Marcelo Crivella


Fotografias da ficha policial de Marcelo Crivella, bispo da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), tiradas por ocasião de sua prisão. Rio de Janeiro, 18 de janeiro de 1990.

Crivella foi preso pela primeira vez enquanto atuava como engenheiro responsável pela construção de um templo da Igreja Universal, no bairro de Laranjeiras. A Universal havia autorizado o vigia Nilton Linhares a morar com sua família em um casebre no terreno onde o templo seria erguido, até que a construção começasse. Quando a Universal quis o terreno de volta, Linhares reivindicou direito de posse e se recusou a sair. Crivella então arrombou o portão com um pé de cabra e invadiu o terreno, acompanhado por 10 seguranças armados e ameaçou o vigia, sua esposa e suas duas filhas.

Linhares acionou a polícia e Crivella foi levado para detenção por agentes da 9ª Delegacia de Polícia, no bairro do Catete. O inquérito da prisão de Crivella foi subtraído dos arquivos da Polícia Civil e ficou desaparecido por 26 anos, até ser localizado em poder do próprio bispo, após uma investigação jornalística conduzida pela revista Veja. Embora a subtração de documentos seja crime, Crivella não foi processado.

Crivella é sobrinho do bilionário Edir Macedo - fundador e líder da Igreja Universal e proprietário do Grupo Record e da Record TV. A Universal é o maior grupo neopentecostal brasileiro, com mais de 8 milhões de fiéis no Brasil e outros 6 milhões no exterior. É também a organização religiosa mais controversa do país, sendo acusada de diversas atividades ilegais, como charlatanismo, estelionato, lesão à crendice popular e lavagem de dinheiro, além de práticas discriminatórias contra minorias e intolerância religiosa. A igreja é alvo de investigações criminais nos Estados Unidos e no Reino Unido. Foi proibida de atuar em Zâmbia e em Madagascar, teve templos fechados em Angola e São Tomé e Príncipe e é acusada de comandar uma rede ilegal de adoções em Portugal. A Universal arrecada anualmente mais de 1,4 bilhão de reais. Como é, em tese, uma instituição "sem fins lucrativos", possui imunidade fiscal ao recolhimento de imposto de renda. Suas arrecadações, portanto, não são tributadas.

Crivella atua na Igreja Universal desde 1977. Já foi missionário, pastor e bispo, escreveu livros e lançou vários CDs. Em 1999, publicou a obra "Evangelizando a África", em que descreve as religiões nativas africanas como "diabólicas", classifica a homossexualidade como "conduta maligna" e "terrível mal" e chama homossexuais de "frutos de abortos mal sucedidos". No final da década de 1990, Crivella iniciou a construção do projeto social "Fazenda Canaã", em um terreno de 500 hectares no interior da Bahia, acusado de ser financiado com recursos não declarados de origem ilícita por um ex-bispo da Universal, Alfredo Paulo Filho.

Filiado ao Partido Liberal (PL), Crivella ingressou na política em 2002, quando foi eleito senador pelo Rio de Janeiro. Após o envolvimento da sigla no escândalo do Mensalão, fundou o Partido Republicano Brasileiro (PRB), pelo qual se reelegeu senador em 2010. Em 2012, durante o governo de Dilma Rousseff, assumiu o cargo de Ministro da Pesca e da Aquicultura. Pouco tempo depois, foi acusado de liderar um esquema de corrupção e desvio de verbas destinadas a serviços de instalação e substituição de vidros e películas em veículos governamentais, tendo seus bens bloqueados por ordem da Justiça Federal. Foi demitido do cargo de ministro em 2014.

Em 2016, já filiado ao Republicanos, Crivella venceu a eleição para a prefeitura do Rio de Janeiro. Seu mandato foi marcado por contingenciamento de verbas, sucateamento dos serviços públicos e cortes de investimentos, que acabaram por causar o colapso do sistema municipal de saúde, deixando hospitais sem médicos, leitos e remédios. Crivella foi alvo de denúncia pelo Ministério Público Eleitoral por abuso de poder econômico, tendo sido condenado ao pagamento de multa e declarado inelegível por seis anos. O processo de cassação, entretanto, foi rejeitado, e uma liminar lhe garantiu o direito de disputar a reeleição em 2020. Apesar do apoio do presidente Jair Bolsonaro, foi derrotado em segundo turno por Eduardo Paes.

O bispo é investigado desde 2018 pela Operação Lava Jato, que identificou um esquema de movimentação de recursos ilícitos no Brasil e no exterior. No curso das investigações, o doleiro Sérgio Mizrahy afirmou em delação premiada que havia um "balcão de negócios" dentro da prefeitura do Rio de Janeiro, comandado pelo empresário Rafael Alves, irmão do presidente da Riotur, Marcelo Alves. Em setembro do mesmo ano, foram cumpridos 22 mandados de busca e apreensão em diversas residências particulares e prédios públicos - incluindo o Palácio da Cidade, sede da prefeitura do Rio de Janeiro, e a residência de Crivella, que teve seu celular apreendido. Em decorrência dessas investigações, Crivella foi novamente preso em 22 de dezembro de 2020, acusado de ser líder de uma organização criminosa que teria arrecadado pelo menos 50 milhões de reais em conluio com empresários corruptos.

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