago de novos clientes. Após vender a PayPal para a eBay por 1,5 bilhão de dólares, Elon fundou a SpaceX, empresa de serviços aeroespaciais que administra contratos lucrativos regados a dinheiro público por intermédio da NASA. No ano seguinte, fundou a Tesla Motors, companhia automotiva e de armazenamento de energia que produz carros elétricos e baterias. Por fim, foram criadas outras companhias na área de energia renovável e inteligência artificial, tais como SolarCity, a Gigafactory e a Neuralink.
A colaboração da imprensa cresceu de forma diretamente proporcional ao aumento exponencial do patrimônio de Elon. O empresário ganhou espaço amplo e uma cobertura extremamente positiva, enfocando seu "empreendedorismo", seu carisma e apresentando seus investimentos em setores altamente lucrativos como atos de benevolência em prol da "sustentabilidade" e preocupação com o futuro da humanidade. O cinismo, registre-se, é uma característica marcante do empresário. Ao mesmo tempo em que Elon repete o mantra liberal de Estado mínimo e critica a cobrança de impostos e os subsídios bancados pelo erário, suas empresas recebem quase 5 bilhões de dólares em incentivos e subsídios do governo estadunidense - e mais de 13 bilhões de dólares em contratos públicos com estados e prefeituras. A benevolência explica-se pelo pesado lobby. Desde que a SpaceX foi fundada, já investiu mais de 4 milhões de dólares em financiamento de campanhas, tanto de Democratas quanto de Republicanos.
De forma semelhante, o "hype" do perfil moderninho e descolado que atraiu a admiração de legiões fanboys entre os liberais e anarcocapitalistas de todo o planeta só existe dos portões de suas fábricas para fora. As empresas de Musk colecionam milhares de acusações, denúncias e processos trabalhistas por exploração, assédio moral, assédio sexual, acidentes de trabalho, doenças ocupacionais, etc. Salários baixos, jornadas exaustivas de 12 horas por dia e seis dias por semana, negligência com acidentes e ambientes insalubres, intimidação e perseguição de funcionários que lutam por seus direitos são problemas frequentemente relatados pelos empregados do império de Elon Musk. O ministério público da Califórnia acumula processos contra a Tesla por crimes contra a legislação trabalhista estadual e a justiça estadunidense já condenou a empresa por sabotar tentativas de sindicalização de seus funcionários.
Por pior que seja a situação nas fábricas da Tesla na Califórnia, nada se compara ao que as crianças da República Democrática do Congo enfrentam. É das minas do Congo que o império de Elon extrai quase todo o cobalto de que precisa. Crianças são forçadas a trabalhar nas minas de cobalto em condições análogas à escravidão, arriscando a própria vida e sofrendo consequências irreversíveis. Em 2019, a ONG International Rights Advocates abriu um processo contra a Tesla pedindo indenização às famílias de 14 crianças que morreram e outras dezenas que ficaram mutiladas e feridas enquanto trabalhavam extraindo o cobalto utilizado nas fábricas da empresa.
O interesse em outro mineral igualmente estratégico para o império de Elon Musk - o lítio - aparentemente foi a motivação para o golpe de Estado da Bolívia, em novembro de 2019, quando o presidente eleito Evo Morales foi deposto e substituído por uma "junta interina" encabeçada por Jeanine Áñez, tendo por vice o empresário Samuel Doria Medina. Uma das primeiras propostas de Medina foi a construção de "uma gigantesca fábrica no Salar de Uyuni para fornecer baterias de lítio" para a Tesla. Quando foi questionado por um usuário no Twitter sobre um possível conluio entre o empresário, o governo estadunidense e a direita boliviana para articular um golpe contra Evo com fins comerciais, Elon Musk respondeu com desconcertante sinceridade: "Vamos dar golpe em quem quisermos! Lide com isso". Depois, apagou o post e alegou se tratar de uma piada.
Essas informações, entretanto, raramente são discutidas pela imprensa, que prefere tratar os nomes excêntricos escolhidos para os filhos ou uma aparição fumando maconha em um programa de televisão como as "grandes polêmicas" envolvendo o empresário. Tampouco se discutem as frases de caráter abertamente eugenista e malthusiano proferidas por Elon Musk, tais como a afirmação de que "as pessoas inteligentes não estão se reproduzindo com a rapidez necessária", enquanto outras, que ele considera portadoras de intelecto inferior, estariam se proliferando de forma descontrolada. Elon também já afirmou que "o maior problema em 20 anos será o colapso populacional" que "trará consequências econômicas muito desfavoráveis".
Essa não é uma opinião isolada entre os bilionários do Vale do Silício. O ex-parceiro de negócios de Elon, Peter Thiel, já elogiou abertamente o apartheid na África do Sul. William Shockley, considerado o "pai" do Vale do Silício, passou a vida inteira defendendo abertamente a eugenia. O falecido pedófilo Jeffrey Epstein sonhava em "semear a raça humana com seu DNA ao engravidar mulheres em seu vasto rancho no Novo México". E Jeff Bezos, o segundo homem mais rico do mundo, afirmou que construir colônias espaciais orbitando a Terra será a única saída para que a elite possa escapar do inferno que está criando em seu processo insano de acúmulo de fortunas de mais de nove dígitos.
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