Grafite de Alexamenos
O Museu Palatino em Roma guarda um pequeno e polêmico desenho gravado sobre gesso que ficou escondido por vários séculos sob os escombros arqueológicos da Casa Gelociana, uma residência que pertenceu ao imperador romano Calígula. Trata-se do Grafite de Alexamenos, uma peça de grande valor histórico, dotada de uma característica inusitada que a torna única: é a mais antiga representação artística conhecida de Jesus Cristo e também o primeiro registro iconográfico de uma blasfêmia cristã.
O desenho foi gravado por volta do ano 200. A imagem mostra uma figura crucificada que tem corpo humano e cabeça de burro. Ao lado da figura, há a imagem de um jovem com a mão erguida em um gesto que sugere adoração. Logo abaixo da cruz, há uma inscrição grega que pode ser traduzida como "Alexamenos adorando o seu deus".
A maioria dos historiadores concorda que a imagem é um desenho satírico, feito provavelmente por um romano para zombar de um cristão chamado Alexamenos. Tertuliano registrou que era comum entre o século II e o século III que cristãos e judeus fossem acusados de onolatria, isso é, de praticar adoração religiosa aos asnos, o que explica a representação antropozoomórfica do messias. Paradoxalmente, a representação de Jesus Cristo crucificado, hoje um dos símbolos cristãos mais reconhecidos, era considerada extremamente ofensiva na época. Até ser abolida por Constantino no século IV, a crucificação era o método de execução reservado aos piores criminosos, de forma que representar assim o messias cristão era um insulto à sua figura. Apenas muitos séculos mais tarde, a arte cristã incorporaria a crucificação como parte da iconografia sagrada, já desassociada de seu significado blasfemo original.
A imagem convencional de Jesus barbado e com cabelo comprido surgiu somente no início do século IV, sofrendo alterações de acordo com as características étnicas semelhantes às da cultura em que a imagem era adorada. Como o cristianismo se consolidou na Europa e se expandiu pelo mundo a partir das Grandes Navegações, cristalizou-se e exportou-se a imagem do Cristo "europeu", branco, de cabelos e olhos claros, nos países colonizados pelas metrópoles europeias.
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