Fiocruz (I)
Albert Einstein visitando a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Rio de Janeiro, 8 de maio de 1925. Acompanham o cientista alemão na foto os pesquisadores da Fiocruz Carlos Chagas, Adolpho Lutz, Carlos Burle de Figueiredo, Area Leão, Nicanor Botafogo e Alcides Godoy.
Já reconhecido mundialmente como um dos maiores cientistas de todos os tempos e laureado com o Prêmio Nobel de Física de 1921 pela descoberta da lei do efeito fotoelétrico, Albert Einstein visitou o Brasil em maio de 1925, permanecendo uma semana no Rio de Janeiro. Einstein proferiu palestras na Faculdade de Medicina e na Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, travou contato com a comunidade científica brasileira e visitou as principais instituições de pesquisa do país, incluindo a Fiocruz.
A Fiocruz foi fundada em 25 de maio de 1900, por iniciativa do médico sanitarista Oswaldo Cruz, sob a denominação de "Instituto Soroterápico Federal". A instituição foi criada com o objetivo de fabricar soros e vacinas, pesquisar tratamentos e estabelecer ações para debelar as epidemias assolavam o país entre o fim do século XIX e o início do século XX. Sob a liderança de Oswaldo Cruz, a Fiocruz produziu os imunizantes e coordenou as reformas sanitárias que erradicaram as epidemias de peste bubônica, febre amarela e varíola no Rio de Janeiro. Por esse feito, Oswaldo Cruz e os demais pesquisadores da Fiocruz foram laureados com a medalha de ouro no XIV Congresso Internacional de Higiene e Demografia de Berlim, em 1908.
Após conduzir as reformas sanitárias no Rio de Janeiro, a Fiocruz coordenou uma série de expedições científicas pelos rincões do Brasil, ampliando as campanhas sanitárias e os esforços de imunização. Em 1920, a instituição também articulou a criação do Departamento Nacional de Saúde Pública, marco do desenvolvimento da estrutura de atendimento à saúde no país. O então diretor da Fiocruz, Carlos Chagas, assumiu a gestão do novo órgão. Chagas foi responsável por reorganizar os serviços sanitários no Brasil e atribuiu à União a responsabilidade pela promoção e fiscalização dos serviços de saúde em todo o território nacional.
Nas décadas seguintes, a Fiocruz ampliaria significativamente a produção de medicamentos imunizantes e realizaria uma série de pesquisas pioneiras que tiveram grande importância para o avanço da medicina. Foi na Fiocruz que Adolpho Lutz realizou a descrição completa da doença conhecida como "Mal de Lutz" e que Alcides Godoy desenvolveu a primeira vacina contra o carbúnculo do gado. Pesquisadores da Fiocruz também foram os primeiros a descrever o ciclo da esquistossomose, a descobrir a causa do tifo exantemático e a realizar pesquisas sistemáticas sobre a helmintíase. Em 1954, foi fundada a Escola nacional de Saúde Pública (ENSP), vinculada à Fiocruz, que se tornaria referência em políticas públicas e conduziria o desenho dos projetos que mais tarde culminariam na adoção do Sistema Único de Saúde (SUS).
Após o golpe de 1964 e a instalação da ditadura militar, a Fiocruz foi submetida a uma severa campanha persecutória, por abrigar em seus quadros vários cientistas críticos ao regime. As verbas da instituição passaram a ser contingenciadas, resultando na queda da produção de soros e vacinas. Em 1970, o regime militar cassou, por dez anos, os direitos políticos de dez renomados cientistas que trabalhavam há décadas na Fiocruz. Os decretos de suspensão dos direitos civis (AI-5 e AI-10) também forçaram vários cientistas da Fiocruz a se aposentarem compulsoriamente. Os pesquisadores foram proibidos de prestar serviços aos órgãos públicos ou organizações subvencionadas com verbas do erário. O episódio, conhecido como "Massacre de Manguinhos", resultou em um grande retrocesso para o desenvolvimento das políticas de saúde pública e para a pesquisa científica nacional.
Após a redemocratização, a Fiocruz recuperou brevemente sua capacidade de produção científica. Os cortes das verbas para financiamento de pesquisas durante os anos noventa, entretanto, resultaram em uma nova fase de estagnação. A partir de 2003, dotada de verbas adicionais, a Fiocruz voltou a ampliar seu escopo de ação. Em 2006, a instituição anunciou o sequenciamento do genoma da vacina BCG e recebeu o Prêmio Mundial de Excelência em Saúde Pública. Dois anos depois, a vacina contra a meningite meningocócica A e C produzida pela Fiocruz foi qualificada pela OMS para fornecimento às agências da Nações Unidas. Em 2009, a Fiocruz recebeu novo prêmio da OMS pelos trabalhos desenvolvidos no âmbito do Centro de Referência em Bancos de Leite. Em 2013, a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) autorizou a aquisição do medicamento antimalárico produzido pela Fiocruz para uso nos países latino-americanos. No ano seguinte, o antimalárico da Fiocruz tornou-se referência mundial após receber a certificação da OMS.
A Fiocruz está hoje entre as mais importantes instituições científicas do mundo. A instituição possui 16 unidades técnico-científicas voltadas ao ensino, à pesquisa e ao desenvolvimento científico e tecnológico no âmbito da saúde e responde por boa parte da produção nacional de soros e vacinas contra difteria, tétano, coqueluche, Hepatite B, Haemophilus influenza tipo B, meningite C e poliomielite. Mantém os laboratórios Bio-Manguinhos (maior centro produtor de vacinas, kits e reagentes para diagnóstico laboratorial de doenças infecto-parasitárias da América Latina) e Far-Manguinhos (responsável por produzir 1,6 bilhão de unidades de medicamentos por ano). Além de sua sede no bairro de Manguinhos, na Zona Norte do Rio de Janeiro, a Fiocruz mantém unidades em outros dez estados brasileiros além de um escritório internacional em Maputo, capital de Moçambique.
Os sucessivos cortes orçamentários e a queda dos investimentos em pesquisas científicas têm afetado fortemente a produção do instituto nos últimos cinco anos. Em 2017, a instituição teve um corte de 30% em seu orçamento e em 2019 sofreu um contingenciamento adicional de mais de 40% dos recursos. Pesquisadores da Fiocruz também sofreram um corte de 45% das bolsas de pesquisa de mestrado e doutorado, o que forçou a instituição a paralisar as pesquisas de medicamentos contra febre amarela, zika, chikungunya e dengue. Entre os projetos mais recentes, encontra-se a fabricação de uma vacina contra o coronavírus desenvolvida em parceria com a Universidade de Oxford e a farmacêutica AstraZeneca.
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