Santos Dumont (I)
O inventor e aeronauta brasileiro Santos Dumont voando a bordo do 14-Bis a uma altura de seis metros. Campo de Bagatelle, Paris, 1906. Alcunhado "Pai da Aviação", Santos Dumont foi o pioneiro dos voos de aeronaves mais leves e mais pesadas do que o ar. Em 1900, tornou-se a primeira pessoa a projetar, construir e voar com um dirigível. E em 1906, foi o primeiro aeronauta a decolar a bordo de um avião impulsionado por um motor a gasolina em uma demonstração pública. Seus voos foram homologados pelo Aeroclube da França e pela Federação Aeronáutica Internacional como os primeiros de uma aeronave motorizada mais pesada do que o ar.
Alberto Santos Dumont nasceu em Palmira, interior de Minas Gerais, em 20 de julho de 1873. Ainda adolescente, mudou-se com a família para São Paulo, onde, aos 15 anos, ficou fascinado ao assistir um aeronauta voar em um balão esférico e descer de paraquedas. Alguns anos depois iniciou seus estudos em mecânica, realizando pesquisas com o motor de combustão interna. Em 1892, mudou-se para a França, onde se dedicou aos estudos da física, da mecânica e da eletricidade.
Dotado de impressionante inteligência e grande curiosidade para assuntos científicos e mecânicos, começou a trabalhar no desenvolvimento de aeróstatos - balões dirigíveis mais leves do que o ar. Em 1898, Santos Dumont projetou seu primeiro dirigível. Seguiram-se outros 5 protótipos, até a construção do dirigível N.º 6, decorado com a bandeira do Brasil, com o qual Santos Dumont conquistou em 1901 o Prêmio Deutsch - destinado ao aeronauta que conseguisse, em menos de 30 minutos, elevar-se do solo e efetuar o percurso de Saint-Cloud até a Torre Eiffel, contorná-la e então voltar ao ponto de partida. A conquista do Prêmio Deutsch transformou Santos Dumont em uma das pessoas mais famosas do mundo na passagem do século. O inventor seguiu aperfeiçoando o dirigível, até chegar à 14ª versão, que já era um misto de avião e balão.
Após a invenção do dirigível, Santos Dumont desenvolveu um aeromodelo de planador provido de asas fixas, cauda cruciforme e um peso móvel para ajustar o centro de gravidade. Em novembro de 1903, o inventor obteve da Câmara Municipal de Ribeirão Preto uma subvenção de um conto de réis para que realizasse suas pesquisas em prol do desenvolvimento de uma aeronave motorizada mais pesada do que o ar. Começou então a trabalhar no projeto do 14-bis ("Oiseau de Proie") - uma aeronave movida a gasolina, dotada de um motor de explosão Antoinette, de 24 c.v. A aeronave pesava 205 quilogramas, possuía 4 metros de altura, 10 metros de comprimento e 12 metros de envergadura.
No dia 23 de outubro de 1906, Santos Dumont apresentou-se diante de uma multidão no Campo de Bagatelle, em Paris, com uma versão aprimorada do 14-Bis ("Oiseau de Proie II") para disputar o Prêmio Archdeacon, que prometia conceder 3.000 francos para quem voasse por 25 metros. O 14-Bis cumpriu mais do que o dobro do desafio estipulado - voou por cerca de 60 metros a uma altura média de dois a três metros do solo. Era a primeira demonstração pública na história de um avião capaz de decolar por conta própria, sem auxílio de rampas, catapultas ou outros artifícios. A aeronave também conseguia se manter no ar por meios próprios, sem necessitar sequer do aproveitamento de ventos contrários. Entusiasmada, a multidão carregou o piloto nos ombros e os juízes ficaram tão surpresos que se esqueceram de cronometrar o voo.
Menos de um mês depois, em 12 de novembro de 1906, Santos Dumont retornou ao Campo de Bagatelle, com uma nova versão do 14-Bis - o "Oiseau de Proie III", dessa vez para disputar o Prêmio do Aeroclube da França. O prêmio concederia 1.500 francos a quem voasse por pelo menos 100 metros. Novamente, Santos Dumont conseguiu cumprir mais do que o dobro do desafio estipulado, voando por 220 metros, vencendo a disputa. O voo de Santos Dumont foi homologado pelo Aeroclube da França como o primeiro voo de um aparelho mais pesado do que o ar. A Federação Aeronáutica Internacional o homologou como a primeira atividade esportiva da aviação. Também foi o primeiro voo ser registrado em vídeo, pela companhia cinematográfica Pathé.
Santos Dumont continuou aperfeiçoando e lançando novas invenções. Construiu o biplano N-15 e projetou o N-16, misto de dirigível e avião. Também criou o N-18, um deslizador aquático. Em 1907, Santos Dumont lançou o Demoiselle, um pequeno avião de apenas 56 quilos, considerado o primeiro ultraleve da história, capaz de voar a 90 quilômetros por hora. Como seu objetivo era popularizar a aviação, o inventor abriu mão da patente do Demoiselle e disponibilizou os planos a quaisquer interessados. Em consequência disso, ao menos 40 unidades foram produzidas por várias oficinas do mundo.
Santos Dumont desencantou-se com a aeronáutica após perceber o potencial de uso bélico dos aviões. Apenas um ano após o vôo com o 14-Bis, os irmãos Wilbur e Orville Wright, donos da patente da aeronave Flyer I, assinaram contratos com as Forças Armadas dos Estados Unidos para produzir aviões para uso militar. O inventor caiu em depressão após tomar ciência sobre os combates e bombardeios aéreos na Primeira Guerra Mundial. Em 1915, durante o 11º Congresso Científico Pan-Americano, fez um discurso a favor do uso da aviação para integrar as nações. Em 1926, fez um apelo à Liga das Nações em favor do banimento do uso de aviões como armas de guerra e ofereceu dez mil francos a quem escrevesse a melhor obra contra a utilização de aviões em combates. O inventor dedicou seus últimos anos ao estudo da astronomia. Debilitado pela esclerose múltipla, profundamente deprimido e tomado pela angústia ao ver os bombardeios aéreos da Revolução Constitucionalista, Santos Dumont se suicidaria em 23 de julho de 1932.
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