Sanatórios soviéticos: o Palácio de Livadia
Trabalhadores soviéticos relaxando, se exercitando e almoçando no Palácio de Livadia, em Yalta, antiga residência de verão dos czares que foi convertida em um resort para camponeses após a Revolução de 1917. Crimeia, União Soviética, c. 1925.
Após triunfo da Revolução de Outubro de 1917 e a subsequente criação do primeiro Estado socialista da história, o governo revolucionário decretou a nacionalização de todos os palácios que pertenciam à família imperial. Na década de vinte, o governo soviético ampliou o processo de desapropriação, passando a confiscar palácios, palacetes, mansões e solares pertencentes à burguesia e à nobreza russa. Em alguns casos a desapropriação nem era necessária, pois parte das mansões foram abandonadas pelos proprietários, que fugiram do país para escapar da revolução bolchevique.
No fim do período czarista, a Rússia contava com cerca de 40.000 mansões e dezenas de palácios. Após confiscadas, essas propriedades foram transformadas em edificações de uso público, convertendo-se em hospitais, sanatórios, universidades, escolas, museus, casas de cultura, agências governamentais, alojamentos, etc. Entre as propriedades confiscadas, estava o luxuoso Palácio de Livadia.
Localizado à beira-mar, em Yalta, na Crimeia, o Palácio de Livadia era uma residência de verão do czar Nicolau II e sua família. O palácio foi projetado em estilo neorrenascentista por Nikolay Krasnov e inaugurado em 1911, destacando-se pela suntuosidade e refinamento. O edifício contava com 116 quartos e era dotado de elementos decorativos esculpidos em mármore de Carrara, pedra jaspe e outros materiais nobres, além de um vasto jardim. Após a desapropriação, o palácio passou por uma série de reformas para adaptá-lo ao uso público.
Em 28 de junho de 1925, o Palácio de Livadia foi reaberto pelo governo soviético como o primeiro balneário camponês do país. Os hóspedes desembarcavam na estação ferroviária da cidade e eram então transportados em veículos governamentais até o palácio. O choque cultural era imenso. Os trabalhadores, geralmente pessoas humildes oriundas do campo, não conseguiam acreditar que tudo aquilo fosse destinado ao seu usufruto. Já na recepção, recebiam roupas e sapatos novos. Em seguida, eram levados aos seus confortáveis aposentos, dotados de camas forradas com lençóis de linho branco, e eram instruídos sobre os horários e a rotina do resort.
Diariamente, eram servidas cinco refeições: um café da manhã simples, um segundo café da manhã reforçado, o almoço, o chá da tarde e o jantar. A comida era farta e de boa qualidade - cereais, carnes, ovos, frutas, legumes, pão, suco e leite - com direito a bolos e doces nas sobremesas. Durante o dia, os trabalhadores podiam optar pelas atividades recreativas, culturais e de lazer que preferissem. Podiam jogar xadrez nos salões de jogos ou bilhar na antiga sala inglesa do czar. Podiam ir à praia ou relaxar lendo um livro e tomando sol nos jardins do palácio. Se preferissem, podiam apreciar um concerto na sala de música, participar de uma roda de leitura na biblioteca, praticar ginástica ou até mesmo receber uma massagem.
A única atividade obrigatória para os trabalhadores ainda iletrados era participar dos cursos de alfabetização. Uma das atrações favoritas dos trabalhadores era a visita ao museu do palácio, onde eram expostos os objetos de uso pessoal dos czares, com as etiquetas indicando os preços de cada item. Os trabalhadores se impressionavam com o luxo em que vivia a família imperial e se sentiam orgulhosos com o fato de que agora poderiam usufruir daquela riqueza.
O palácio abrigava até 400 trabalhadores simultaneamente por um período de até 6 semanas de hospedagem. Além dos camponeses em período de férias, o local reservava 250 vagas para pacientes encaminhados por médicos, necessitados de repouso e reabilitação. O resort era equipado com ambulatório e enfermaria, dedicados o tratamento de pessoas com doenças reumáticas e cardíacas, anemia, neurastenia e tuberculose.
O Palácio de Livadia se transformou em um modelo para as casas de repouso, sanatórios e resorts estatais inaugurados pelo governo soviético nas décadas seguintes. Tornou-se também um símbolo dos esforços empreendidos pelo governo revolucionário na construção do socialismo, na superação dos privilégios de classe e na priorização do bem-estar do trabalhador.
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