Protestos de Hong Kong
Imagens dos protestos de Hong Kong no biênio 2019/2020, caracterizados pela presença massiva de bandeiras dos Estados Unidos, apelos às autoridades estadunidenses e referências à indústria de entretenimento de massa do Ocidente.
Desde março de 2019, Hong Kong enfrenta uma onda de protestos antigovernamentais. O estopim das manifestações foi um projeto de lei apresentado pelo governo de Hong Kong que permitiria a detenção e extradição de locais para países com os quais o território ainda não possui acordos de extradição, tais como a China continental e Taiwan. Os manifestantes alegam que o projeto de lei fere a autonomia da região. As pautas dos manifestantes foram sendo gradualmente ampliadas, passando a incluir exigências de reforma política (em especial a instituição de sufrágio universal para as eleições do conselho legislativo), a renúncia da chefe do executivo de Hong Kong, Carrie Lam, críticas ao governo chinês e reivindicações genéricas de "democracia" e "liberdades civis".
Em meados de 2019, o governo de Hong Kong suspendeu a tramitação do projeto de lei, mas os protestos continuaram ocorrendo, agregando cada vez mais pautas. Ações de repressão policial ajudaram a inflar os protestos e as tensões atingiram o ápice entre os meses de junho e julho de 2019, quando os manifestantes invadiram a sede do Conselho Legislativo e várias prisões foram efetuadas. Em repúdio à apresentação de um outro projeto de lei que visava coibir o uso de máscaras em manifestações, novos protestos foram organizados, levando a conflitos com a polícia no campus da Universidade Chinesa e da Universidade Politécnica. A vitória de representantes favoráveis aos protestos nas eleições do Conselho Legislativo em novembro de 2019 e a pandemia de COVID-19 em 2020 fizeram com que os protestos arrefecessem, mas a apresentação de um novo projeto de lei de segurança nacional em 2020 fez com que os manifestantes voltassem às ruas.
Representantes do governo chinês e da administração honconguesa alegam que os protestos estão sendo financiados e insuflados por agentes externos numa operação de desestabilização do país. O chefe de segurança de Hong Kong, John Lee Ka-chiu, afirmou que Taiwan e Estados Unidos estão “desempenhando um papel fundamental na evolução do movimento antigovernamental” e que "protestos nessa escala precisam de recursos, dinheiro e planejamento". A chefe do poder executivo em Hong Kong, Carrie Lam, ecoou as alegações e emendou críticas ao tom sinofóbico, aos exageros e à desinformação na cobertura dos protestos pela mídia ocidental.
Em abril de 2020, o governo chinês anunciou a prisão de Lee Henley Hu Xiang, acusado de receber fundos de grupos políticos organizados dos Estados Unidos para financiar os protestos. Pouco tempo depois, três taiwaneses foram presos por auxiliar órgãos estrangeiros a incitar protestos em Hong Kong. Citando "preocupação com a democracia" e com as "liberdades civis", o governo dos Estados Unidos aprovou em novembro de 2019 a "Lei de Direitos Humanos e Democracia de Hong Kong", que autoriza a aplicação de sanções econômicas contra a China, embasadas por supostas razões humanitárias. A lei foi considerada uma tentativa explícita e oportunista de interferência nos assuntos internos de outra nação e recebeu fortes críticas do governo chinês e de parte da comunidade internacional.
Os protestos em Hong Kong parecem um revival das manifestações de 2014, apelidada de "Revolução dos Guarda-Chuvas", quando mais de 100 mil honcongueses saíram às ruas exigindo reforma política e mais autonomia para o território. Representantes do governo chinês e alguns analistas políticos classificaram a "Revolução dos Guarda-Chuvas" como uma "revolução colorida", isso é, uma operação política apoiada por agentes externos com o propósito deliberado de desestabilizar o governo chinês. Diplomatas chineses apontaram a participação de organizações e agências dos Estados Unidos, Reino Unido e Taiwan na organização e financiamento dos protestos - nomeadamente o encontro de representantes da agência estadunidense Fundação Nacional para a Democracia com líderes das manifestações.
Tomada pelos britânicos após a Primeira Guerra do Ópio, Hong Kong ficou sob poder do Reino Unido durante 156 anos, até ser devolvida para a China em 1997. O acordo de reunificação previa a instalação de um governo semiautônomo na antiga colônia britânica, preservando seu modelo de organização econômica sob a égide do princípio de "um país, dois sistemas". O processo de reunificação foi relativamente pacífico, mas as relações entre China e Hong Kong tem se deteriorado na última década, de forma paralela e diretamente proporcional à escalada da disputa política e dos atritos diplomáticos e comerciais entre Estados Unidos e China.
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