Exército Zapatista de Libertação Nacional


Integrantes do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) se apresentam durante a Convenção Nacional Democrática de Aguascalientes, em Chiapas, México. Em 1º de janeiro de 1994, o Exército Zapatista declarava guerra ao governo mexicano, dando início ao Levante de Chiapas.

O Exército Zapatista de Libertação Nacional foi fundado em novembro de 1983, por ex-integrantes das Forças de Libertação Nacional (FLN) - uma organização guerrilheira de esquerda que chegou a dominar parte dos territórios setentrionais mexicanos nos anos setenta, até ser desarticulada por sucessivas operações das forças armadas mexicanas. O Exército Zapatista tem como inspiração a luta de Emiliano Zapata, cujas tropas derrubaram o governo autocrático de Porfírio Díaz durante a Revolução Mexicana. A maioria dos integrantes do movimento são indígenas. O movimento congrega diversas correntes de pensamento político da esquerda -zapatistas, anarquistas, anarcossindicalistas, socialistas libertários, comunistas, etc. O Exército Zapatista defende a revolução socialista e a superação do atual sistema político por um modelo de gestão autônoma e democrática do território mexicano.

O movimento permaneceu secreto durante sua primeira década de existência e fez sua revelação pública da maneira mais enfática possível. No dia 1º de janeiro de 1994 - na mesma data em que o Tratado de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) entrava em vigor, consolidando o avanço de uma agenda neoliberal nociva aos interesses dos trabalhadores mexicanos - o Exército Zapatista publicou a Primeira Declaração da Selva Lacandona. O documento era uma declaração de guerra ao governo mexicano, então presidido por Carlos Salinas de Gortari, em que o grupo afirmava não reconhecer a legitimidade dos poderes institucionais mexicanos e conclamava o povo a se sublevar e se juntar aos rebeldes para "restaurar a legalidade e estabilidade da Nação".

No mesmo dia, o Exército Zapatista iniciou um levante armado em Chiapas - o estado mais pobre e negligenciado do México, onde se concentra parte substancial da população indígena do país. O Levante de Chiapas durou doze dias. A revolta se iniciou com a tomada do município de San Cristóbal de las Casas pelos revolucionários, seguida pela ocupação de várias outras cidades (Ocosingo, Las Margaritas, Altamirano, Comitan, etc.).

O levante foi duramente reprimido pelas forças armadas e em menos de duas semanas o governo mexicano já havia reestabelecido o controle sobre as cidades ocupadas pelos rebeldes. Os guerrilheiros recuaram para as selvas, mas seguiram realizando ataques, ocupações, sabotagens e ações de resistência ao longo dos meses subsequentes. Os zapatistas também passaram a atrair atenção internacional e apoio doméstico às suas demandas - fenômeno visível, por exemplo, na grande passeata reunindo mais de 100 mil pessoas na Cidade do México, exigindo que o governo mexicano cessasse as hostilidades contra o grupo.

Pressionado, o governo mexicano iniciou negociações de cessar-fogo junto ao Subcomandante Marcos, porta-voz dos zapatistas. Após uma série de interrupções e desentendimentos, representantes do governo mexicano e dos rebeldes firmaram os Acordos de San Andrés Larráinzar em fevereiro de 1996, estabelecendo a criação de pequenas zonas autônomas temporárias controladas pelo Exército Zapatista em Chiapas. Os acordos, entretanto, não foram cumpridos, levando à estagnação do processo de pacificação. As tensões sociais entre grupos favoráveis e contrários às demandas dos zapatistas se intensificaram nos meses seguintes, resultando no Massacre de Acteal, em 1997, quando 45 indígenas apoiadores do Exército Zapatista foram chacinados por grupos paramilitares, com anuência do exército mexicano.

Os zapatistas retomaram então a luta armada, que seguiu inalterada até a eleição de Vicente Fox. Em sua campanha, Fox havia se comprometido a retomar os acordos de paz com o Exército Zapatista. Em 2004, o mandatário mexicano ordenou o fim a ocupação militar da comunidade de Cuxujal, em Ocosingo, um dos territórios autônomos que foram cedidos à gestão do Exército Zapatista. Em contrapartida, os zapatistas publicaram a Sexta Declaração da Selva Lacandona, onde anunciavam publicamente que renunciariam à luta armada e buscariam concretizar suas aspirações por meio da política institucional - um ato que dividiu as bases de apoio zapatistas, levando à criação de várias dissidências.

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