Eugenia nos Estados Unidos
Os Estados Unidos foram o primeiro país do mundo a adotar programas de esterilização forçada com finalidade eugênica, objetivando o alegado "melhoramento racial" de sua população. O programa estadunidense de esterilização eugênica era calcado em fatores econômicos e na tentativa de controle social, contando com apoio quase generalizado da classe médica, de cientistas, das elites e dos burocratas do país, que o defendiam como uma admirável e moderna ferramenta de engenharia social. Os programas eugênicos dos Estados Unidos serviram não apenas como base para a criação de organizações defensoras da ideia de supremacia branca como a Ku Klux Klan como também inspiraram Adolf Hitler e outros ideólogos nazistas a criarem parte considerável do ideário da superioridade racial ariana.
A partir da década de 1890, difundiram-se por todo o país leis estaduais de esterilização eugênica forçada, bem como normas de restrição à imigração e planejamento familiar. Os principais alvos eram pessoas com deficiência física ou intelectual, portadores de epilepsia, cegueira, surdez, populações indígenas, negras latino-americanas e, eventualmente, brancos de origem humilde, alcóolatras, presidiários, criminosos, prostitutas, etc. Ao todo, 33 estados adotaram programas de esterilização compulsória. O número de pessoas que foram submetidas à esterilização forçada é calculado em, no mínimo, 65.000 indivíduos - a imensa maioria mulheres.
Após a Segunda Guerra Mundial e o conhecimento público dos horrores cometidos pelos nazistas em nome da pureza racial, a eugenia passou a ser duramente criticada e instituições e programas eugênicos foram progressivamente banidos na maior parte do mundo. Os Estados Unidos, entretanto, deram continuidade aos seus programas de esterilização eugênica compulsória até a década de 1970. Entre 1970 e 1976, o Serviço de Saúde Indígena dos Estados Unidos esterilizava até 42% das mulheres nativas que buscavam atendimento médico na rede pública. O governo estadunidense também manteve até o fim da década de 70 várias campanhas de esterilização específicas para mulheres negras e latinas dos estados do Sul e do Sudeste, alegando ser uma medida necessária para "diminuir a demanda por programas sociais e conter o aumento da população não-branca, de modo a combater a criminalidade".
Em algumas regiões dos Estados Unidos, instituições eugênicas continuaram em funcionamento até os anos oitenta. O estado de Oregon, por exemplo, manteve seu Conselho de Eugenia ativo até 1983 e ainda fazia esterilizações forçadas de minorias até meados dos anos 80. Colônias, territórios e dependências estadunidenses também foram submetidos à esterilização eugênica compulsória. Em Porto Rico, por exemplo, a eugenia foi instituída por lei em 1937. Em 1965, aproximadamente um terço (34%) de todas as mulheres porto-riquenhas já tinham sido esterilizadas à força.
Embora as leis eugênicas formais não sejam mais implementadas rotineiramente e tenham sido removidas dos documentos do governo, instâncias de coerção reprodutiva ainda ocorrem nas instituições estadunidenses até hoje. Em 2011, um relatório revelou que 148 mulheres detidas em duas prisões da Califórnia haviam sido esterilizadas sem consentimento. Mais recentemente, em setembro de 2020, funcionários de um centro de detenção para imigrantes no estado da Geórgia, administrado pela concessionária privada LaSalle Corrections, afirmaram que as imigrantes detidas no local estavam sendo submetidas a histerectomias compulsórias - isso é, à retirada dos seus úteros, sem o consentimento das mesmas.
Comentários
Postar um comentário