Manuel Dias de Abreu e a abreugrafia


O médico e cientista brasileiro Manuel Dias de Abreu demonstrando o funcionamento da abreugrafia. Rio de Janeiro, outubro de 1937. Inventada por Abreu em 1936, a abreugrafia foi um método inovador de produção de chapas radiográficas a baixo custo que permitiu a testagem em massa da população, ajudando a erradicar a epidemia mundial de tuberculose em meados do século XX.

Nascido em São Paulo em 4 de janeiro de 1892, Manuel Dias de Abreu foi um dos mais renomados médicos, cientistas e inventores do Brasil. Graduou-se em medicina no Rio de Janeiro em 1913, mudando-se em seguida para a França, onde passou a trabalhar no Hospital da Salpêtrière, em Paris. Foi nesse local que Abreu desenvolveu sua primeira invenção - um engenhoso dispositivo capaz de fotografar a mucosa gástrica. No ano seguinte, Abreu assumiu a chefia do Laboratório Central de Radiologia do Hôtel-Dieu e desenvolveu uma nova técnica de densiometria que permitia mensurar diferentes densidades radiográficas no tórax.

Abreu retornou ao Brasil em 1922, instalando-se no Rio de Janeiro. A então capital federal enfrentava uma grave epidemia de tuberculose. Convicto quanto à necessidade de realizar diagnóstico em massa da população para efetivo controle da epidemia, Abreu fundou o Dispensário de Tuberculose do Rio de Janeiro, o primeiro serviço de radiologia para o diagnóstico de tuberculose do Brasil. Paralelamente, Abreu começou a trabalhar na criação de seu próprio método de produção de chapas radiográficas dos pulmões, visando facilitar o diagnóstico, tratamento e profilaxia da tuberculose e de outras doenças pulmonares. Em 1936, Abreu apresentou sua invenção, que seria posteriormente batizada de abreugrafia em sua homenagem.

A abreugrafia diferenciava-se da radiografia convencional por permitir a impressão direta dos feixes de raios X sobre o filme radiológico, criando uma espécie de fotografia da imagem que aparece na radioscopia. Dessa forma, o método permitia a produção de radiografias a um custo muito menor e com mais rapidez. Os equipamentos abreugráficos foram confeccionados pela Casa Lohner, uma empresa do Rio de Janeiro. Abreu renunciou à patente que lhe garantiria lucros sobre as vendas dos aparelhos, pois desejava que o procedimento diagnóstico fosse disponibilizado a baixo custo para a maior quantidade possível de pessoas.

A invenção de Abreu permitiu a criação dos recenseamentos torácicos que começaram a ser realizados no fim da década de 1930 em várias cidades do Brasil. Os exames em massa da população dos centros urbanos brasileiros foi crucial para debelar a epidemia de tuberculose que afetava o país em meados do século XX. Ainda nos anos trinta, o método passou a ser utilizado nos demais países da América do Sul e logo foi adotado também pelos Estados Unidos e por países da Europa, espalhando-se em seguida por todo o planeta.

Popularizada como método de diagnóstico de massas em função do baixo custo, velocidade e facilidade de manuseio, a abreugrafia ajudou a salvar milhões de vidas, debelando surtos e epidemias de tuberculose em escala global. Os aparelhos abreugráficos podiam ser vistos em quase todas as grandes metrópoles em meados do século XX. Também eram acoplados a equipamentos móveis, utilizados para realizar exames em massa em escolas, repartições públicas e empresas.

Com o avanço da ciência e da medicina diagnóstica, vários métodos mais efetivos para exames torácicos foram inventados a partir da segunda metade do século XX. Apesar disso, a abreugrafia segue até hoje sendo utilizada, sobretudo em países em desenvolvimento. Treze nações desenvolvidas ainda fazem uso da abreugrafia como ferramenta de triagem - incluindo Itália, Suíça, Noruega, Holanda, Japão e Reino Unido. A técnica é conhecida por diferentes nomes ao redor do mundo: nos Estados Unidos e em Portugal é chamada de minirradiografia; na Itália é conhecida como schermografia; na Alemanha, roentgenfotografia; na França, fotofluorografia; na Espanha, fotorradioscopia.

Manuel Dias de Abreu foi indicado cinco vezes para o Prêmio Nobel de Medicina. Seus trabalhos e pesquisas ajudaram não apenas a controlar a tuberculose, mas também forneceram base para importantes avanços na medicina diagnóstica. Foi condecorado com o título de Cavaleiro da Legião de Honra da França e agraciado com a Medalha de Ouro do Médico do Ano, fornecido em 1950 pelo Colégio Americano de Médicos Torácicos. No Brasil, sua data de nascimento, 4 de janeiro, tornou-se o Dia Nacional da Abreugrafia.

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