Manifestações de Junho de 2013 (I)


A análise crítica das jornadas de junho de 2013, dos protestos anti-Copa de 2014 e das manifestações subsequentes é condição indispensável para a compreensão do Brasil de hoje. É necessário superar idealizações e visões românticas, bem como o exercício pueril de buscar culpados, se quisermos compreender o que aconteceu com o país e buscar saídas.

Negligenciar a existência de um contexto marcado pela emergência dos BRICS, da possibilidade de criação de uma nova ordem como alternativa ao desenho do sistema econômico preconizado nos Acordos de Bretton Woods, o histórico de intervenções, guerras híbridas e manipulação da vontade popular através da operações psicológicas, financiamento de think tanks (que no Brasil ocorre desde que a CIA criou e financiou o Instituto Brasileiro de Ação Democrática e Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais nos anos 50 e 60) é simplificar ao extremo um mundo que é complexo demais pra caber numa historinha romântica de "um belo dia as pessoas acordaram com vontade de mudar o país".

Existem diversos processos históricos que explicam o Brasil de hoje. A dependência excessiva do PT em relação às alianças fisiológicas, a erosão do seu apoio popular, a politização do judiciário e sua parceria com a mídia para instrumentalizar a justiça a serviço de um projeto, a campanha de radicalização da direita brasileira, a emergência de think tanks liberais com financiamentos obscuros, tudo isso ajudou a traçar o caminho que nos levou até onde estamos. Mas apagar o papel das manifestações de 2013 e 2014 na construção desse processo é, sim, negacionismo. E defender a visão romantizada de 2013/2014 como uma insurreição popular apenas porque o PT ocupava o governo federal é desconsiderar que as consequências desse processo afetaram negativamente toda a esquerda - organizada politicamente ou não -, toda a classe trabalhadora e todo o país.

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