George Blake
O britânico George Blake foi um dos mais famosos espiões da Guerra Fria, tendo atuado por muitos anos como agente duplo a serviço da União Soviética.
George Blake nasceu em Roterdã, nos Países Baixos, em 11 de novembro de 1922, filho de um oficial do Exército Britânico. Ainda na juventude, George Blake ajudou a combater os nazistas, voluntariando-se para servir como mensageiro e entregar correspondências aos partisans da resistência holandesa. Próximo ao fim da Segunda Guerra Mundial, ingressou na Marinha Real britânica, onde rapidamente se destacou. Foi recrutado então pelo Serviço Secreto de Inteligência do Reino Unido, o MI6. Continuou a combater o Terceiro Reich no MI6 e tomou parte dos interrogatórios de militares nazistas após o fim da guerra.
Em 1947, o MI6 ordenou que aprendesse russo e coreano para atuar em missões de espionagem e contraespionagem junto aos países socialistas. Em 1948, foi enviado para a Coreia do Sul ao lado do diplomata britânico Vyvyan Holt, disfarçado de vice-cônsul do Reino Unido, com a missão de reunir inteligência sobre Coreia do Norte, China e União Soviética. Quando o Reino Unido ingressou na Guerra da Coreia para auxiliar as tropas estadunidenses, Blake e os diplomatas britânicos foram capturados pelo Exército Popular da Coreia e feitos prisioneiros de guerra, a princípio em Pyongyang, depois transferidos para uma base militar no vale do rio Yalu, onde permaneceram por três anos.
Durante o período em que ficou preso na Coreia do Norte, Blake testemunhou os devastadores bombardeios da Força Aérea dos Estados Unidos e as crueldades cometidas contra civis coreanos. Também começou a ler obras de Karl Marx e a discutir política com os guardas norte-coreanos. Logo se tornou simpatizante dos ideais comunistas e chegou à conclusão de que estava lutando pelo lado errado. Ofereceu-se então para trabalhar como agente duplo a serviço das agências de inteligência socialistas, ajudando-as a desarticular redes de espionagem dos países ocidentais. A proposta foi aceita e Blake tornou-se parte dos quadros do Ministério de Segurança de Estado (MGB), uma agência de inteligência doméstica e de contraespionagem da União Soviética.
Libertado em 1953, George Blake retornou para o Reino Unido, onde foi recebido como herói de guerra. Em 1955, o MI6 o enviou para Berlim, onde foi incumbido da tarefa de cooptar oficiais soviéticos para servirem como agentes duplos. O próprio Blake, entretanto, era um agente duplo e informava a União Soviética sobre quais agentes não eram confiáveis ou estavam agindo contra o país. Ele também repassava ao Comitê de Segurança do Estado da União Soviética (KGB) detalhes sobre planos e operações de espionagem conduzidas por agências britânicas e estadunidenses. Foi Blake que informou Moscou sobre a Operação Ouro - um túnel sob Berlim Oriental que era utilizado por agentes do MI6 e da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) para grampear as linhas telefônicas usadas por militares soviéticos.
Ao longo de nove anos, Blake expôs 40 agentes do MI6 e da CIA para a KGB e ajudou a desarticular a maior parte das operações conduzidas pelos serviços secretos britânicos e estadunidenses na Europa Oriental. Em 1959, ele denunciou um agente encoberto da CIA que operava infiltrado nos quadros do Diretório Central de Inteligência da União Soviética (GRU). Foi Blake também que descobriu e expôs o agente duplo Pyotr Semyonovich Popov, um major soviético que estava conduzindo operações de sabotagem contra o governo soviético, fuzilado por traição em 1960.
Blake foi descoberto em 1961, após ser entregue por um desertor polonês chamado Michael Goleniewski. Antes que pudesse escapar, foi capturado em Londres e condenado a uma pena de 42 anos de prisão. Após cumprir cinco anos na prisão de Wormwood Scrubs, Blake conseguiu empreender uma fuga espetacular do cárcere. Após escapar para a Europa Continental, ingressou na Alemanha Oriental, de onde prosseguiu viagem em segurança rumo ao exílio na União Soviética.
Blake passaria o resto da vida na União Soviética/Rússia, onde se aposentou como agente da KGB, casou-se e teve filhos. Publicou sua autobiografia em 1990, sob o título de "No Other Choice" ("Sem Outra Escolha"). Nos anos noventa, ganhou o direito a receber uma indenização do governo britânico por violação de direitos humanos, concedida por força de sentença do Tribunal Europeu. Publicou outro livro em 2006, denominado "Transparent Walls" ("Paredes Transparentes"). Permaneceu como um marxista-leninista convicto até o fim da vida. Em certa ocasião, ao ser questionado se achava desconfortáveis as acusações de que era um traidor do Reino Unido, respondeu sem titubear que não era um traidor: "Para trair um país, é necessário pertencer a ele. Eu nunca pertenci." Faleceu em Moscou em 26 de dezembro de 2020, aos 98 anos de idade.
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